Tenho um paciente superqualificado profissionalmente e referência em sua área de atuação. Entretanto, ao chegar ao meu consultório, de posse de vários exames – quase todos eles com índices fora do que consideramos normais -, simplesmente negava que a sua saúde física não estivesse em seu melhor momento. Além disso, apresentava ansiedade e problemas para dormir. Tampouco achava que isso era problema. Tudo está muito bem, ele me dizia. Eis que perguntei a ele: por que, então, você busca a minha ajuda, a de um psiquiatra?
Este exemplo ajuda a ilustrar como é complicado para o homem admitir algum problema em sua saúde física ou mental (eu diria, especialmente a mental). A negação, como a demonstrada pelo meu paciente, é uma entre tantas defesas usadas por nós quando, sabendo que as coisas no campo da saúde não estão bem, somos colocados em xeque pelo nosso médico, familiares ou amigos.
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Some-se a isso o estereótipo que ainda está associado à ideia do que é ser homem. A imagem do masculino sempre esteve ligada à força, autossuficiência, resistência e, mesmo no século 21, à capacidade de contribuir economicamente (senão sustentar integralmente) para a sua família. Procurar um médico ou um especialista porque ele não se sente bem vai na contramão disso tudo. Muitos sentem-se fracos, com medo de como serão julgados, e essa ideia é insuportável.
Não por acaso, uma pesquisa do Centro de Referência em Saúde do Homem de São Paulo aponta que 7 em cada 10 homens que procuram um médico foram influenciados por suas mulheres ou filhos, e dados da plataforma de psicologia Televita nos mostram que são apenas cerca de 3 em cada 10 que buscam a ajuda de uma terapia.
Por que temos de falar abertamente sobre a saúde mental dos homens?
Porque eles são bem menos diagnosticados com depressão do que as mulheres, embora apresentem taxas de suicídio muito mais altas do que a delas. Porque os sinais de depressão neles podem se confundir com agressividade, contribuindo para que muitos médicos (até eles) percam os sinais de que algo não vai bem.
Porque homens tendem a usar substâncias químicas (álcool e drogas) como uma espécie de remédio para lidar com os seus problemas. Porque índices de comportamento violento são mais altos neles, trazendo como decorrência disso uma expectativa de vida menor.
Minha mensagem neste mês voltado à saúde masculina, que tem início em Novembro, é simples: precisamos trazer o tema saúde mental dos homens a público, falar abertamente, sem preconceitos, se quisermos que eles possam aproveitar a vida de forma mais plena e mais feliz.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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