Por que os melhores jogadores não se tornam os melhores técnicos? Para responder, vou contar uma das histórias que mais me moldou como líder. Em 2011, tive o privilégio de estar presente na United States Military Academy, em West Point, academia que forma oficiais do Exército Americano. Fui para participar de treinamentos que eram dados por líderes de combate, mas que também possuíam PhD em outras áreas do conhecimento, como matemática ou psicologia. Uma semana inteira inserido em um contexto que abordava, principalmente, a liderança. Nesse treinamento, nos trouxeram uma história real sobre um time de bombeiros dos Estados Unidos.
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Essa equipe possuía um líder extremamente capacitado tecnicamente para a função que exercia, mas pouco empático, que não foi capaz de conquistar a confiança de sua equipe, chegando à liderança pelo seu conhecimento, dono de um estilo autoritário. No mesmo time, havia um outro membro, o sub-líder, que possuía um forte carisma e, com isso, era visto pelo restante do time como alguém querido e a ser seguido. Com diferentes personalidades, desavenças começaram a surgir entre as duas figuras, e isso foi definitivo para o destino de todos da equipe.
Nesse momento, o experiente líder ponderou para os demais confiarem nele, pois sabia o que era necessário ser feito, e começou a colocar fogo na mata que estava próxima a eles. Entretanto, era difícil acreditar que a melhor maneira de escapar de um incêndio era criar outro. O sub-líder achou que aquilo era uma loucura, e, como não existia uma relação de confiança entre eles, esbravejou “para o inferno com isso, eu vou sair daqui”, levando consigo todo o restante do time, seus seguidores.
O líder permaneceu sozinho em meio ao incêndio. Graças a sua competência, sobreviveu, mas foi o único. Ele estava usando uma técnica de combate a incêndios hoje conhecida como “queima controlada”, que consistia em acender o fogo na mata ao seu redor, fazendo com que, ao se aproximar, o incêndio mudasse de direção. Infelizmente, os treze bombeiros que sairam correndo morreram no local ou logo depois.
Essa história me tocou profundamente. Como é que um líder pode levar seu time a um destino tão fatal, mesmo sabendo exatamente o que fazer num momento de crise? Refleti muito sobre a importância do caráter e carisma, empatia.
Importante! A confiança é construída em momentos de tranquilidade, em que tudo está caminhando bem. O líder precisará dela na hora em que a coisa esquentar. Se antes de uma crise você não construiu uma relação sólida e de confiança com seu time, não é durante ela que conseguirá.
Essa história me faz lembrar também do “Princípio de Peter” ou o “Princípio da Incompetência”, que afirma que os indivíduos tendem a ser promovidos até alcançcarem seu nível máximo de incompetência. Devemos promover alguém quando esta pessoa demonstra ter as capacidades necessárias para o próximo nível. Se for um cargo de liderança, espero que busquemos sempre líderes de competência e caráter.
André Felicíssimo é presidente da P&G Brasil