Os tipos de veículos de notícias, programas de TV, filmes, revistas e jornais que consumimos regularmente enquadram nossa perspectiva e impactam nossa saúde mental e bem-estar. Pesquisas mostram que telespectadores crônicos e seguidores de notícias têm medo elevado, porque os eventos que observam começam a parecer que estão acontecendo do lado de fora de suas casas. E, uma vez que consumimos muitas informações negativas e catastróficas, não há mais um caminho fácil para tirá-las da mente. Elas permanecem na nossa cabeça, formando um modelo de como pensamos, sentimos e respondemos a eventos de grande proporção, como a pandemia de Covid-19. Felizmente, os cientistas encontraram um antídoto: assistir documentários sobre a natureza.
Eu moro nas montanhas da Carolina do Norte. Na maioria dos dias, tenho a sorte de poder tirar cinco minutos para observar os altos picos. Presto atenção às suas formas, tamanhos e cores e considero que eles estão aqui há milhões de anos e estarão aqui por muito mais. Eu me sinto seguro e resolvido. Uma onda de calma desce sobre mim, elevando meu ânimo, às vezes, trazendo-me sentimentos de admiração, bem como a citação de John Muir: “Estamos agora nas montanhas e eles estão em nós, provocando entusiasmo, fazendo todos os nervos tremerem, enchendo todos os poros. e célula de nós”. Meus cinco minutos de observação de montanhas me ajudam a lidar com a incerteza do coronavírus. E a ciência apoia minha experiência pessoal: pesquisas mostram que observar a natureza nos dá uma perspectiva maior das circunstâncias da nossa vida, induz sentimentos de admiração e reverência e fornece uma certeza sobre o futuro que compensa a incerteza dos medos da Covid-19.
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Os cientistas conseguiram um corpo de pesquisa que mostra que a exposição a espaços verdes naturais, como parques, bosques, montanhas e praias, tem propriedades curativas na sua saúde e bem-estar físico e mental. Reduz a ansiedade e melhora a depressão. Viver em áreas urbanas mais verdes está associado a menores incidências de doenças cardíacas, obesidade, diabetes, asma, sofrimento mental e taxas de mortalidade. Acredita-se que a antiga prática japonesa de banho na floresta ou shinrin-yoku (que significa “absorver a floresta”) proporcione redução do estresse, relaxamento e insights mais profundos da vida. Os cientistas descobriram que o banho na floresta reduz o cortisol e a depressão em adultos e aumenta a atividade das células que combatem infecções e câncer.
Um estudo inovador de 2019 do jornal online “Scientific Reports” descobriu que passar um mínimo de duas horas por semana em parques, bosques ou praias promove a saúde física, mental, o bem-estar e oferece uma perspectiva maior das circunstâncias da sua vida. No estudo, aqueles que passavam 120 minutos por semana tinham melhor saúde e maior bem-estar psicológico do que aqueles que não passavam nenhum tempo semanal na natureza ou aqueles que passavam menos de 120 minutos por semana. O autor principal, Mathew White, relatou que não importa como os 120 minutos são alcançados. Isso pode ser feito em um bloco ou distribuído por toda a semana para obter o benefício. Também não parece importar em que atividade você está envolvido, desde que esteja ao ar livre: vela, ciclismo, caiaque, caminhada ou tênis.
Observar a natureza amplia sua perspectiva
Mas a história não termina aí. E quanto à pessoas em quarentena que não possuem acesso à natureza ou não podem se aventurar para fora de casa? Para começar, pense na mente como a lente de uma câmera que possui uma lente zoom e uma lente grande angular. Durante um grande evento, como a pandemia, as lentes do cérebro de sobrevivência assumem automaticamente a velocidade da luz e aumentam o zoom da ameaça, ocultando o cenário geral para nos preparar para a luta ou fuga, para que possamos sobreviver. Observar e ler notícias sobre os estragos da pandemia pode nos deixar ansiosos, estressados, preocupados (e até deprimidos) com a incerteza do nosso futuro. E, embora a lente zoom nos proteja de danos, ela simultaneamente nos restringe de ver possibilidades e soluções. Mas, quando ampliamos intencionalmente nossas lentes estreitas, alocando-as a grande angular e contemplando a natureza (até mesmo fotografias de oceanos, montanhas ou savanas africanas) isso amplia nossa paisagem emocional interna. Conhecido como “ampliar e construir” pelos cientistas, esse processo nos abre uma perspectiva maior, uma que nos permite ver além das circunstâncias da nossa vida e sentir uma certeza sobre o futuro que compensa a incerteza do coronavírus. E somos capazes de ver positividade, possibilidades e soluções em nossas próprias vidas pessoais.
O jornalista americano Richard Louv cunhou o termo “transtorno do déficit de natureza” para descrever os custos humanos de viver desproporcionalmente em ambientes externos à natureza. Portanto, comprovando a importância de se conectar com a natureza e deixá-la te transportar e acalmar: essa experiência proporciona clareza mental para substituir o estresse e recarregar suas baterias. Estudos mostram que simplesmente visualizar um aspecto da natureza a partir de uma janela do escritório é restaurador. Pacientes com visão para o ambiente natural a partir da janela do hospital se curam mais rapidamente do que pacientes sem essa visão. Estudos também mostram que trazer a natureza para dentro de casa funciona igualmente bem. Se você mora em uma área urbana, pode trazer vasos de plantas verdes, flores frescas ou um terrário. E pesquisas mostram que uma cachoeira de mesa, um aquário ou um CD com sons da natureza contêm propriedades de alívio e recuperação do estresse.
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Um dos estudos mais recentes indica que você pode obter os benefícios da natureza sem sair do sofá: simplesmente assistir a um documentário sobre a vida natural reduz a ansiedade e melhora o humor. O psicólogo Dachner Keltner, da Universidade da Califórnia, colaborou em um estudo com a BBC Worldwide. O estudo, conhecido como “The Real Happiness Project” (“O projeto da verdadeira felicidade”, em tradução livre), foi um esforço conjunto entre Keltner e a equipe de pesquisa interna da British Broadcast Company (BBC). O estudo incluiu mais de 7.500 participantes de vários países que assistiram a cenas do documentário “Planeta Terra 2”. Os cientistas usaram tecnologia de mapeamento facial de ponta para medir respostas emocionais aos vídeos da natureza antes e depois dos participantes os visualizarem. Os resultados mostraram diminuições substanciais de estresse, nervosismo, ansiedade, medo, e fadiga e aumentos significativos de relaxamento, satisfação, excitação, entusiasmo, alegria e reverência.
Todos os estudos sobre a natureza realizados até o momento demonstram que o acesso à natureza –tanto ao ar livre em ambientes naturais como em ambientes fechados por meio de imagens filmadas, pinturas e fotografias– pode ajudar as pessoas a gerenciar o estresse e a ansiedade da vida moderna, especialmente durante a pandemia de Covid-19.
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