Quando pensamos no que faz um indivíduo saudável, tendemos a nos concentrar na saúde física — comer alimentos saudáveis, fazer exercícios regularmente e evitar maus hábitos, como fumar. Infelizmente, essa noção ignora o fato de que mesmo os indivíduos mais aptos fisicamente podem sofrer de problemas relacionados à saúde mental. O Dia Mundial da Saúde Mental é celebrado em 10 de outubro. Já passou a hora, portanto, de discutirmos neste ano o que líderes empresariais e empreendedores estão fazendo para cuidar da própria saúde mental e da saúde dos seus funcionários.
LEIA MAIS: Tudo que os profissionais precisam saber sobre saúde mental
A saúde mental é importante por inúmeras razões. Uma delas, a conexão com a própria saúde física. No entanto, por ser menos perceptível, é com frequência também mais ignorada. Um a cada cinco norte-americanos sofre de algum tipo de problema. Mais da metade, porém, não se trata. Há 10 anos, o Congresso reconheceu a questão e aprovou a Lei da Paridade de Saúde Mental e Equidade de Dependência, com o objetivo de tornar a terapia para a saúde mental e o tratamento do abuso de substâncias tão acessíveis quanto os cuidados com outras condições médicas. Ainda assim, um estudo da Milliman, empresa de consultoria especializada em gestão de risco e cuidados para a saúde, descobriu no ano passado que os pacientes continuam a ter dificuldades para acessar tratamentos.
De acordo com uma pesquisa da Fundação Internacional de Planos de Benefícios aos Empregados (Foundation of Employee Benefit Plans, no original), mais de dois terços dos empregadores disseram que problemas de saúde mental e abuso de substâncias contribuíram para uma maior ociosidade e um maior número de atrasos nas empresas. Além disso, mais de 60% afirmaram que problemas mentais afetam a saúde física do colaborador, o desempenho geral do trabalho, o foco e a produtividade.
Você pode estar se perguntando: o que fazer para incentivar os funcionários a dar mais atenção à saúde mental? Para chegar a uma resposta, leve em consideração as atitudes dos empresários a seguir, que priorizam a saúde mental de suas equipes. Esta não é, afinal, apenas a coisa certa do ponto de vista ético, mas também quando consideramos que os funcionários são o maior trunfo de uma empresa.
1. Elizabeth Falconer, proprietária da Position by Design
Entre todos, Elizabeth Falconer provavelmente é a mais consciente quando se trata de saúde mental, já que seu pai foi chefe do setor de psiquiatria na Duke University, na Carolina do Norte (EUA) e ela mesma enfrentou momentos emocionais difíceis. Elizabeth Falconer sabe o quanto esses problemas atingem o trabalho. Depois de perder o pai, a mãe e as duas avós em um intervalo de 14 meses, ela se viu incapaz de trabalhar em tempo integral. Decidiu dar um tempo do trabalho e a decisão fez toda a diferença. “Eu precisava ter meu próprio tempo de descompressão para estar no meu jardim, com meus cavalos e com a família”, afirma. A partir daí, também entendeu que outros, no escritório, poderiam estar enfrentando momentos difíceis fora do trabalho. Como empregadora, pôde implementar uma política de folga. “Eu tento ser flexível, quando necessário, e fornecer tempo de inatividade em momentos de crise pessoal, sem penalizar os trabalhadores.”
2. Marco Scognamiglio, CEO global da RAPP Worldwide
Marco Scognamiglio entende que a saúde mental é um tabu que deve ser quebrado. “Não é possível obter impacto positivo sem antes ter coragem suficiente para reconhecer a existência desses problemas, não importa o quão sensível o assunto possa ser”, afirma. Em vez de fugir do tema, a RAPP Worldwide busca maneiras de capacitar seus funcionários a dar prioridade à saúde mental. “Todos são inscritos, sem nenhum custo, em um programa de assistência que fornece suporte, recursos e informações referentes a questões pessoais e trabalhistas, incluindo aconselhamento confidencial e suporte legal, por meio de conversas ou sessões gratuitas com um profissional”, explica Scognamiglio. Como alguns podem ficar desconfortáveis em se expor, a empresa fez com que a participação no programa fosse uma norma. Cuidar da saúde mental, aliás, não deveria ser uma decisão apenas em situações de depressão profunda. O aconselhamento pode ajudar a equilibrar trabalho e família e a combater o estresse de uma semana agitada.
