Existe uma atitude traiçoeira que permeia muitas empresas baseada no pensamento de que quando os funcionários estão fisicamente sentados nas cadeiras, significa que são produtivos. No entanto, se você já viu estudos de produtividade ou se forçou a ficar sentado à mesa por oito horas seguidas, sabe que ter um corpo nessa posição por um longo período de tempo não é igual a ser eficiente. E o problema se torna especialmente grave quando essa mentalidade é transmitida para o home office.
Antes da pandemia, um estudo da empresa de treinamento e pesquisa Leadership IQ revelou que funcionários remotos têm 87% mais chances de amar seus empregos do que aqueles que trabalham em escritórios. Por quê? Uma das razões é que esses profissionais descobriram hacks de produtividade para se dedicarem a um tempo mais focado em suas atividades. Eles conseguem se concentrar sem interrupções, e uma maneira de conseguir isso é com a técnica de “chunking”, que significa dividir o dia em períodos de tempo variáveis (denominados “chunks”) de acordo com a demanda e cada tarefa. Infelizmente, esse é um conceito que demorou a permear os ambientes de trabalho tradicionais.
Um estudo do portal da RescueTime (empresa desenvolvedora de um software que bloqueia distrações online) descobriu que os profissionais do conhecimento –cujo capital principal é o conteúdo dominado– verificam o e-mail e o Slack (plataforma de interação de equipes onde ficam organizados e registrados os documentos trocados) a cada seis minutos e mais de um terço deles fazem verificações a cada três minutos. Além disso, 40% desses trabalhadores nunca conseguem permanecer mais de meia hora focados em uma atividade. As interrupções por conta de e-mails e a falta de tempo direto de concentração ajudam a explicar por que esses funcionários, em média, passam apenas 2 horas e 48 minutos por dia se dedicando a tarefas produtivas.
Por outro lado, os freelancers mais eficientes, que trabalham em casa há anos, conhecem há muito a falácia da mentalidade do corpo na cadeira. Por conta disso, eles tendem a trabalhar focada e intensamente durante períodos de tempo definidos.
Essa divisão temporal (também conhecida como bloqueio de tempo) significa essencialmente separar partes do dia em que se pode desconectar do e-mail (ou qualquer outra plataforma) e se concentrar na realização de um trabalho que requer um raciocínio profundo. Não é um conceito complicado e, sem dúvida, a partir dele é possível experimentar drásticas melhorias de produtividade. Isso provavelmente já ocorreu quando trabalhou em uma cafeteria (pré-pandemia), e realizou mais atividades em uma hora do que em oito horas no escritório.
Se deseja melhorar drasticamente a produtividade e a eficácia da sua equipe remota, comece a definir blocos de tempo durante o expediente em que os profissionais precisem estar online e outros em que possam desconectar e trabalhar sem interrupções.
É possível determinar, por exemplo, períodos principais ao longo do dia, como das 10h às 12h e das 14h às 16h, para que os funcionários estejam acessíveis online (via e-mail, ou qualquer outro canal). Também é válido adicionar essas três frases à política de home office:
- Os funcionários devem estar disponíveis para seus supervisores e colegas de equipe durante o horário de trabalho principal.
- Existem dois períodos elementares por dia.
- O primeiro funciona das 10h às 12h e o segundo das 14h às 16h.
Fazer esse tipo de mudança de política oferece vários benefícios. Primeiro, são concedidos aos funcionários partes do dia em que eles possam se desconectar para se concentrar profundamente em seu trabalho sem interrupções e, de fato, produzir grandes resultados.
O segundo ponto favorável em ter momentos da equipe offline é que os funcionários repentinamente remotos e com filhos conseguirão se conectar à família. Pode ser caótico ter filhos e cônjuges por perto. No entanto, quando os profissionais tiverem uma hora para se desconectar do e-mail e dar atenção a todos da casa, provavelmente eles irão resolver a situação e restaurar a ordem. Isso significa que, quando voltarem para a mesa de trabalho, ficarão significativamente mais focados e produtivos.
Em terceiro lugar, é muito mais eficiente analisar o foco dos profissionais a partir dos resultados que alcançam do que verificar quanto tempo eles ficam na frente de um computador. A mentalidade de “corpo na cadeira” é o mesmo que dizer às pessoas: “Não é o que você faz o mais importante, mas sim o tempo em que está sentado”. Vi organizações nas quais os funcionários permanecem online três horas por dia e realizam o dobro das atividades em comparação àqueles que trabalham em companhias onde todos se mantêm conectados por dez horas seguidas.
Finalmente, quando os profissionais permanecerem offline por algumas horas para realizar um trabalho complexo, adivinhe quem mais desconecta e desfruta de realizações semelhantes? Os líderes! É um prazer absoluto para a maioria dos chefes terem algumas horas durante as quais não serão interrompidos e, portanto, são capazes de produzir resultados melhores e mais rápidos.
No estudo “Interruptions At Work Are Killing Your Productivity,” (“Interrupções no trabalho estão acabando com sua produtividade”) da Leadership IQ, foi revelado que quando as pessoas são interrompidas com frequência, há apenas 44% de chance de terminarem o expediente com a sensação: “Hoje foi um dia realmente bem-sucedido”. Por outro lado, quando os trabalhadores conseguem bloquear as interrupções, há uma probabilidade de 67% de dizerem ao fim das atividades: “Hoje foi um dia realmente bem-sucedido”.
A mentalidade “corpo na cadeira” já não funciona bem quando os indivíduos estão no escritório. Ao trabalhar em casa, ela falha definitivamente. Os principais freelancers (por exemplo, escritores, programadores, artistas etc.) sabem há muito tempo que é importante se desconectar para realizar um excelente trabalho. Chegou a hora de as equipes repentinamente remotas aprenderem com eles e eliminar com esse pensamento improdutivo de uma vez por todas.
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