Psicopatar: entenda o verbo e veja como se proteger

18 de setembro de 2019
Psicopatar_ChristianScienceMonitor/GettyImages

É preciso tomar cuidado com possíveis colegas de trabalho que tentem te desconcertar e prejudicar

Resumo:

  • Muitas pessoas demonstram seus preconceitos nos detalhes e de maneiras inofensivas sem perceber;
  • Em outros casos, estes preconceitos podem ser canalizados em provocações para desconcertar a pessoa alvo, que é a definição de “psicopatar”;
  • O primeiro passo para sair desse tipo de situação é entender que o ataque acontece porque as pessoas se sentem ameaçadas;
  • Quando o alvo toma consciência do seu poder, consegue sair da defensiva e neutralizar os agressores.

Na maioria das vezes, eu não costumo me importar com pessoas que não têm consciência dos seus preconceitos e, por isso, fazem julgamentos errados das pessoas baseadas nas suas próprias crenças de como as coisas “devem ser” e do que é “normal”.

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Uma situação que acontece bastante é a seguinte: você atende seu telefone e quem está do outro lado da linha assume estar falando com um secretário e não com o chefe. Ou quando uma mulher chamada Robin chega em um aeroporto no Reino Unido, América Latina e China e todos ficam surpresos por não ser um nome exclusivamente masculino. A maioria dessas situações não envolve maldade, as pessoas não costumam perceber que seus preconceitos geram comportamentos desagradáveis.

Mas existe um grupo de seres humanos que são, intencionalmente, ruins e tentam deixar os outros para baixo. Este texto é para falar sobre essas pessoas.

Há dois anos, pediram que eu aconselhasse uma mulher que estava tendo problemas em seu trabalho. Ela era capaz, competente e reconhecida como alguém importante na sua área de atuação, mas tinha dificuldades nas reuniões executivas em seu país, com líderes de todas os departamentos: vendas, marketing, recursos humanos, finanças etc. Ela podia estar naquela mesa com aquelas pessoas, mas continuava sofrendo para performar. Vendo a situação, um colega dela me pediu para ajudá-la.

Logo em nossa primeira conversa, ela abriu o coração e falou sobre como era maltratada pelos homens da empresa, em especial pelo diretor nacional. Todas as vezes em que chegava nas reuniões semanais, com todos ao redor da mesa, o tal diretor comentava algo parecido com: “Lá vem a Laurinha. Como você está hoje, Laurinha? Não estamos felizes que a Laurinha está aqui conosco?”. Ele dava um sorriso, as pessoas ao redor da mesa davam risadas.

Toda vez, toda semana.

Obviamente, ela se sentia envergonhada com a situação. E também é óbvio que esse tipo de comportamento do diretor é absolutamente inaceitável. Outro ponto incrivelmente absurdo é o fato de que as pessoas da mesa não só riam da situação, mas também não desencorajavam o diretor a parar com a atitude. Toda a situação era horrível.

Claro que Laura ficava nervosa todas as semanas antes de entrar nas reuniões, ela sabia o que estava por vir. Além disso, ficava tão irritada que passava a reunião toda bufando, de cara fechada, fantasiando vinganças na cabeça e pensando no que escrever na sua carta de demissão, sobrava pouco tempo para prestar atenção ou contribuir.

Ela ficava totalmente fora de si. E era exatamente isso que o diretor nacional estava tentando fazer.

É fácil notar que o executivo sabia como deixar ela irritada e sabia também que ela ficaria desconcertada com a situação e não iria participar da reunião concentrada. Se a Laura não estivesse prestando atenção, ela não iria desmascarar as mentiras ou desafiá-lo em assuntos sobre os negócios. A estratégia intencional dele era deixar Laura desconcertada antes que ela o deixasse desconcertado na frente de todos.

Eu pedi que Laura pensasse em razões para que o diretor a escolhesse para atacar dessa maneira. Depois de alguns estímulos, ela admitiu que contribuia bastante em diversas áreas da organização. Ela percebeu que era o alvo dele porque o diretor via o poder que Laura tinha, suficiente até para tirá-lo do cargo. Ele queria fazer Laura sair antes que ela fizesse o contrário. Depois de perceber tudo isso, Laura conseguiu entender a verdadeira razão das interações que eles tinham todas as semanas: pequenas disputas nas quais o diretor tentava, e conseguia, tirar a atenção dela ao que realmente importava.

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Eu a convenci a tentar uma abordagem diferente na reunião da próxima semana. Quando ela entrou na reunião e foi recebida com o “Laurinha” de sempre, eu a orientei a responder com um “sim sim. Lá vem a Laurinha que está trazendo US$ 75 milhões em receita para a empresa só neste ano”. Depois, tendo certeza de que ele estava olhando, desviar o olhar e sentar-se, abrir o notebook e olhar para todos na mesa com um sorriso confiante. A mensagem subliminar daquilo era: “Sim, sim, eu sei que você está tentando mexer comigo de novo, mas isso não vai mais acontecer, vamos ao trabalho”.

Ela me ligou depois da reunião, rindo bastante da situação enquanto me contava tudo o que havia acontecido. Ela me contou sobre a cara das pessoas e disse que contribuiu para a reunião e ninguém mais falou uma palavra sobre o assunto.

Quando você percebe que está sendo atacado por ser forte e não por ser fraco, seu pensamento muda, e você começa a encarar a situação de uma maneira diferente, saindo da defensiva e partindo para a ofensiva. Tente essa linha de pensamento se for a sua situação.

Como eu aprendi tudo isso? Bom, em um ponto da minha vida eu já fui a Laurinha. Eles me retaliavam, eram brutais e espalhavam rumores sobre mim, todo o possível para me fazer desistir. O problema é que eu sou teimosa e não pedi demissão. Um colega chamado James veio ao meu escritório, me explicou o significado do verbo “psicopatar”, que é uma atividade, algo que as pessoas faziam de propósito para me deixar desconcertada, e que a solução era eu reconhecer a situação e parar de jogar na defensiva, eu deveria atacar quem estava fazendo aquilo comigo e tornar a tática deles ineficaz.

Tentar mudar a atitude deles não era uma estratégia efetiva. Na verdade, essa abordagem iria piorar a situação porque ficaria claro que os comentários e ações deles estavam me incomodando. Eu tinha de mudar como eu me comportava naquela situação, entender que eles enxergavam em mim alguém poderoso e neutralizar os esforços deles para seguir em frente e superar aquela situação ruim.

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O meu conselho é o seguinte: se você está nesse tipo de situação, tente diferentes abordagens até perceber qual delas vai neutralizar com eficiência o que te incomoda. Não coloque gasolina no fogo. Não deixe ninguém desconcertá-lo. Reconheça o seu próprio poder e use-o para tornar inutilizar os ataques.

*Nomes são fictícios.

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