Boa parte dos filmes da indústria cinematográfica nos coloca diante de mulheres ou homens que perseguem seus objetivos de forma quase obstinada, ainda que tudo jogue contra eles. E nós, que assistimos esses longas-metragens, quase sempre saímos do cinema ou da frente da televisão com a sensação de que eles são verdadeiros heróis.
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Vivemos em um mundo que privilegia perseverar a qualquer custo diante das adversidades. Nada errado nisso, até porque a perseverança nos ajuda a construir resiliência, uma competência importante diante de uma vida em que praticamente temos de matar um leão por dia.
Nesse cenário, ficcional ou da realidade, desistir fica parecendo sinal de fracasso, de falta de força de vontade e de coragem, de corpo mole, de pouca tenacidade. Só que não é. Desistir, às vezes, é sinal de boa saúde mental.
A palavra desistir vem do latim desistere, que significa “renunciar a algo, não continuar, abrir mão de fazer alguma coisa”. Quando olhamos para o que esse verbo quer dizer, fica mais fácil entendermos como ele se liga à boa saúde mental, porque reconsiderar algo a que estamos ligados ou fazendo e que está nos afetando negativamente de alguma forma é um dos maiores sinais de cuidado que podemos ter conosco.
Pense em uma relação (que pode ser com o seu trabalho) e como, com o passar do tempo, podemos colocar o outro (que pode ser a empresa para a qual trabalhamos também) em primeiro lugar em detrimento do nosso bem-estar emocional. Pense em metas ou objetivos inatingíveis que por vezes idealizamos para as nossas vidas.
Agora pense em quanto isso pode nos estar deixando ansiosos, com dificuldade para dormir, com ataques de pânicos, com vontade de descontar no álcool ou de beber para esquecer, como pode estar nos deixando exaustos.
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Quando o corpo ou a mente dão sinais, é hora de dar um passo atrás e rever se vale a pena insistir. Coloque numa balança os prós e os contras de uma decisão como essa, mas lembre-se: em toda renúncia perdemos algo, mas também ganhamos algo. E esse algo pode ser a nossa saúde mental.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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