“Felicidade é quando o que você pensa, o que você diz e o que você faz estão em harmonia.”
Mahatma Gandhi
Pode até parecer um contrassenso, mas o fundador da empresa mais valiosa do mundo, a Apple, com valor estimado em US$ 947 bilhões (Kantar Brandz, 2022), compartilhava com o pacifista indiano mais valores e princípios do que possa parecer à primeira vista.
Steve Jobs, um dos líderes mais inovadores que a humanidade já conheceu, se tornou tão obcecado pela busca da espiritualidade que, nos anos 70, passou 9 meses viajando pela Índia em busca do autoconhecimento. Lá, conheceu o Zen Budismo, ao qual se dedicou até o final da sua vida.
Walter Isaacson, autor de sua biografia, conta que a religião foi algo em que Jobs mergulhou completamente. Foi a partir dessa intensa experiência durante a juventude que ele definiu sua trajetória ousada e inovadora. Não apenas em sua vida profissional, mas também para a vida de seus negócios.
“Tenha coragem de seguir o que seu coração e sua intuição dizem. Eles já sabem o que você realmente deseja. Todo resto é secundário.” Uma frase que poderia ter sido dita por um monge tibetano ou um mestre taoísta, mas é de Steve Jobs.
Para alguém como eu, que cresceu numa família de agnósticos, o mantra era conhecimento, dedicação e consciência social. Naquela casa, o que faltava em ensinamentos sobre religião, da forma que conhecemos, sobrava em livros, jornais e música. Aos domingos, J.S. Bach (“Jesus Alegria dos Homens”), Chico Buarque (“A gente quer ter voz ativa. No nosso destino mandar”), Geraldo Vandré (“Vem, vamos embora, que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”) e Mercedes Sosa (“Gracias a la vida que me ha dado tanto. Me ha dado el sonido y el abecedario”) eram alguns dos nossos convidados.
Obviamente essa conclusão não é inédita nem exclusiva. Ao longo da história da humanidade, a maioria das culturas, ocidentais ou orientais, descobriu que certos usos deliberados da atenção poderiam transformar a percepção que se tem do mundo. Seja através de oração, meditação ou de atividades como ioga.
Em seu livro “Despertar: Um Guia para a Espiritualidade Sem Religião”, o filósofo e neurocientista Sam Harris explica que a cognição e a emoção são inseparáveis. O modo como pensamos a respeito de uma experiência pode determinar por completo como nos sentimos a respeito dela. Tanto por uma perspectiva científica quanto filosófica, conseguimos ter uma compreensão mais clara de como as coisas realmente são.
E o que isso tem a ver, na verdade, com a questão profissional? Tudo.
O conceito de inteligência espiritual foi desenvolvido por Danah Zohar, física e filósofa americana, autora do livro “QS Inteligência Espiritual”, que explora nossa capacidade de usarmos o espiritual, para ter uma vida com mais sentido.
De acordo com crenças, valores e ações corretas, busca-se equilibrar nossa razão e emoção com o mundo exterior, encontrando, assim, um sentido de pertencimento. Para muitos, não só um propósito de vida, como também o verdadeiro sentido da humanidade.
Mesmo para a OMS ( Organização Mundial da Saúde), saúde define-se como um estado dinâmico de completo bem-estar físico, mental e espiritual. E não a mera ausência de uma doença..
É fundamental permitir-se mudar, e incluir novos movimentos, que não estavam nos planos. Essa, realmente, tem sido a minha busca. De forma intencional e incansável. Compreender o sentido de fazer parte de algo maior, ao ampliar a nossa percepção de que somos todos interdependentes e interligados, nesse grande círculo de relações, em que vivemos.
Lucio Lactâncio, retórico cristão do Norte da África, atribui à origem do termo religião ao verbo religare, que significa “reconectar”.
Pode até soar estranho, mas tenho agradecido por todos os desafios, dificuldades e medos que têm chegado até mim. Me sinto mais conectada com a pessoa que quero ser.
Luciana Rodrigues é CEO da Grey Brasil, conselheira do board da Junior Achievement, membro do conselho da Iniciativa Empresarial pela Igualdade e do comitê estratégico de presidentes da Amcham. Também é aluna de pós-graduação em neurociências e comportamento.
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