“Temos que atrelar os objetivos de negócio aos nossos sonhos”, diz nova diretora da Intel

1 de novembro de 2023
Wanezza Soares/Intel

Há 20 anos na Intel, Bárbara Toledo foi promovida a diretora de estratégia de consumo e varejo na América Latina

Em 20 anos de empresa, Bárbara Toledo passou por diferentes áreas e posições na Intel. “A cada três anos, sinto que estou em um trabalho diferente”, diz a executiva, que começou no marketing, passou pelo comercial e assume agora como diretora de estratégia de consumo e varejo na América Latina. “Temos que atrelar os objetivos de negócio aos nossos sonhos”, foi o que ela pensou ao dar esse último salto.

A executiva atribui sua chegada a esse ponto na carreira à formação técnica, “que sempre joga a favor”, somada a uma busca intencional pela liderança e demonstração de resultados. “É o que fez e faz a diferença quando você está em um processo seletivo.”

Em uma indústria em constante transformação, também se mantém atenta às movimentações do mercado e em contato com parceiros e diferentes empresas. Se hoje brilha os olhos falando de inteligência artificial, Bárbara ficou fascinada quando teve contato com um computador pela primeira vez, no início da década de 1990. Foi o que bastou para deixar de lado a ideia de cursar arquitetura e seguir na área de tecnologia. “A faculdade de engenharia abriu um leque gigantesco de possibilidades.”

Para pagar a faculdade particular, trabalhou desde os 17 anos dando curso de robótica em escolas infantis e aulas de informática. Aos 23, teve a possibilidade de deixar o emprego com carteira assinada e começar um estágio em marketing na Intel, iniciando sua trajetória na empresa. Aqui, a executiva conta como sua visão generalista ajudou a desenvolver sua carreira e como enxerga as oportunidades no setor de tecnologia com a chegada da IA.

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Forbes: O que você acha que te destacou para assumir o novo cargo e continuar subindo na empresa nesses 20 anos?

Bárbara Toledo: Acho que foram várias coisas. Uma vivência diversa, passei pelo marketing, fui para a área comercial, mas antes disso tinha uma noção muito clara de finanças. Hoje, nas nossas discussões de negócio, enxergo pontos e experiências que fui acumulando na minha carreira.

Por ter sido analista financeira de receita, entendo os impactos disso no negócio. A experiência de marketing conta para se posicionar e comunicar com o usuário final para gerar uma ação e um impacto positivo. E a experiência comercial e do ecossistema para tentar unir todas essas coisas. Essa experiência de diferentes áreas faz com que eu tenha uma visão mais generalista. E com certeza o fato de ter uma formação técnica sempre ajuda. 

F: E quais os benefícios de construir a carreira numa mesma empresa?

BT: No meu caso em específico, acho que só tiveram coisas positivas. Mesmo estando há 20 anos na Intel, nós trabalhamos com toda a indústria e bastante coisa mudou. As pessoas brincam que eu conheço muita gente e eu percebi isso nessa última movimentação, mas quando você tem uma carreira longínqua, você pode construir essas conexões, trabalhar projetos em parceria e ir agregando conhecimento e aportando esses benefícios para a empresa. Um dos meus maiores objetivos nessa transição era conseguir aumentar o meu poder de atuação, ou seja, estava pensando como eu poderia contribuir mais. O que eu sempre digo é que a gente tem os nossos objetivos de negócio, mas a gente também tem que atrelar isso aos nossos sonhos, para dar aquele aquele gás a mais.

F: Nessas duas décadas em que muita coisa mudou e a indústria continua se atualizando, como você se adapta e se mantém uma profissional relevante?

BT: Todo engenheiro é curioso, eu me sinto meio nerd. Então acho que o primeiro passo é ser uma eterna curiosa, acompanhar todos os desenvolvimentos de tecnologia que estão vindo por aí e entender como eles podem impactar a sociedade e o ecossistema. O último deles, que é uma questão que temos falado muito, é a AI PC, ou seja, os PCs com inteligência artificial. A Intel tem lançamentos agora em dezembro e muitas novidades para o ano de 2024 que vão mudar a forma como a gente usa o computador, e isso vai trazer várias possibilidades. E estar sempre em contato com os nossos parceiros e em diferentes ambientes porque a inovação pode surgir de qualquer lado. Na indústria de finanças, por exemplo, várias inovações surgem de startups, de empresas pequenas, não é à toa que vários bancos contam com as suas incubadoras. Estar em contato com o novo e com um ambiente diverso, não só de pessoas, mas também de empresas, é crucial para se manter um profissional interessante.

F: Como você recebe a inteligência artificial? Qual o impacto que você tem observado nas carreiras de tecnologia?

