A expectativa de vida global está crescendo a passos agigantados desde a década de 1960. Hoje um jovem de 20 anos tem 50% de chance de viver até os 100. Se você tiver 60 anos, tem uma chance igual de chegar a 90. Uma vida longa pode ser um presente, mas também impacta nosso estilo de vida – em particular, no modo como planejamos nossa carreira e nossas finanças.
Esse cenário traz inúmeros desafios para uma sociedade que ainda não está preparada para lidar com os profissionais que o mercado corporativo está descartando em função da idade. Por outro lado, o Japão – país com a maior expectativa de vida do mundo, segundo dados divulgados em 2016 pela Organização Mundial da Saúde – levou em conta esse e outros aspectos correlatos para criar o conceito de Sociedade 5.0.
A Sociedade 5.0 nasce como uma iniciativa conjunta do governo japonês e a comunidade empresarial para enfrentar o envelhecimento rápido da população. O movimento, que visa revolucionar o mundo corporativo, repensa o modelo de sociedade, tornando-o inclusivo e centrado no bem-estar da população. Se na Indústria 4.0 o foco das atenções eram as máquinas e a tecnologia, na Sociedade 5.0 o centro é o ser humano – por isso é preciso repensar as relações das pessoas com o trabalho.
Estudar, trabalhar e se aposentar?
Até não muito tempo atrás, a vida era tradicionalmente dividida em três fases distintas: educação, trabalho e aposentadoria. Esse modelo fez sentido para as gerações anteriores, que ingressaram no mercado no fim da adolescência, aposentaram-se com 60 e poucos anos e morreram por volta dos 70. Hoje o cenário é bem diferente.
A expectativa de vida no país aumentou: está em 80 anos para as mulheres e 73 anos para os homens, conforme recente levantamento do IBGE. Isso pode significar uma vida profissional de mais de 50 anos. Portanto, aquele modelo dividido em três etapas tornou-se obsoleto e precisa ser reconsiderado.
“A VIDA PROFISSIONAL SE ESTENDERÁ POR 50 ANOS OU MAIS, E O TRABALHO FLEXÍVEL TERÁ UM PAPEL VITAL NESSA NOVA ERA.”Neste novo cenário, é provável que o período de educação no início da vida não seja mais suficiente para sustentar uma carreira por tanto tempo. A evolução tecnológica dos últimos anos evidenciou a falta de habilidades, preparo e conhecimento de muitos profissionais. Essas falências fizeram com que cada vez mais pessoas passassem a se atualizar por meio de programas educativos inovadores de curta duração e a frequentar espaços de troca de conhecimento.
Os especialistas estão defendendo um novo modelo de vida dividido em vários estágios. No futuro, os indivíduos serão incentivados a sair por um tempo do local de trabalho para desenvolver novas habilidades e conhecimentos. Talvez sejam motivados a vivenciar uma nova fase de exploração na vida, e para isso será essencial construir novas experiências e fortalecer as redes profissionais e pessoais.
Gerações diferentes
Entramos e saímos da educação formal com pessoas da mesma idade que nós e, na maioria das vezes, subimos a escada profissional na mesma proporção. Os empregadores gostam dessa certeza e previsibilidade e, querendo ou não, a idade ainda tem sido usada como marcador de experiência e como parâmetro para políticas de desenvolvimento e promoção.
Mas, conforme o modelo de vida de três estágios definidos vai se extinguindo, uma preocupação crescente entre os gestores de recursos humanos é o relacionamento entre profissionais de diferentes gerações em uma mesma empresa. Daqui a alguns anos será normal encontrarmos um estagiário de 40 anos iniciando uma mudança de carreira ou mesmo um trainee de 70 anos em busca de um novo propósito. A idade não será mais critério de contratação, e os profissionais de RH terão que trabalhar mais para garantir que as necessidades dos colaboradores sejam plenamente atendidas.
O papel da flexibilidade
Uma vida de 70 anos representa 613 mil horas. Para 100 anos, isso aumenta para 876 mil horas. Mas quantas dessas horas são de fato produtivas? Os colaboradores têm um papel essencial nessa decisão, uma vez que precisam cuidar de sua saúde ao mesmo tempo que devem manter suas habilidades e contatos profissionais – portanto, sua relevância.
As empresas também têm um papel importante a desempenhar, zelando pelo bem-estar dos funcionários e orientando-os em quesitos como gerenciamento do tempo, eficiência e produtividade. Além disso, não devem ter medo de incentivar os funcionários a gastar tempo fora do ambiente de trabalho para treinar e se aperfeiçoar.
A longevidade da população, a evolução tecnológica e a Sociedade 5.0 já estão gerando transformações significativas no mundo corporativo. Já podemos ver muitas pessoas mudando de carreira independentemente da idade, novas profissões surgindo e pessoas prestes a se aposentar buscando um novo rumo profissional. É de se esperar que, com essas transformações, a demanda pelo trabalho flexível se intensifique, uma vez que as pessoas estão buscando novos caminhos.
A vida profissional se estenderá por 50 anos ou mais, e o trabalho flexível terá um papel vital nessa nova era. Ele ajudará a evitar desgastes, a reduzir o tempo de deslocamento e a aumentar o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Essa modalidade de trabalho também permite ter espaços para aprimoramento de habilidades, o que facilitará a reciclagem de talentos, beneficiando funcionários e empregadores. Uma vida de 100 anos pode ser um presente. Mas, para garantir essa dádiva, é necessário repensar como abordamos nosso dia a dia e, em particular, como a estratégia de negócios se encaixa no futuro da sociedade.
Tiago Alves é CEO do IWG – REGUS e SPACES DO BRASIL
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