Aproveito o ensejo do novíssimo estudo que propõe uma nova definição para a obesidade e que está dando o que falar para tratar de um assunto que muitas vezes é relegado a segundo plano e que, para nós, médicos que cuidamos da saúde mental, é importantíssimo: como o excesso de gordura no corpo afeta a nossa saúde mental.
Eu falo de excedente de gordura corporal e não mais de peso nem índice de massa corporal (o IMC, ou seja, o seu peso dividido pela sua altura multiplicada pela sua altura), referência proposta pela Organização mundial de Saúde, porque o que os pesquisadores propuseram, e é que o importa mesmo, é o tanto de gordura que você carrega no corpo e onde ela está concentrada (no abdome é o local mais perigoso em termos de saúde).
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Saúde física e saúde mental são duas faces da mesa moeda. Desde que não podemos separar corpo e mente, se não existe uma delas, a outra não existe.
Começo pelos males do corpo causados pela obesidade. Ela é um dos principais fatores de risco para o aumento da pressão arterial e do colesterol, que podem levar a acidentes cardiovasculares graves, como AVC e infarto.
Obesidade é também fator de risco para diabetes tipo 2, além de aumentarem as chances de o obeso ter problemas articulares e ósseos, gordura no fígado (fator de risco para cirrose) e várias formas de câncer. Essas não são as únicas complicações causadas pelo excesso de gordura corporal, mas estão entre as mais importantes.
A obesidade também afeta enormemente a saúde mental. Vários estudos constataram haver uma associação entre ela e depressão, especialmente entre obesos extremos.
Excedente de gordura afeta o humor e a qualidade do sono, um dos principais termômetros da nossa saúde mental. Está ligado ainda à visão negativa a respeito da sua imagem corporal e à baixa autoestima. Algumas pessoas simplesmente não conseguem reconhecer suas competências por causa de suas batalhas contra o peso e a gordura.
O impacto negativo sobre a autoestima, somado à insatisfação com a imagem corporal, gera um efeito também negativo sobre a qualidade de vida. Eu sempre gosto de relembrar: a boa ou a má qualidade de vida é a diferença entre a boa e a má saúde mental.
Como a gente muda essa realidade? Entendendo que trabalhar em prol de nós mesmos pela perda de gordura corporal pode nos levar a viver mais e melhor.
Quando eu falo de livrar-se de gordura do corpo, eu falo em tentar chegar ao mais próximo possível dos índices que tirarão você do risco de ter alguma questão mais importante de saúde e não de emagrecer para ser como algum dos modelos que você admira, algo que na maioria das vezes é inalcançável.
Significa rever os hábitos alimentares. Não é só analisar o que você está colocando no prato, mas também de que forma você está se alimentando. Ou seja: será que você come com consciência, devagar, ou mal olha o que está colocando para dentro do corpo?
Nem sempre é possível fazer esse check up alimentar sozinhos. Por vezes, é preciso da ajuda de um nutricionista e de um terapeuta, que vai nos auxiliar a enxergar o que mais estamos comendo junto com a comida. Será frustração? Ressentimento? Raiva?
Não há saúde sem saúde mental e não há saúde mental sem saúde. Buscar reduzir a sua gordura corporal, nem que seja um pouquinho, e num projeto de longo prazo, já trará a você enormes benefícios.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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