Fora alguns poucos que tiveram muita sorte em suas vidas corporativas, muitos profissionais já tiveram de se submeter a um chefe narcisista em algum momento de da carreira. Você conhece o tipo. Exalta sua importância, está certo o tempo todo (mesmo quando não está) e tem disposição para atropelar qualquer um que fique em seu caminho.
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Mas, em primeiro lugar, é preciso entender como a maioria conseguiu essa posição. Por que organizações de todos tipos e tamanhos tendem a promover pessoas com essas qualidades? Eles são melhores do que seus sensatos colegas na gestão profissional? Ou, com base no velho ditado que afirma que o poder corrompe, uma posição de autoridade realmente gera um comportamento narcisista?
Dada a quantidade de danos que um líder narcisista pode causar a um departamento, a uma empresa ou mesmo a um país, vale a pena se debruçar sobre essas questões. Para isso, eu e minha colega de trabalho Nicole Mead organizamos um experimento.
O foco, em particular, era entender se o poder sobre os outros infla o narcisismo de pessoas com altos níveis de testosterona como parte de sua composição física. Para descobrir, foram recrutados mais de 200 voluntários, tanto homens quanto mulheres. Os hormônios foram testados por meio de amostras de saliva. Depois, os participantes fizeram dinâmicas de equipe como parte do estudo. Na pesquisa, metade dos integrantes foi informada de que estava no controle das tarefas, enquanto a outra parte recebeu a informação de que ninguém estava sob autoridade de ninguém.
Em seguida, foi avaliado o grau de narcisismo de cada indivíduo com o NPI – Narcissistic Personality Inventory (Inventário de Personalidade Narcisista, em tradução livre), teste criado por Raskin & Hall, em 1979. Os participantes também foram questionados se estavam dispostos a usar mal o poder dentro de uma escala estabelecida. Eles responderam, por exemplo, se considerariam a hipótese de roubar a ideia do subordinado e vendê-la como sua.
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Os resultados mostraram claramente algo de que suspeitávamos o tempo todo. Ou seja, a combinação de poder e testosterona é potencialmente tóxica. A liderança sozinha, aparentemente, não é o problema. Os participantes com níveis relativamente baixos do hormônio para o seu sexo simplesmente não foram corrompidos ao ganhar autoridade sobre os outros. Em vez disso, continuaram, em grande parte, atenciosos e razoáveis, similar ao comportamento apresentado antes do início do exercício. Mas, para muitos daqueles com altos níveis de testosterona para o seu sexo, o poder não apenas os tornou mais narcisistas, mas também mais dispostos a usar mal a autoridade e para fins egoístas.
Dadas essas conclusões, o que é possível fazer para manter esse fenômeno sob controle? A questão é polêmica. Seria aconselhável pedir testes hormonais antes de aprovar um candidato para uma posição de liderança? Até onde essa situação poderia ser levada? Seria válido testar alguém que deseja se candidatar a um cargo público, por exemplo? Isso resultaria em mudanças interessantes para os governos em todo o mundo? São especulações que, claro, esbarram em questões éticas, sob o risco de entrar no território da discriminação. Uma pessoa deve ser desqualificada por conta de algo sobre o qual ela não tem controle, como o seu nível de testosterona?
O mais plausível e legítimo é melhorar os processos de avaliação que ainda são, em muitos casos, baseados em suposições e preconceitos inconscientes. É preciso tornar todo teste de candidatos a cargos de liderança mais robusto, mais científico e menos influenciado pelo comportamento abertamente dominante ou explorador que está associado a níveis mais altos de testosterona.
Em vez disso, é importante perceber essas posturas como sinais de alerta. Em suma, existe a necessidade de cavar e descobrir o quão adequado a uma posição de autoridade, em termos de competência, talento e habilidade, um indivíduo realmente é.