Posso perder meu bônus? Como funciona a remuneração com ações

20 de janeiro de 2023
i'am/Getty Images

Entender a remuneração variável ajuda a planejar sua carreira e o tempo que terá de ficar na empresa

Muitos dos funcionários da Americanas, principalmente os que ocupavam postos gerenciais e de diretoria, estão neste momento refazendo suas contas para aposentadoria e revendo o que pouparam em anos de trabalho.

Como em outras empresas em que a 3G Capital (que até 2021 era controladora da varejista) impôs seu estilo agressivo de gestão de pessoas, na Americanas o salário fivaca abaixo da média do mercado, mas a liderança atraía profissionais com a promessa de remuneração variável composta por ações que já chegaram a valer mais de R$ 70 – e hoje mal passam de R$ 1. Faça a conta com algumas dezenas de salários e tenha uma ideia do tamanho do problema. Claro, trata-se de um caso isolado, mas é um tipo de remuneração, que está cada vez mais comum, pode sim trazer perdas.

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A prática de remunerar com ações aumentou com o advento de empresas de capital aberto no país. “Acaba sendo uma maneira de reter os profissionais por mais tempo e engajar pois todos se sentem um pouco donos”, diz Lucas Nogueira, diretor da consultoria de recrutamento Robert Half. Geralmente no contrato fica claro ao profissional quanto de seu bônus do ano virá em papéis da empresa e quanto virá em dinheiro vivo.

Entenda como funciona esse tipo de remuneração e veja o que perguntar na hora do contrato:

O que saber sobre ações e bônus logo de cara

Se a empresa usa – ou não – ações como composição no bônus, essa é uma informação que precisa ficar clara antes do momento da admissão. Ou pode ser dito mais adiante, caso a empresa venha a abrir capital no decorrer desse contrato. “O modelo mais comum é atrelar as ações ao desempenho individual, ou seja, ao bônus que você ganha pelo seu desempenho, e não à distribuição de lucros, embora isso também possa acontecer”, diz Lucas Oggiam, diretor executivo da Michael Page, consultoria de gestão de pessoas.

Pesquise um pouco mais

Obviamente você não será capaz de descobrir uma fraude, mas em situações normais vale a pena entender o estilo de gestão da empresa e dos sócios. “Estude o histórico de performance da empresa, perfil dos executivos e pergunte sobre o plano de negócio para entender o futuro da companhia e prever como essa remuneração pode ser afetada”, diz Fernanda Abilel, sócia da consultoria em remuneração How2Pay.

Startups usam ações para atrair talentos

Nesse tipo de empresa, o valor da sociedade pode ir muito além do combinado inicial. Quando uma startup é vendida por um preço alto no mercado, quem tem ações acaba ganhando um bom dinheiro com a valorização. “Nas startups, muitas vezes ações às vezes são dadas logo no começo do contrato, quando o executivo começa na empresa, como forma de atrair gente de peso”, diz Nogueira.

Quando as ações do bônus viram dinheiro?

Ao ter essa conversa, é importante entender mais sobre o vesting period, ou o tempo que o funcionário precisa esperar para que as ações prometidas possam, de fato, se transformar em dinheiro em sua conta. “No mercado, esse período varia entre dois e cinco anos”, diz Oggiam. Entender esse prazo vai ajudar a planejar seus investimentos e sua carreira: sair antes do prazo pode levar à perda do que foi acumulado nos anos anteriores.

E se as ações caírem?

Ao aceitar esse tipo de remuneração é importante saber que o dinheiro a ser recebido pode ser multiplicado – mas também que suas ações podem perder valor e, com isso, os bônus acumulados desaparecerem. Talvez não de maneira tão radical quanto aconteceu com os acionistas da Americanas, mas investimentos em renda variável têm essa característica.