O dólar fechou em leve alta hoje (31) ante o real, mas disparou em março e encerrou os três primeiros meses de 2020 com a maior valorização trimestral em 18 anos, fruto da escalada dos receios econômicos decorrentes da pandemia do coronavírus.
Esse movimento refletiu ampla procura pela moeda norte-americana em todo o mundo, com empresas e instituições financeiras buscando manter o ativo em carteira diante do temor de fechamento dos canais globais de crédito à medida que a economia mundial mergulha em uma profunda recessão.
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Para driblar a escassez da divisa, o Fed anunciou trilhões de dólares em medidas de suporte à liquidez. Paralelamente, os Estados Unidos aprovaram um pacote histórico de US$ 2,2 trilhões em ajuda a empresas e trabalhadores. O BC brasileiro também anunciou ações para ajudar a economia.
Mas o dólar segue forte. Para analistas, a perspectiva de recessão global e no Brasil mina chances substanciais de um alívio, ainda que de curto prazo, no câmbio.
“A moeda [o real] tende a se fortalecer quando a economia cresce. E dificilmente vamos ver o Brasil crescer neste ano”, disse William Castro, estrategista-chefe da Avenue Securities, em Miami.
Uma economia mais vibrante atrai investimentos estrangeiros para o setor produtivo e recursos para portfólio, o que amplia a oferta de dólar e tende a baixar o preço da moeda.
Mas o mercado espera que o PIB do Brasil retraia 0,48% em 2020, contra expectativa anterior de crescimento de 1,48%, devido aos efeitos da pandemia.
Para Castro, somam-se a isso questões como a situação fiscal brasileira, o juro baixo (que oferece menor retorno ao investidor que abre mão de investir em ativos em dólar) e persistentes ruídos políticos locais.
Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, disse que em seu cenário-base o dólar volta a R$ 4,70 no fim do ano, considerando acomodação dos problemas globais pela Covid-19.
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“Mas, num cenário alternativo, com as infecções no Brasil aumentando junto com o dano econômico local enquanto o mundo começa a inverter essa curva, então acho que estaríamos falando de dólar a R$ 6”, afirmou.
Essa cotação implicaria valorização de 15,5% ante o fechamento desta terça. É menos que os mais de 29% de alta que a moeda norte-americana registrou no primeiro trimestre, que iniciou em torno de R$ 4 e encerrou perto de R$ 5,20.
A pressão cambial forçou o Banco Central a intervir no mercado por meio tanto de venda de dólar à vista quanto por linhas de moeda e swaps cambiais. A posição cambial líquida do BC caiu quase US$ 15 bilhões neste mês de março sobre fevereiro (considerando dados do último dia 20), a maior queda mensal desde junho de 2018 (US$ 37 bilhões).
A posição cambial líquida é composta pelas reservas cambiais menos estoque no mercado de instrumentos de atuação cambial. Ou seja, a queda neste mês dá ideia do maior grau de intervenção da autoridade monetária no câmbio.
“Ainda assim, acho que o BC poderia ter sido mais agressivo em alguns momentos”, afirmou Castro, da Avenue Securities, para quem inclusive nesta terça-feira a autarquia poderia ter atuado com mais força.
O BC vendeu US$ 755 milhões em moeda à vista em um único leilão no pregão de hoje. A cotação terminou longe das mínimas do dia.
O dólar interbancário encerrou esta terça com ganho de 0,25%, a R$ 5,1944 na venda, na segunda cotação de fechamento mais alta da história. Na máxima do dia, foi a R$ 5,2156, enquanto caiu a R$ 5,1698 na mínima.
Em março, a moeda saltou 15,92%, maior valorização mensal desde setembro de 2011 (+18,15%) e mais forte para o mês desde pelo menos 2002.
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No trimestre, a cotação disparou 29,44%, mais forte apreciação para um trimestre calendário desde os três meses findos em setembro de 2002 (+33,16%).
Na B3, o contrato de dólar futuro mais negociado tinha alta de 0,31% nesta terça, a R$ 5,2190, às 17h40.
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