“Por que algumas relações no trabalho precisam ser tão conflituosas? Que raiva.”
Maria Teresa, psicóloga e socióloga, segue uma linha junguiana que explora os elementos mais profundos do ser humano, observando o real em vez daquilo que é apresentado para o mundo exterior. Com uma habilidade única, construída após uma longa estrada percorrida com muita dedicação à Psico-Oncologia, ela nos conduz com maestria ao tão desejado autoconhecimento.
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“Lu, o que é felicidade para você?”, ela perguntou.
“Família, saúde, amigos, sorvete, e por aí vai”, respondi.
Lembrei do que diz Simone de Beauvoir: “Conhecimento próprio não é garantia de felicidade, mas isso está ao lado da felicidade e pode fornecer a coragem para lutar por ela” Ela nunca me decepciona. A coragem e a felicidade estão, sim, conectadas.
“Tristeza não tem fim/Felicidade sim/A felicidade é como a pluma/Que o vento vai levando pelo ar.” Vinícius de Moraes não teve receio algum em proclamar que a felicidade é efêmera. Impossível viver feliz o tempo todo. Concordo muito, poetinha.
Já Albert Einstein disse que “uma vida calma e modesta traz mais felicidade do que a busca do sucesso combinada com uma constante inquietação”. Que ousadia a minha questionar um gênio, mas não acho que seja tão simples assim definir felicidade.
Cheguei aonde Maria Teresa queria.
Felicidade é gratidão
Minha terapeuta tinha acabado de participar de um congresso internacional da felicidade e estava esbanjando conhecimento sobre o assunto. A minha pergunta parecia perfeita para o momento.
“Lu, depois de três dias de palestras com os maiores líderes mundiais, ouvindo médicos, psicólogos, sociólogos, cientistas, neurocientistas e escritores debaterem sobre felicidade, posso resumir para você que felicidade é igual gratidão“. Bingo.
A psicologia nos ensina que lembramos de experiências traumáticas com maior intensidade do que das positivas. Tomamos as críticas mais a sério do que os elogios (especialmente nós, mulheres). Passamos mais tempo pensando em eventos ruins do que bons. Prestamos mais atenção às situações dolorosas porque as sentimos com mais intensidade.
Essa tendência para a negatividade é resultado da evolução humana. Os mais atentos aos perigos tinham mais chances de sobrevivência. O nome dessa tendência mental é “viés da negatividade”, estudado pelos psicólogos comportamentais Amos Tversky e Daniel Kahneman (ganhador do Nobel de Economia). Esse viés cognitivo faz com que uma relação ruim possa acabar anulando todas as coisas positivas que decorreram dela, por exemplo.
Maria Teresa me entregou numa bandeja as peças que faltavam daquele quebra-cabeça que eu estava montando.
Decidi que era hora de assumir a gratidão que sentia pela história de fracasso que vivi com um ex-chefe.
Jamais teria saído da empresa onde investi dez anos da minha carreira e era extremamente feliz e realizada se não estivesse tão insatisfeita. Trabalhamos juntos por menos de um ano e foi o suficiente para perceber que não concordávamos em praticamente nada. Tínhamos estilos de gestão opostos e apesar de admirar sua inteligência, não compactuava com seus valores.
O fundador da Comunicação Não Violenta, Marshall Rosenberg, definiu sabiamente que “o que os outros fazem pode ser o estímulo para nossos sentimentos, mas nunca a causa.”
A infelicidade que estava sentindo foi o estímulo que precisava para ir ao maior e mais enriquecedor desafio profissional da minha carreira, onde tive a líder mais extraordinária e inspiradora que poderia desejar, Gretchen Colón, e a oportunidade de participar em 2017 da maior premiação de cinema do mundo, o Oscar. Leonardo di Caprio e Nicole Kidman podem confirmar a informação.
Mais do que realização profissional, aquela situação desfavorável me deu a oportunidade de viver novas experiências que mudaram a minha vida. Reconhecer os nossos sentimentos é o primeiro passo. Buscar ajudar através de autoconhecimento, e assim desenvolver um repertório emocional, é o único caminho a ser percorrido.
Se o maior objetivo da humanidade é a busca da felicidade, pratique quem você quer ser todos os dias. Não importa o que você faça, os momentos ruins serão mais frequentes e intensos (sim, a culpa é do maldito viés de negatividade). Ensine o seu cérebro a transformar seus piores sentimentos em gratidão.
A gratidão pode impactar positivamente não apenas nossos cérebros e nossa saúde física e mental, como também nossas equipes, organizações e, consequentemente, a sociedade. Existe uma energia curadora no ato da gratidão.
Agora sim me sinto preparada para compartilhar que felicidade para mim é também tomar o meu café curto, todas as manhãs, ouvindo Nina Simone cantando “Feeling Good”.
Luciana Rodrigues é executiva C-level do setor de comunicação, mentora e conselheira.