O ano era 2010. Eu e minha família tínhamos mudado de país em julho. Cheios de expectativas, incertezas, curiosidade, fomos eu, minha esposa Cláudia e nossos filhos de 10 e 7 anos. Encontramos nossa casa, escola, começamos a fazer novos amigos. Poucos meses depois, em novembro, fomos confrontados com uma notícia devastadora: num exame de rotina, Cláudia foi diagnosticada com câncer de mama.
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Insegurança, tristeza, medo, raiva, questionamentos e incertezas inundaram nossos pensamentos. Por que nós? E agora? Tem que operar? E o trabalho? Tem cura? Voltamos pro Brasil? Contamos pras crianças? Choramos muito. Permitimos que todas essas emoções nos dominassem durante 48 horas. Minha primeira lição foi essa. Deixar as emoções fluírem: Empatia.
Decidido. Cirurgia no Panamá e bora pro Brasil passar Natal com a família e esperar o tratamento. Eu não poderia entrar na sala de cirurgia e garantir que tudo daria certo. Eu não poderia fazer nada além de esperar e manter a calma, com esperança e fé de que tudo daria certo. Foi quando aprendi minha terceira lição. Concentrar no que posso controlar: Ação.
Nunca valorizei tanto os amigos como nessa jornada. Durante a primeira cirurgia, eu estava sozinho, aguardando ansiosamente pelas horas intermináveis daquele procedimento arriscado. Comecei a trocar e-mails com nossos amigos de faculdade. Foi uma mistura de palavras de apoio e lembranças de histórias que vivemos. Como era nossa turma, o início do nosso namoro, os professores memoráveis, viagens. Eu senti como se estivessem ali, segurando minha mão. Essa comunicação evoluiu para a criação de um grupo nas redes sociais, que estavam começando a aparecer. E o grupo nunca mais se desfez.
Aprendi que, em situações complicadas, é fácil supor que a pessoa quer ficar sozinha ou que já recebeu apoio suficiente. Ledo engano. Não dá para adivinhar como cada um vai reagir. A partir dessa experiência, se tenho alguém próximo passando por uma situação difícil, vou procurar, até incomodar, mas estarei lá, demonstrando meu amor.
Felizmente, em alguns meses minha esposa concluiu o tratamento e voltou para casa. Já se passaram bem mais de 5 anos, e ela está curada. Claro que, na época, não foi fácil, e eu não estava consciente das estratégias que meu inconsciente me ajudou a criar para enfrentar essa situação, mas a distância me permitiu observar e tirar aprendizados valiosíssimos.
Assim, aplico a regra das 48 horas em todas as situações de crise que enfrento, seja pessoal ou profissional. Permito-me sentir o que for necessário nas primeiras 48 horas, entender os sentimentos dos outros, e a partir desse momento, começo a aprender tudo que for possível para embasar minhas decisões, e foco no que posso controlar. Empatia. Aprendizado. Ação. Essa é para mim a fórmula para enfrentar crises com a atitude correta. Apliquei a mesma fórmula, por exemplo, para enfrentar a pandemia. Agindo assim, quem sabe, depois da crise, tudo o que ficará serão as memórias de um espaguete de parede.
*André Felicíssimo, presidente da P&G Brasil