Muita gente me pergunta como eu consigo dar conta de tantas atribuições diferentes no meu dia: eu atendo pacientes, supervisiono a equipe médica que atende em minha clínica, tenho dois cargos executivos em instituições diferentes e também em duas empresas que montei com sócias distintas. Tenho uma posição de destaque em duas universidades. Enfim, de fato, eu visto vários chapéus diferentes.
Eu não sou um Super-Homem. Eu simplesmente delego muita coisa às equipes que fazem parte de cada uma dessas organizações, inclusive na minha clínica.
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Em cada uma dessas canoas nas quais eu navego, há uma pessoa ou algumas pessoas que eu soube identificar terem uma personalidade afim com a minha, além enorme competência para gestão. Penso que isso seja importante para que possamos reduzir as possibilidades de atrito e a navegação correr fluida.
É claro que delegar exige do líder convicção naquela pessoa ou naquele time que recebeu a tarefa de tocar o barco. Mas é também um estímulo a nos desafiarmos a promover uma cultura de confiança e senso de colaboração mútua, além de ajudar a capacitar pessoas e times.
Há um bom conjunto de dados que mostra que quando a experiência do colaborador no ambiente de trabalho é positiva, quando ele se sente valorizado e reconhecido, o resultado disso é menor rotatividade e maior produtividade. Ao acreditar na competência de uma pessoa ou de uma equipe, o líder terá como retorno mais engajamento e mais eficiência.
Porém, delegar exige do líder desapegar-se daquela imagem antiga que tínhamos dos chefes de “total controle sobre tudo e todos”. Ao contrário, demanda dele a promoção de autonomia de suas equipes.
Demanda também que ele abra mão do microgerenciamento (querer saber de tudo o tempo todo) e adote um novo modelo de gestão, baseado no gerenciamento macro, isto é, aquele que foca no quadro geral ao invés de nos pequenos detalhes.
Delegar não apenas ajuda a construir um ambiente de trabalho em que as equipes se sentem reconhecidas, algo que é essencial para a saúde mental dos empregados, mas também permite que o líder tenha mais tempo para se concentrar em atividades estratégicas e pensar em soluções para questões organizacionais que se apresentam.
Sabemos que muitos líderes com o perfil de concentradores de funções acabam por trabalhar em excesso, aumentando, também para si, as chances de esgotamento ou de outras questões de saúde mental, como ansiedade.
Por fim, é fundamental definir as suas expectativas para a execução daquela tarefa ou projeto. Estabeleça as metas e os resultados que são esperados. Isso não só vai contribuir para que não haja mal-entendidos ao final, como servirá como uma bússola para a sua equipe.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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