Esqueça aquele conceito tradicional de empresa de logística com uma estrutura pesada de ativos, formada por filiais, frotas de caminhões e dezenas de centros de distribuição próprios espalhados pelo país. Quando entrou nesse negócio há 11 anos, o mineiro Gustavo Ribeiro de Paiva, parte de uma família cujo ganha pão era o transporte de passageiros, achava que havia outras coisas mais essenciais para prestar um bom serviço na ponta, aquilo que hoje convencionamos chamar de last mile.
Insatisfeito com o negócio familiar – inserido em um setor que dependia do poder público para tudo e era extremamente limitado –, Paiva deixou o cargo que ocupava há uma década e comprou “por um valor insignificante” a Movvi, uma transportadora pequena em Belo Horizonte (MG), mas com uma carteira de clientes pulverizada que já atuava na entrega porta a porta. “Eu comecei a perceber que a tecnologia era muito mais importante do que o transporte em si”, diz ele, lembrando que, naquela época, o comércio eletrônico não era a potência que é hoje.
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Paiva então contratou uma equipe de desenvolvimento que, internamente, passou a desenhar um sistema próprio capaz de gerenciar todo o fluxo do processo de entrega – que é bastante complexo.
“São solicitações de coletas chegando a todo momento, para remetentes dispersos geograficamente, que precisamos tratar. Temos que criar o fluxo, consolidar os embarques, conectar as cidades e, quando chegar na ponta, desagrupar os recebimentos e aí sim entregar”, diz o executivo, que hoje atende 3 mil cidades nas regiões Sul e Sudeste do país.
Na contramão de seus pares da época, Paiva conta que era difícil até convencer os clientes a trabalharem com ele. “Eles queriam saber quantos caminhões eu tinha”, lembra. “Mas eu nunca fui patrimonialista e achava que os veículos deveriam pertencer aos trabalhadores autônomos, enquanto eu cuidava do gerenciamento da operação.” Essa modalidade de parcerias com pessoas que detêm seus próprios veículos – sejam bicicletas, automóveis, caminhões ou motocicletas, foi batizada, na nova economia, de crowndshiping.
Disposto a apostar todas as suas fichas na tecnologia, Paiva conta que tentou, inclusive, parcerias com startups para criar e gerenciar essa rede de entrega colaborativa. Mas percebeu que juntar as duas coisas – a experiência no setor logístico para além de unir as duas pontas e a tecnologia – não era tão fácil para quem não conhecia bem o segmento.
Ele explica, por exemplo, que no caso das entregas urbanas é preciso ter densidade para conseguir um custo competitivo, ou seja, um mesmo veículo precisa fazer muitas entregas na mesma área para baixar o preço. Para isso, é preciso fazer consolidações, ter um centro de distribuição para agrupar tudo e, só então, fazer os envios. Além disso, é necessário gerenciar o risco, conhecer muito bem a questão fiscal relacionada aos transportes e adotar a regulamentação adequada para lidar com os autônomos. Paiva garante que qualquer coleta solicitada até às 12h nas regiões metropolitanas é realizada no mesmo dia, graças à densidade da rede de autônomos e a uma plataforma tecnológica que envolve um TMS (sistema de gerenciamento de transportes, da sigla em inglês) proprietário, aplicativos e códigos de barras, entre outros recursos.
Com vocação inicial no B2B, a Movvi atende grandes varejistas, principalmente lojas de roupas e acessórios – como FARM, Animale, Le Lis Blanc, VR, Mixed e Chilli Beans – que dependem de entregas diárias nos pontos de venda, quase just in time. Na época da crise, em 2015, com a queda no consumo e uma parte das operações ociosa, Paiva achou que era hora de aproveitar as oportunidades do comércio eletrônico. Hoje, 35% da demanda da empresa vem desse modelo de negócio, onde o maior cliente é o site Kabum. “É muito mais viável crescer nesse setor do que no varejo tradicional”, diz. “Mas as exigências também são maiores.”
Atualmente, o executivo se classifica mais como uma empresa de tecnologia do que de transporte. “Com ela, ampliamos nossa atuação com novos serviços, inclusive aéreo. Nossos centros de distribuição, por exemplo, funcionam hoje mais como armazéns gerais. Eu posso estocar os produtos dos clientes neles.” Paiva conta que só esse processo levou 18 meses, já que era preciso ter as autorizações necessárias para atuar como fiel depositário. A empresa também correu atrás das certificações exigidas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para lidar com produtos farmacêuticos.
Ao que tudo indica, a aposta está dando certo. De 2017 para 2018, o crescimento foi de 26%. No período seguinte, 12%. A expectativa é fechar 2020 com números acima de R$ 200 milhões. O próximo passo é a adoção de uma ferramenta de chat para facilitar e aumentar a eficiência da entrega porta a porta. “A ideia é que o entregador possa tratar os imprevistos de uma maneira mais instantânea, o que vai melhorar a qualidade do serviço”, adianta.
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