Enquanto o vento finlandês sopra do lado de fora, Mika Anttonen se despe e entra em sua sauna. Ele joga água nas brasas, que cospem uma nuvem de vapor. A temperatura sobe para um nível quase doloroso. Aqui, em alguns dias, o bilionário reflete sobre sua última missão: salvar um planeta que, como a sauna, está esquentando rapidamente.
“As condições estão piorando”, diz Anttonen, 53 anos. “Temos que agir o mais rápido possível.”
A preocupação de Anttonen é curiosa para um homem que está envolvido com o setor de petróleo. Ex-trader de energia, ele agora dirige sua própria empresa com sede em Helsinque, chamada St1. A companhia, que teve receita de US$ 7,8 bilhões em 2019, refina mais de um bilhão de galões de petróleo a cada ano, opera 1.300 postos de gasolina na Escandinávia e tem uma participação de 15% no mercado de óleo diesel na Noruega, na Suécia e na Finlândia.
“Se não fossemos refinar e vender petróleo, outra pessoa o faria”, diz Anttonen, “tenho que ter certeza de que nossa empresa permanecerá viva”. Por enquanto, as coisas vão bem: ele vale cerca de US$ 1,4 bilhão, o que o torna a sexta pessoa mais rica da Finlândia.
Mas Anttonen está determinado a ir além dos combustíveis fósseis. A St1 investiu US$ 200 milhões em projetos de energia renovável nos últimos três anos, o equivalente a 44% de seu lucro líquido durante esse período, ou 1% de sua receita. O empresário está pressionando os governos europeus a cobrar das empresas pela emissão de carbono e a restringir voos de curta distância. Em conferências e cúpulas da União Europeia, ele sempre aparece com seu PowerPoint sobre transformação de energia na ponta da agulha. Apesar do óleo sob as unhas, Anttonen espera se tornar um motor confiável para a mudança do setor. “É nossa responsabilidade contribuir”, afirma.
Para esse fim, ele está financiando projetos de energia renovável que um dia podem competir com combustíveis de carbono em escala, como um poço geotérmico de 4 milhas em Espoo, na Finlândia, projetado para fornecer 10% da energia da região quando concluído no próximo ano. Ele quer reflorestar grandes áreas, começando com um piloto envolvendo árvores de “crescimento rápido” no Marrocos. Mais ambiciosamente, Anttonen planeja capturar carbono da atmosfera e transformá-lo em energia, uma ideia chamada “Power-to-X”. O conceito, longe de ser comprovado, envolve pegar o dióxido de carbono e fundi-lo com moléculas de hidrogênio produzidas com energia renovável, criando um novo combustível sintético.
A ideia de Anttonen pode ser ajudada pelo excedente de petróleo causado pela Covid-19, que reduziu drasticamente a demanda global pela commodity. “Se você olhar para uma ampla gama de refinarias, elas têm caixa negativo no curto prazo”, diz Petri Gostowski, analista de pesquisa de ações da Inderes, com sede em Helsinque. “As empresas precisarão acelerar seus investimentos renováveis.”
“Embora tenhamos essa pandemia, as emissões foram muito pouco reduzidas”, diz o empreendedor. Mas não há tempo para permanecer na escuridão –ou mesmo na realidade. “A questão”, diz ele, “é como podemos resolver este problema?”
A ambição obstinada de Anttonen está enraizada em sua linhagem familiar. Seus dois avós lutaram na Segunda Guerra Mundial. Seu avô paterno foi baleado no olho por soldados russos e, em seguida, ferido por estilhaços de uma explosão. “Ele estava fazendo piadas mais tarde”, conta o neto orgulhoso. “Ele dizia: os russos pegaram meu olho, mas eu peguei um pouco de metal como compensação.’”
A guerra melhorou o padrão de vida da Finlândia e, por extensão, seus serviços governamentais, que forneceram uma proteção vital para Anttonen durante sua infância. Seus pais se divorciaram quando ele tinha cinco anos, efetivamente transformando sua mãe em uma mãe solo. “Não havia dinheiro”, diz ele.
Aos 19 anos, após cumprir o serviço militar obrigatório, se matriculou na Universidade de Tecnologia de Helsinque, onde se formou em estudos de tecnologia e energia. Durante seu último ano, foi recrutado pela gigante petrolífera finlandesa Neste, e começou sua carreira como trader em 1989. O trabalho era simples: Anttonen comprava petróleo de refinarias europeias e depois vendia com uma margem de lucro para os mercados ocidentais, como Nova York.
Lentamente, ele subiu no ranking da Neste, mas se irritou com a microgestão da empresa, incluindo um mandato para que ele contratasse apenas funcionários de dentro. “Não conseguíamos adquirir pessoas talentosas”, conta, dirigindo pelos arredores de Helsinque em seu Audi A4, que funciona com etanol feito de resíduos produzidos por locais como padarias.
Ele considerou deixar a Neste para atuar sozinho, mas hesitou, preocupado com a possibilidade de a ideia ser inviável. O comércio de energia requer muito capital inicial. Para ganhar dinheiro, o petróleo deve ser comprado em grande escala. No entanto, a pedido de um amigo, em meados da década de 1990, Anttonen se reuniu com banqueiros suíços do United Overseas Bank e pediu uma linha de crédito que ele pensou que nunca aprovariam: US$ 100 milhões. Surpreendentemente, os banqueiros disseram que sim.
Usando esse capital, em 1996, Anttonen ingressou em uma nova empresa chamada Greenergy Baltic –mais tarde, ele mudou o nome para St1 e comprou os acionistas originais da empresa. Após alguns anos de serviço, ele começou a ficar entediado. “Comecei a perceber o quão estúpido é o negócio de comércio de petróleo. Você está comprando carga e vendendo por um preço mais caro. Realmente, não cumpria o sentido da vida”. Assim, ele vendeu a operação comercial para a Enron em 2000.
Anttonen chama os anos subsequentes de seu “processo de crescimento”, quando começou a buscar oportunidades de negócios que “tornariam o mundo um pouco melhor”. Começou o ativismo pelo clima. Ainda assim, continuou investindo em combustíveis fósseis, adquirindo uma subsidiária da ExxonMobil em 2007, comprando 565 postos de gasolina da Shell em 2010 e expandindo os negócios de refino de petróleo da St1.
Essas façanhas o ajudaram a financiar seus movimentos climáticos, incluindo o “Power-to-X”, que exigirá enormes inovações para capturar e reaproveitar o carbono com eficiência. Ele admite que ainda está muito longe do resultado final. “Para desenvolver o equipamento para reciclagem de carbono, eu diria que vamos levar dez, 15 anos”, diz. “Então, para dimensionar, isso levará de 30 a 50 anos para se concretizar.”
O problema, é claro, é que podemos não ter muito tempo. Muitos cientistas acreditam que o planeta se aquecerá a níveis perigosos até 2030. “Podemos perder muita produção de alimentos. Podemos ter guerras climáticas”, admite Anttonen. “Vamos todos morrer antes de conseguirmos melhorar a situação? Acho que não.” Então, como que para se assegurar, ele repete: “Acho que não”.
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