Realizei um webinar para um grande grupo de líderes durante a pandemia. Eu os reuni em uma chamada via Zoom e disse a eles que só podiam fazer duas perguntas para outro participante. A primeira era “como vai você?” e a segunda “como você realmente está?”.
Eles tiveram apenas alguns minutos juntos, mas essa atividade os energizou. Haviam se conectado autenticamente um com o outro, estavam visivelmente aliviados e prontos para continuar com o material do curso.
LEIA TAMBÉM: Como pertencer realmente a uma equipe e não apenas fazer parte de um grupo de pessoas
Isso aconteceria no seu local de trabalho? É aceitável ser vulnerável e compartilhar o que está acontecendo em sua vida? Quanto você sabe sobre o que está acontecendo na vida de seus colegas de trabalho, mesmo daqueles com quem você trabalha mais intimamente? Compartilhar isso seria visto como um sinal de fraqueza ou inapropriado?
Atualmente, quase todos estão lidando com algum nível de tristeza e ansiedade. O luto pode ser sobre o que já ocorreu ou está acontecendo e a ansiedade tende a ser sobre o futuro. Nesse momento, poucos estão imunes a essas situações. Isso pode relacionar-se uma série de temas:
Financeiro: ou estou desempregado ou me preocupo que meu trabalho não continuará. Se eu for proprietário de uma empresa, conseguirei me manter nesses tempos difíceis? Mesmo se meu negócio estiver aberto, terei que fechá-lo?
Família: Sinto falta da minha família, mas não é seguro visitá-los. Ou estou preocupado com os meus parentes que estão particularmente em risco.
Relacionamento: Meu parceiro e eu estamos no limite, tendo maior dificuldade em nos conectarmos.
Carreira: Estou me sentindo preso. Acredito que tenho sorte em ter um emprego, mas estou infeliz e não consigo seguir em frente.
Social: É muito mais difícil me reunir com meus amigos. Sinto-me isolado e sozinho. Ou estou preocupado com algumas das pessoas de quem sou próximo.
Saúde: Estou preocupado em ficar doente ou incapacitado de alguma forma.
Recreacional: Por várias razões, não sou tão ativo quanto antes. Me sinto fora de forma e estou ganhando peso.
Interpessoal: Estou preocupado com os outros, com o que está acontecendo no meu país ou no mundo.
Liberdade: Me sinto sufocado. Há tantas coisas que não posso fazer.
A tensão está ao nosso redor. Podemos senti-la em quase todos os lugares. Observei como os temperamentos estão mais instáveis. Os pais estão gritando mais com os filhos. As pessoas estão mais reativas. A ansiedade e a depressão estão aumentando, ao lado dos pensamentos suicidas. O mesmo ocorre com os vícios (álcool, comida, drogas) e o abuso conjugal.
O luto simples geralmente é um único incidente. Algo acontece e precisamos processar isso em nosso próprio ritmo e, com sorte, nos curarmos gradualmente. Hoje em dia, essa não é uma tarefa rápida. Os gatilhos costumam ser contínuos, em vez de uma única vez. As preocupações com o futuro não vão embora.
Estamos todos impactados. Mas, no seu local de trabalho, você está falando sobre isso? E qual é o custo se não o fizer?
VEJA MAIS: 3 lições inesperadas de liderança aprendidas na pandemia
Existem muitos estágios de luto, luto não resolvido e perda. Eles não são sequenciais. Podemos não experimentar todos e eles podem ocorrer em qualquer ordem. Incluem choque, negação, entorpecimento, opressão, caos, isolamento, pensamento hipotético, raiva, culpa, ressentimento, depressão, ansiedade e profunda tristeza. Por outro lado, os estágios podem incluir aceitação, ressignificação, paz, esperança e até gratidão. Mas isso é realmente complicado, a menos que sejam criados ambientes em que estejamos “juntos” para um apoio mútuo.
Quando nos sentimos seguros com outras pessoas, podemos compartilhar o que estamos experimentando. Isso não significa que podemos “consertar” o que está acontecendo, mas, quando sentimos um senso de humanidade comum, isso nos ajuda a respirar fundo, ser compassivos conosco e com os outros e seguir em frente da melhor maneira possível. Quando sentimos que temos que esconder o que realmente está acontecendo dentro de nós, a tendência é nos isolarmos, nos sentirmos sozinhos, sermos menos colaborativos, criativos e mais reativos.
Na maioria das vezes, em nossos espaços de trabalho evitamos aquela palavra de quatro letras: amor. Entretanto, ele é um poderoso curador quando tem permissão para circular no espaço organizacional.
Minha sugestão é facilitar uma cultura de trabalho em que está tudo bem ser humano, para que cada pessoa compartilhe o que está acontecendo com ela. Todos nós temos nossas histórias pessoais atuais sobre luto, luto não resolvido, perda e ansiedade. Não precisamos “consertar” os problemas uns dos outros. Precisamos apenas ouvir com compaixão, estar presentes uns para os outros e cuidar de nossa experiência mútua. Atenção bondosa e amorosa é cura por si só.
Trabalhei com uma grande empresa, logo após o 11 de setembro, próxima ao local do atentado em Nova York. Ajudei a equipe executiva a ver o valor de apenas caminhar e ter conversas curtas, reais e vulneráveis. Conversas como “eu tive tantos problemas para dormir na noite passada. E você?” ou “estou com dificuldades para me concentrar, mesmo em tarefas simples. Como você está?” fizeram com que eles encontrassem o poder da conexão humana autêntica.
Experimente construir estruturas para uma conexão humana real. Não precisa ser longo, apenas real. Por exemplo, dedique os primeiros minutos de suas reuniões ao compartilhamento autêntico. Certifique-se de que todos tenham algum tempo para a realidade. E, se você é o líder, sempre modele para que a vulnerabilidade vá primeiro.
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Siga Forbes Money no Telegram e tenha acesso a notícias do mercado financeiro em primeira mão
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.