VEJA TAMBÉM: Quais exercícios mais ajudam em nossa saúde mental
3. Sharon Soliday, CEO da Hello Foundation
A Hello Foundation tem quatro valores fundamentais que são prioridade em suas políticas: colocar as crianças em primeiro lugar, fazer doações generosas, praticar o equilíbrio entre vida profissional e pessoal e oferecer serviços de qualidade. A CEO Sharon Soliday diz que sua empresa oferece “horários flexíveis, trabalho remoto, licença ilimitada (incluindo a duração e a frequência da folga) e seguro, que inclui serviços de saúde mental e reembolso para cuidados alternativos”. Mais importante: as iniciativas se dão de cima para baixo. “Se eu precisar de uma pausa e não comunicar a ninguém, como a equipe se sentirá segura para priorizar suas necessidades?”, questiona. Mesmo as políticas mais bem intencionadas voltadas podem ser insuficientes se os funcionários não se sentirem à vontade para usufruí-las. Seja um exemplo para a equipe: você só precisa ser transparente quando decidir tirar um tempo para priorizar a saúde mental.
4. Joe Burton, criador e CEO da Whil
Joe Burton diz dar ênfase ao tempo de “recuperação” com seus funcionários. “Tratamos nossos profissionais como atletas. Se esperamos que as pessoas treinem para alcançar o sucesso, elas precisam também fazer pausas para reabilitar”, explica. Com o avanço da tecnologia, hoje muitos levam o trabalho aonde quer que vão. Eles podem sair do escritório uma hora mais cedo na sexta-feira, mas estão checando e-mails enquanto saem para jantar com a família, e o telefone está zunindo na mesa de cabeceira enquanto dormem. Este não é um ambiente ideal para recuperação.
Antes de fundar a Whil, que fornece treinamento digital para o bem-estar mental e emocional, Burton trabalhou como diretor de operações de uma grande empresa. Com isso, tinha dias com expedientes de 14 horas e passava boa parte do tempo longe de casa, em viagens. Com essa rotina, contraiu duas hérnias de disco, o que o levou a ter dores de coluna e a sofrer de insônia. Depois de perder dois irmãos, por drogas e suicídio, ele teve uma crise e finalmente se decidiu a combater o estresse. Agora, Burton diz que sua empresa pratica o que prega: espera-se que os funcionários façam uma pausa mental de 5 a 10 minutos para cada 50 minutos trabalhados, e, todos os dias às 15h, a equipe inteira realiza uma atividade de mindfulness (traduzido para o português como “atenção plena”, o termo designa um estado mental e o conjunto de técnicas e exercícios meditativos que permitem alcançá-lo). “A saúde mental é como tudo: você tem que praticar para desenvolver as habilidades necessárias, a fim de lidar com o ritmo da vida moderna”, diz.
5. Shay Berman, criador e CEO da Digital Resource
Na Digital Resource, Shay Berman entende que a saúde mental é uma questão individual. Para capacitar melhor os funcionários a cuidar uns dos outros, Berman os encoraja a se conhecerem mais profundamente. “Na Digital Resource, gostamos de fazer testes de personalidade e ler livros motivacionais em grupo para descobrir nossos pontos fortes como indivíduos e equipe. O conhecimento extraído dessas práticas cria uma cultura positiva, e somos capazes de nos conscientizar para ficar de olho na forma como cada um reage ao estresse”, conta. Em vez de assumir uma tarefa impossível, que é a de extinguir todas as fontes de estresse, Berman se concentra em garantir que os funcionários sejam capazes de lidar com ele, apoiando-se uns nos outros e mantendo um equilíbrio saudável entre vida profissional e pessoal. Priorizar a saúde mental é um processo contínuo, não algo que você faz uma vez e pronto, acabou, como se seguisse uma lista de tarefas.
6. Samia Reichel, VP do Desenvolvimento de Custódia da Fidelity National Financial
Samia Reichel reconhece que priorizar a saúde mental é essencial para a equipe ter sucesso. “Se não estamos mentalmente preparados para os nossos clientes, eles sofrem”, conta. Os membros da equipe da Fidelity contam com uma rotina de saúde física: é prioridade dormir bastante, fazer exercícios regularmente e prestar atenção à alimentação. Uma vez que a saúde física é bem cuidada, o foco se volta para o autogerenciamento. “Nós nos reunimos regularmente para discutir quais tarefas temos que cumprir e garantir que todos cumpram os prazos”, diz Reichel. Ela acrescenta que, se um funcionário está com dificuldades, sua equipe colabora para redistribuir o trabalho e, assim, garantir que ele permaneça nos conformes. Por fim, a empresa incentiva a folga regular para que os colegas possam recarregar as baterias. Escute o conselho de um profissional financeiro: incentivar o funcionário a tirar um tempo do trabalho é mais um investimento que um custo.
E MAIS: Falta de cuidados com saúde mental afeta funcionários e empresas
Talvez não seja fácil adotar essas medidas com os seus funcionários, especialmente se sua empresa for jovem e sua equipe, pequena. Mas, quando se trata de políticas que podem minorar os problemas de saúde mental, trate os outros como gostaria de ser tratado. No final do dia, seus funcionários e, consequentemente, o seu balanço final vão lhe agradecer.