Sheryl Sandberg tem o peso do mundo em seus ombros. A diretora de operações do Facebook não é apenas responsável por ajudar a liderar uma das empresas mais polarizadoras do mundo através de uma pandemia global, mas pelas 2,26 bilhões de pessoas que visitam suas plataformas todos os dias. Com cerca de um terço da população global na ponta dos dedos, a Organização Mundial de Saúde (OMS) conta com o gigante da mídia social para ajudar na luta contra a Covid-19.
“Esta crise é sem precedentes”, diz Sandberg. “Eu levo minha responsabilidade muito a sério.” Na semana passada, o Facebook lançou seu centro de informações sobre coronavírus, um módulo no topo dos feeds de notícias dos usuários com atualizações em tempo real da OMS e, em 9 de abril, as organizações criaram uma parceria para fazer alertas de saúde no WhatsApp que responderão a perguntas frequentes sobre a doença.
LEIA MAIS: Bolsonaro demite Mandetta e chama Teich para Ministério da Saúde
As falhas recentes do Facebook em proteger os usuários contra violações de dados e desinformação não foram esquecidas pela executiva. Esses erros, ela diz, prepararam a empresa para essa situação. “Estamos trabalhando para não apenas recuperar a confiança, mas fazer a coisa certa o tempo todo”, diz Sandberg. “Agora sabemos o que é desinformação e como encontrá-la. Nós sabemos como resolver isso, e também entendemos que precisamos confiar em outras pessoas (como a OMS e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças), porque não conseguimos fazer tudo sozinhos”.
Sandberg também acredita que a força que ganhou com suas dificuldades pessoais, (a morte de seu marido, Dave Goldberg, há cinco anos) a preparou melhor para liderar essa crise. “O maior desafio que já enfrentei, que supera qualquer outra coisa que passei, foi perder meu marido de repente”, diz ela. “E isso é totalmente diferente do que está acontecendo com o coronavírus. Mas existem algumas semelhanças em tudo o que acontece de repente e é um evento negativo. O trabalho que fiz para o meu livro “Opção B” foi sobre descobrir o que fazer nesses eventos negativos e como crescer a partir deles”, explica ela.
Sandberg diz que, como muitos norte-americanos, foi inspirada pelo governador de Nova York, Andrew Cuomo, que em um pronunciamento recente mencionou que busca encontrar alegria diante das dificuldades. “Todo mundo já ouviu falar sobre transtorno de estresse pós-traumático (TEPT)”, diz ela. “Mas é mais comum ver pessoas que já experimentaram crescimento pós-traumático do que o TEPT, mesmo que ninguém tenha ouvido falar”, acrescenta Sandberg. O pensamento é que eventos traumáticos nos ajudam a aprender e crescer. “A conclusão surpreendente disso é que podemos realmente melhorar nossas vidas nos momentos mais difíceis”, diz Sandberg. “Eu aprendi muito com a morte de Dave. Minha vida é muito diferente e, de muitas maneiras, aprendi coisas muito grandes, como buscar o bem e encontrar a comunidade e que, através de dificuldades reais, você desenvolve força. Se eu pudesse devolver todo esse aprendizado para recuperar Dave, eu daria, mas não posso.” Ela acrescenta que, mesmo nos momentos mais sombrios, há lições a serem aprendidas. “Mesmo diante da perda de um marido, você consegue encontrar momentos de alegria? Absolutamente. Você pode e deveria. E é assim que nos recuperamos e aprendemos com esses tipos de eventos.”
Até agora, essas lições parecem tê-la servido bem. O Facebook, que depende fortemente de pequenas empresas para obter receita com publicidade, estava entre as primeiras das principais companhias de tecnologia a fornecer ajuda. “Conversamos com pequenas empresas o tempo todo e o que elas nos disseram que precisavam (mais) era apenas de ajuda financeira”, diz Sandberg. Em 17 de março, a empresa anunciou US$ 100 milhões em doações para pequenas empresas. No sábado, 11 de abril, a empresa já havia recebido mais de meio milhão de e-mails de interesse no programa. Dos US$ 100 milhões, US$ 40 milhões serão alocados para 10 mil pequenas empresas nos EUA em 34 cidades, sendo 50% reservadas para mulheres, minorias e empresas de propriedade de veteranos de guerra. Os outros US$ 60 milhões serão distribuídos para pequenos empresários em todo o mundo.
