No mês passado, a Suprema Corte norte-americana decidiu que as leis federais contra a discriminação protegem os funcionários gays e transgêneres, mas grande parte da nossa linguagem cotidiana exclui pessoas que não se identificam como exclusivamente homens ou mulheres. Ativistas e linguistas LGBTQIA+ pedem linguagem mais inclusiva, mas ainda estamos muito longe do ideal. Pequenos ajustes no uso da linguagem podem ajudar bastante a respeitar pessoas não bináries e podem ter o benefício adicional de aumentar a igualdade geral de gênero.
Em outubro do ano passado, em um esforço para ser mais inclusiva em termos de gênero, a Air Canada alterou seus padrões de cumprimento, dando boas-vindas a todos (tradução do inglês “everyone”, no vocabulário em português inclusivo seria “todes”) em vez de “senhoras e senhores”. A companhia aérea afirmou que a medida buscava garantir que todos os passageiros e funcionários se sentissem respeitados. A saudação de “senhoras e senhores” serve como um lembrete da frequência com que nosso gênero é mencionado na vida cotidiana. Somos chamados de meninos e meninas em escolas, filhos e filhas pelos pais (a quem chamamos mãe e pai), chamados de ele ou ela, e nossos títulos (senhorita, senhor e senhora) são todos sobre sexo. E isso sem mencionar o número incontável de vezes que o gênero e sexo precisam ser identificados em documentos oficiais.
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Nossa linguagem afeta nossos pensamentos
Para aqueles que não se enquadram perfeitamente nas categorias de homens e mulheres, essas constantes referências aos agrupamentos binários têm impacto. Mesmo para quem se identifica como homem ou mulher, esses lembretes constantes de gênero podem ser alienantes, mesmo que isso, de uma certa forma, nos faça lembrar que somos diferentes.
Lera Boroditsky, professora de ciências cognitivas da University of California San Diego, escreve: “Mesmo o que pode ser considerado aspectos simplórios da linguagem pode ter efeitos subconscientes de longo alcance sobre como vemos o mundo”. Em algumas línguas, onde todos os objetos são classificados como masculino ou feminino, ela descobriu que essa classificação realmente afeta o modo como as pessoas percebem o objeto. Por exemplo, quando os falantes de alemão e espanhol foram solicitados a descrever uma chave, que é masculina em alemão, mas feminina em espanhol, sua resposta refletiu essa diferença. Os alemães usaram termos muito mais masculinos, como “denteado”, “serrilhado”, “duro” e “metal” para descrever uma chave, e os falantes de espanhol usaram termos mais femininos como “pequeno”, “brilhante” e “dourado”. As respostas foram trocadas quando a palavra em questão era “ponte”, que é feminina em alemão e masculina em espanhol. Outros descobriram que os países que falam mais gêneros em sua linguagem têm menos igualdade de gênero.
Para aqueles que tentam ser mais sensíveis ao uso de gênero em sua linguagem cotidiana, existem bons jeitos para começar. Veja a seguir:
Use “elus” ou “els” em vez de “ele” ou “ela”
Segundo Vitor Shereiber, gerente de projetos do aplicativo de aprendizado de idiomas Babbel, “a maioria dos idiomas não possui pronomes de gênero”. Turco e indonésio, por exemplo, não têm gênero como categoria para seus pronomes. Em inglês, usar “ele” e “ela” exige uma atribuição de gênero a um indivíduo.
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Você nem sempre consegue adivinhar qual é o pronome preferido de alguém pela aparência. Perguntar e usar corretamente os pronomes de alguém é uma maneira de mostrar respeito por sua identidade de gênero. Para aqueles que não se identificam como homens ou mulheres, “elus” ou “els” funciona.
Use “Senhore” em vez de “Senhor”, Senhora” e “Senhorita”
Usar o termo “senhorite” não é indicado, pois a palavra tem conotação feminina por si só.
Use “parceire”, “sobrinhe” e “criança”
Semelhante aos pronomes e títulos, todos os rótulos que damos aos membros da família: mãe, pai, irmão, irmã, tia, tio são de gênero. Termos neutros quanto ao gênero, como cônjuge, podem ser substituídos ao discutir relacionamentos românticos, e irmãos, filhos e pais também são relações neutras. Embora alguns tenham sugerido a criação de novas palavras, nenhum termo neutro em termos de gênero realmente se destacou por descrever o irmão de seus pais.
Use “latine” em vez de “latino” ou “latina”
“Latine” é um termo de gênero neutro usado no lugar de “latino” ou “latina” para se referir a uma pessoa de ascendência latino-americana. As feministas também elogiaram o “latines” porque ele substitui o plural masculino dominante, os latinos. “Um grupo de mulheres são latinas, mas assim que um homem se junta a elas, o grupo se torna latino. Não é mais, graças a “latine”, escreve Yessenia Funes.
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Use neutralidade de gênero nas profissões
Em termos de alcançar a neutralidade de gênero, talvez o maior progresso no inglês tenha sido feito nas ocupações. Garçonetes e garçons agora são frequentemente chamados de servidores, carteiros agora são portadores de correio.
Afastar-se de uma perspectiva binária sobre gênero exigirá algum esforço. Todos temos que embarcar e concordar em usar uma linguagem que reconheça que nem todos se identificam como homens ou mulheres.
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