Nas entrevistas qualitativas com mais de 10 mil profissionais de cinco países da região (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e México), flexibilidade foi o benefício inegociável mais citado pelos entrevistados (46%), muito à frente do plano de saúde (24%) e do vale-alimentação (19%).
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Frustração com a falta de flexibilidade
Hoje, 55% dos profissionais brasileiros estão frustrados com seus trabalhos. E o principal motivo é a falta de flexibilidade, à frente do salário (citado por 14%) e da falta de processos (11%). Essa ordem vale para todas as gerações, com exceção dos baby boomers, profissionais na faixa entre 60 e 80 anos, que lideram a insatisfação (60%) e estão frustrados especialmente com o salário e a falta de reconhecimento.
Profissionais da geração X (52%) – entre 45 e 50 – ocupam o 2º lugar no nível de frustração, seguidos da geração Z (46%), aqueles de 26 a 13 anos, e millennials (42%), que têm de 27 a 42 anos.
A flexibilidade desejada pelos profissionais não é apenas em relação ao modelo híbrido, mas também envolve jornadas flexíveis e participação na definição das políticas de trabalho. O impacto disso não se dá só na vida profissional, mas também na saúde mental, no bem-estar e na qualidade das relações fora do trabalho.
Além disso, 63% dos entrevistados consideram que a flexibilidade ajuda a promover a diversidade nas equipes. Para 58% das pessoas com filhos, por exemplo, o híbrido é o melhor modelo de trabalho. “O híbrido gera mais oportunidades para pessoas que são mães e para quem mora em outras regiões fora das grandes capitais”, diz Neves.
Em linha com essa busca por mais flexibilidade, 83% dos colaboradores gostariam de trabalhar quatro dias na semana, um projeto que foi bem-sucedido internacionalmente e começa a ser testado por empresas no Brasil. 77% das pessoas acreditam que seriam mais produtivas com uma semana mais curta de trabalho. Outras 17% têm preocupações, como a dependência da presença física em algumas posições, como as comerciais, e a distribuição da carga de trabalho. “Trata-se, sobretudo, de mudança de mentalidade, com melhora de eficiência e em processos”, diz Neves.
Queda do trabalho híbrido
Os dados mostram que o trabalho híbrido sofreu uma queda no Brasil, enquanto os modelos 100% presencial ou remoto estão mais presentes no país do que no ano passado.
- Híbrido: sofreu redução de 14%, passando de 78% em 2022 para 64% em 2023;
- Presencial: subiu de 10% em 2022 para 18% em 2023;
- Remoto: subiu de 12% em 2022 para 18% em 2023.
Isso varia de acordo com a política de cada empresa, mas a maioria dos profissionais (63%) gostaria de ir ao escritório de um a dois dias na semana. E entrevistados de todas as gerações concordam que uma política de trabalho 100% presencial tem um impacto negativo na felicidade e satisfação.
- 64% das pessoas vão ao escritório de duas a três vezes por semana;
- 21% trabalham presencialmente uma vez na semana;
- 10% vão escritório quatro vezes por semana;
- Apenas 3% trabalham presencialmente cinco dias na semana.
Mas, segundo a pesquisa, as decisões sobre os modelos de trabalho estão concentradas nas mãos das empresas e dos líderes (60%), e não dos funcionários. Apesar disso, os brasileiros têm mais autonomia para definir o seu modelo (27%) quando comparado à média da região (18%). “A tensão entre expectativa e realidade se torna cada vez mais forte, já que a base da pirâmide ganhou força e não aceita mais decisões unilaterais das empresas”, diz Neves.
Isso exige o trabalho conjunto entre profissionais de RH e lideranças para entender as necessidades dos funcionários e orquestrar soluções para atrair e reter os melhores talentos. “Ao perceberem que muitos profissionais estão abertos a oportunidades mesmo estando empregados, as empresas vêm tomando medidas para se adaptar e ter sucesso, como investir no desenvolvimento e na progressão de carreira de seus colaboradores atuais”, afirma Lucas Toledo, diretor-executivo do PageGroup.
Escritório é espaço para conexões
Entre os principais motivos que levam as pessoas ao escritório hoje estão:
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- Integração de equipes e relacionamentos interpessoais (48%);
- Obrigatoriedade (29%);
- Aumento na produtividade (12%);
- Infraestrutura (7%).
Nas entrevistas qualitativas, os entrevistados também citaram resolução ágil de problemas, eficiência na tomada de decisões, comunicação e contato pessoal e networking. “Todos têm a ver com relacionamentos”, observa a diretora-geral da WeWork.