Por que ninguém mais quer ser um MBA

1 de novembro de 2019
Reprodução/Fobes

Muitos graduandos não desejam fazer um MBA pois querem apenas estar fora do ciclo que envolve ter sucesso e estresse

Resumo:

 

  • Um artigo do “The Wall Street Journal” revela um forte declínio no número de candidaturas para os melhores programas de MBA nos Estados Unidos;
  • Embora referências do mundo dos negócios, como os CEOs Tim Cook, da Apple, e Satya Nadella, da Microsoft, tenham um certificado de MBA em instituições de prestígio, os novos executivos já não dão tanta importância para o título;
  • Os candidatos a MBA muitas vezes já são graduados em suas carreiras, o que pode significar renunciar a empregos de mais de US$ 100 mil por dois anos, além de arcar com custos que giram entre US$ 50 mil e US$ 100 mil ou mais por ano.

Um artigo recente do “The Wall Street Journal” revelou o declínio acentuado nas inscrições para os melhores programas de MBA. Em uma era de crescente divisão entre ricos e pobres, é provável acreditar que o mestrado em Administração de Negócios seria mais valorizado do que nunca. Afinal, com o recente boom do mercado de ações coincidindo com uma redução acentuada nos impostos corporativos, as grandes empresas estão inundadas de lucros para recompensar seus principais colaboradores. Embora tenha sido constatado um ligeiro progresso nos aumentos salariais para os funcionários de nível superior, o alto escalão recebe remunerações mais altas do que nunca. E uma rápida olhada nos CEOs das empresas com maior valor de mercado revela pelo menos uma coisa em comum: os líderes fizeram MBAs de instituições de prestígio. Tim Cook, da Apple, formou-se na Fuqua School of Business da Universidade Duke, enquanto Satya Nadella, da Microsoft, cursou a Booth School of Business, da Universidade de Chicago.

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No entanto, as candidaturas de MBA estão em queda acentuada, mesmo nas instituições mais famosas. O artigo do “Wall Street” destacou quedas entre 5% e 20% nas inscrições para os principais programas deste tipo nos Estados Unidos. O que explica esse cenário?

O artigo feito pelo jornal aponta que um dos principais motivos é a incerteza da atual política de imigração do país. Obter um MBA no território norte-americano, mas não ter a garantia de residência prolongada, está fazendo com que um número maior de potenciais candidatos internacionais procure localmente pelo curso. O resultado é a maior participação em programas de MBA de outros países e foco reduzido nos que são oferecidos nos Estados Unidos.

No vídeo que acompanha a matéria publicada, um aluno aponta o custo da oportunidade de fazer um mestrado em negócios. Os candidatos a MBA muitas vezes já são graduados em suas carreiras, o que pode significar renunciar a empregos de mais de US$ 100 mil por dois anos, além de arcar com custos que giram entre US$ 50 mil e US$ 100 mil ou mais por ano. Assumir esse valor de US$ 400 mil pode simplesmente não fazer sentido para muitos candidatos, especialmente se eles já estão sobrecarregados com uma possível dívida estudantil.

O editor sênior do LinkedIn, George Anders, salienta que a forte economia atual está levando a um aumento na escolha por cursos de negócios nas graduações. “Atualmente, esta é, de longe, a área mais comum. Se você pode aprender muito sobre finanças, marketing etc. aos 22 anos, por que não perseguir a glória financeira imediatamente? Não há necessidade de um MBA.” Os graduandos focados no comércio estão entrando em um mercado de trabalho em ebulição, já dotados das habilidades necessárias para carreiras bem remuneradas. Com o desemprego em níveis recorde, é mais provável que as empresas recrutem candidatos com menos treinamento para atender às necessidades atuais, de modo a oferecer oportunidades de aprendizado como parte de um atraente pacote de admissão.

Contudo, pode haver algo mais acontecendo também. Muitos graduandos com quem conversei recentemente querem apenas estar fora do ciclo que envolve ter sucesso e estresse. Eles vêem os principais empregos se tornarem cada vez mais bem remunerados, mas percebem que essas oportunidades exigem dedicação e especialização crescentes. Desistir de dois anos de sua juventude e investir centenas de milhares de dólares simplesmente não vale a tentativa para alcançar o patamar de ter muito dinheiro. Ser bilionário não é mais o que costumava ser.

Entrei no mundo dos negócios nos anos 1980, época em que ganância era considerada boa, dos yuppies e do Donald Trump 1.0. Naqueles tempos, “The Official MBA Handbook” era um bestseller. Ternos de três peças, suspensórios e abotoaduras eram obrigatórios para os homens de negócios. Mas os pontos mais decadentes daquele período foram revelados nos últimos anos: da desigualdade de renda a algoritmos não controlados, passando pelo #MeToo (movimento que tomou forma em outubro de 2017 e combate a agressão sexual e assédio, especialmente no local de trabalho) . Existem inúmeras forças que fazem reduzir a demanda por um MBA e, certamente, uma delas é o lado ruim de tentar se tornar um Mestre do Universo.

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