No mundo do marketing, é comum dizer que algo precisa ser visto para ser lembrado. E, para 24 milhões de brasileiros, essa é a maneira mais efetiva de garantir a sobrevivência. Este é o número de profissionais liberais em atuação hoje no país, segundo dados recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Fora das obsoletas listas telefônicas e guias de serviços, esse grupo encontrou nas redes sociais uma vitrine global e gratuita para chamar de sua.
O processo começa com a criação de um perfil ou site. Em seguida, o usuário passa a alimentar diariamente aquela página com conteúdos relacionados à sua ocupação. Aos poucos, na velha e boa tática do “boca a boca”, novas pessoas passam a conhecer e desejar aquele serviço. “Ao compartilhar um pouco do seu trabalho nas redes sociais, esses profissionais ampliam suas possibilidades de contatos, reconhecimento, serendipidade [conceito relativo a descobertas afortunadas feitas, aparentemente, por acaso], clientela: tudo o que é importante para quem atua como profissional liberal”, explica Bruna Fioreti, especialista em marketing político e sócia da Método Bold, empresa de construção de marca pessoal, ao lado de Nilma Quariguasi.
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Hoje, não é incomum recorrer ao Instagram ou ao Google para procurar por um médico que atenda nas redondezas, por exemplo. Ou quem sabe buscar por um cabeleireiro que saiba fazer o corte do momento. A praticidade do processo é algo que também agrada aos consumidores: com uma simples pesquisa é possível ter acesso aos trabalhos anteriores daquele profissional e aos feedbacks dos seus clientes.
Assim, quem opta por não aparecer nas redes acaba perdendo a oportunidade de se tornar conhecido, admirado e até viral. Para Alessandra Garattoni, fundadora do Amo Branding, empresa especializada em posicionamento de marcas, ficar de fora do meio virtual ainda é uma escolha, mas as consequências devem ser consideradas. “O digital hoje age como um ‘encurtador de caminhos’. Você consegue mostrar mais o seu trabalho para um número muito maior de pessoas, passa a ser visto e pode até mesmo construir públicos (e necessidades) do zero. É possível, nos dias de hoje, construir um negócio sem as redes? Sim, claro que é. Mas com certeza você levará muito mais tempo para ter resultado”, explica.
Presença digital não é tendência, é realidade
Embora alguns ainda estejam dando os primeiros passos nesse sentido, as especialistas afirmam que a presença digital já deixou de ser uma tendência para se tornar uma realidade. Prova disso é que, em 2020, um terço das vendas e das transações financeiras na internet foram feitas por meio das redes sociais, segundo a plataforma de e-commerce Nuvemshop. “É praticamente um pré-requisito. Não por acaso, os profissionais e empresas que melhor se adaptaram aos tempos pós-covid foram aqueles que já estavam minimamente preparados para lidar com o ambiente online – desde os que tinham produtos digitais até os que usavam o Whatsapp para fazer vendas”, afirma Alessandra.
Hoje, o chamado branding pessoal – ou seja, a construção de uma marca individual – já é algo feito naturalmente pelos mais jovens via conteúdos nas redes. “Para nós, de outras gerações, isso tem sido um aprendizado, uma necessidade, e, por isso, ainda reclamamos tanto de incorporar mais essa atividade ao trabalho. Mas, com o tempo, vai se transformar num processo natural. A tendência é que o posicionamento seja mais desejado e aplicado, que entendamos a tal marca pessoal não somente como trabalho, mas como um todo complexo”, exemplifica Bruna.
Outro ponto a ser explorado pelos profissionais liberais é a construção da reputação. Usar o espaço das mídias para se posicionar perante determinados temas e se comunicar com um público específico é uma das estratégias apontadas para crescer. “É um recurso rentável e com consequências positivas a curto, médio e longo prazos, se usado com ética”, comenta Bruna. Por outro lado, afastar-se da tecnologia pode tornar uma marca ou uma pessoa “invisível” para o mercado. “Quem quer ser visto como ultrapassado numa sociedade que supervaloriza o inovador?”, pergunta a especialista.
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Redes sociais não dão trabalho: elas são o trabalho
Uma vez no espaço digital, vem a pergunta: e agora?
O primeiro passo para usar a ferramenta com sabedoria é incorporá-la à dinâmica do trabalho. A tarefa de publicar ou aparecer nos stories deve ser encarada como mais um dos compromissos do dia. “Um ponto realmente fundamental, especialmente quando se começa, é ter certa constância e consistência. Em um momento de construção de marca, não dá para postar uma vez por mês”, aponta Alessandra. A dica das consultoras é que o profissional vá anotando as ideias de conteúdo ao longo do dia. “Não espere ter inspiração. Separe referências em pastas e anote pequenos trechos da sua rotina para compartilhar – um cafezinho, chopinho no fim do dia, a ioga… Já é um bom começo”, pontua Bruna.
Aliás, mostrar o happy hour ou a prática de um hobby é mais do que recomendável. Isso porque as características pessoais ajudam a tornar o serviço mais humano e atraente para os consumidores. “Só mostrar feitos profissionais e frases de efeito não faz mais verão para ninguém. Estamos no momento de compartilhar posicionamentos bem pensados, alguns trechos de rotina, usar o storytelling e trabalhar emoções por meio de conteúdos”, completa ela.
Não há um manual ou livro de receita. O que o profissional autônomo pode e deve fazer para se destacar entre tantos outros é seguir a mesma regra do mercado tradicional e ter um diferencial. “Seja autêntico. Há público para todas as vozes e vozes para todos os públicos. O perfil do cabeleireiro mais showman, que faz reality show de seu dia a dia, vai ser o preferido de uns; o do profissional mais discreto, que aposta em dicas, será o ideal de outros. Há quem prefira consumir vídeos e, sim, ainda há quem prefira os textos. Acreditar que existe uma plateia que quer o seu tipo de conteúdo, que vai se identificar com o seu posicionamento, é mil vezes mais importante do que se encaixar em uma fórmula única”, finaliza Alessandra.
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