“Todo mundo está preocupado com os efeitos do coronavírus, mas mulheres e mulheres de cor são muito mais desproporcionalmente afetadas”, diz Sandberg, citando novas pesquisas de sua iniciativa Lean In, que constatam que mulheres empregadas têm quase duas vezes mais chances do que suas contrapartes masculinas de não conseguirem poder pagar por necessidades por mais de um mês se perderem sua renda pessoal. “É como tudo no mundo: as mulheres são a espinha dorsal de nossas famílias e comunidades e são as mais atingidas.”
A empresa também está trabalhando com a Administração de Pequenas Empresas dos EUA para enviar notificações incentivando cerca de 30 milhões de pequenos empresários em todo o país a solicitar empréstimos. Mesmo um terço das pequenas empresas dos EUA não possua um site na internet, a maioria tem páginas no Facebook, colocando a plataforma em uma posição única para divulgar.
LEIA TAMBÉM: Os 15 bilionários que mais fizeram doações para o combate à Covid-19
“Pequenos negócios são o nosso negócio”, diz Sandberg. “Temos 140 milhões de pequenas empresas em todo o mundo que usam nossos produtos todos os dias e nosso objetivo é ajudá-los a superar isso.” Para esse fim, a gigante da tecnologia lançou várias ferramentas para apoiar pequenas empresas durante esse período único, incluindo cartões-presente digitais, captação de recursos e maneiras mais fáceis de empresas comunicarem alterações de serviço a seus clientes.
De acordo com uma pesquisa recente da Goldman Sachs, 96% dos proprietários de pequenas empresas relatam ter sido impactados pela Covid-19, e mais da metade diz que não será capaz de operar seus negócios depois de três meses. Sandberg acredita que a mídia social pode ajudar. “Estamos vendo coisas incríveis acontecerem porque as empresas não podem fazer negócios da maneira que normalmente fazem”, diz Sandberg. “Então, por um lado, algumas empresas precisam fechar, mas por outro lado, algumas empresas podem mudar.”
A Magic Arts Studio, por exemplo, uma empresa de artes e ofícios de Morrisville, Pensilvânia, adotou o aprendizado online, com seus professores oferecendo aulas gratuitas via Facebook Live. O exemplo favorito de Sandberg é o This Mum Runs, de Bristol, na Inglaterra, uma empresa de comércio eletrônico que começou como um grupo no Facebook para administrar entusiastas que recrutou mais de 250 voluntários para fazer entregas de supermercado e farmácia para os necessitados. “A This Mum Runs é uma organização que tem comunidade e propósito inseridos em seu DNA”, diz Mel Bound, fundador e CEO da This Mum Runs. “Essas são as coisas que nos permitiram responder rapidamente e de maneira significativa à crise que afeta a nós todos: apoiar os mais necessitados, mantendo a nossa comunidade segura e ativa. “Como as pequenas empresas em todo o mundo enfrentam um caminho incerto, elas podem servir de inspiração para outras pessoas encontrarem maneiras inovadoras de operar nesse novo ambiente. “Existem pessoas rejuvenescendo seus próprios negócios, mudando seus negócios para a internet e chegando ao público de uma maneira diferente”, diz Sandberg. “E, por esse motivo, eu acho que há uma nova Main Street agora.”
As pequenas empresas não são as únicas que o Facebook está tentando apoiar ativamente. No mês passado, a empresa lançou seu Business Resource Hub, apresentando recursos e recomendações para ajudar todas as empresas a permanecerem conectadas e nos trilhos, além de acesso direto a informações confiáveis sobre a Covid-19. Na semana passada, a empresa lançou uma série de “cartilhas verticais”, ou guias de resiliência para empresas como restaurantes e cafés, varejo, salões e spas, centros de fitness e recreação, parceiros e agências e até mídia e editores.
E TAMBÉM: A história secreta do primeiro coronavírus
Se os esforços do Facebook farão ou não a diferença para as pequenas empresas, apenas o tempo dirá. O mesmo pode ser dito das tentativas da empresa de recuperar a confiança das pessoas. “Não estou dizendo que as pessoas sempre captaram essa mensagem, mas tentamos fazer a coisa certa o tempo todo”, explica Sandberg. “Quando os erros aconteceram, certamente não os fizemos de propósito e procuramos corrigi-los o mais rápido possível. E acho que agimos de forma responsável durante todo o processo. Agora pode ser que as pessoas sejam capazes de ver as coisas de maneira diferente, porque o mundo mudou tão drasticamente. Mas nossa abordagem é sempre fazer a coisa certa e garantir que resolvamos os problemas e procuremos evitar o próximo”, afirma. “E essa é a mesma abordagem que adotamos o tempo todo”.
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.