BT: De forma super positiva. A inteligência artificial é aliada do ser humano. Eu sei que para algumas pessoas pode causar um certo medo, mas a gente já passou por várias evoluções na história da humanidade e toda nova tecnologia que é introduzida pode mudar a forma como a sociedade está organizada. Pode mudar a forma como a gente trabalha no dia a dia? Com certeza. Mas o objetivo da Inteligência Artificial é nos dar mais capacidades para produzir mais, ser mais eficientes. Então vejo de forma positiva, assim como a gente viu o PC chegar nos lares das pessoas, assim como a gente está vendo a internet, a inteligência artificial com certeza vai trazer muitos benefícios para as empresas e também para as pessoas em geral. 

F: Como foi ser liderada por pessoas de outras culturas? E como é hoje liderar e trabalhar com pessoas de diferentes países?

BT: É algo que eu adoro. Ser liderada por pessoas que não conhecem tanto a cultura ou não estão tão presentes no nosso mercado é uma super oportunidade porque você acaba tendo a responsabilidade de posicionar a sua cultura, o seu país e as oportunidades de negócio que a gente tem aqui em um formato que uma pessoa de uma cultura diferente possa entender. Essa “tradução” é crucial. E parafraseando a nossa líder da América Latina, a gente faz negócios com pessoas, não é business to business, é people to people, então a interação com as outras pessoas e culturas é crucial para que todos colaborem mais e a gente possa evoluir mais rápido.

F: Qual foi o turning point da sua carreira?

BT: Foram dois. O fato de dar um passo “para trás”, 20 anos atrás, quando deixei um trabalho de carteira registrada para ser estagiária na Intel e ter a oportunidade de vivenciar algo novo. Isso foi crucial, entender que eu não preciso ser 100% técnica, não preciso ser a melhor programadora e posso ter uma experiência diferente. E a transação do marketing para vendas, um pouco antes da pandemia, que fez com que eu me tornasse uma profissional mais completa, menos especialista e mais generalista. E fiz isso conversando com pessoas sobre as possibilidades e com aliados ao meu lado. Porque uma movimentação grande dá aquele friozinho na barriga, mas crescer dói mesmo. Se você não está sentindo o frio na barriga, talvez já esteja na hora de mudar de novo. 

F: A liderança foi algo que você planejou? Como foi para uma profissional mais técnica assumir a gestão de pessoas?

BT: Foi um pouco natural, mas não vou negar que foi planejado. O que fez e faz a diferença quando você está em um processo seletivo é mostrar resultados. Sempre estar disposta a liderar diferentes projetos, mesmo que não sejam ligados à sua área, o fato de você se propor mesmo sendo um profissional sem um time a coordenar projetos, ter experiência de trabalhar com times de diferentes áreas, tomar responsabilidade mesmo sem ter o cargo. O ser humano aprende muito mais com a experiência do que com a teoria, então com certeza ter essa visão holística e aceitar projetos faz toda a diferença. E aí a preparação para liderar pessoas vem em paralelo. A gente é muito rico de formação aqui dentro da Intel, tem diferentes cursos, muito conteúdo que te ajuda a se preparar, mas a vivência com as pessoas é o que faz a diferença.

F: Quais oportunidades você observa na indústria de tecnologia hoje? 

BT: Algumas coisas me fazem incentivar as pessoas a entrarem na área de tecnologia. A primeira é a oportunidade, porque é uma área que sempre cresce, e nós temos um déficit gigantesco de profissionais de tecnologia aqui no Brasil. A pandemia mostrou que profissionais de tecnologia podem trabalhar em qualquer lugar do mundo. A gente tem vários casos de nômades digitais, que trabalham a partir do Brasil para organizações de diferentes lugares. Também tem a oportunidade de estar sempre ligado ao novo, ao que está por vir, e a questão da diversidade, porque hoje quando a gente olha para o mercado de tecnologia, ele ainda não é diverso. A tecnologia está mudando o mundo e se a gente quiser garantir que ela vai funcionar e trazer oportunidade para todos, a gente precisa ter diferentes representantes da sociedade trabalhando nessa área. Afinal, são eles que vão escrever as novas linhas de código. 

F: Como você citou, a tecnologia ainda não é uma indústria diversa. Mas você enxerga uma evolução desde que entrou na faculdade até hoje?

BT: Impossível em mais de duas décadas não enxergar mudança. Eu também mudei, e ainda bem. Quando eu estava pensando em fazer engenharia, o ITA, que é uma das melhores escolas de engenharia do Brasil, não aceitava mulheres. E eu não me revoltava com isso, eu achava que era normal, infelizmente não estava disponível para mulheres. E hoje eu questiono as coisas e também incentivo a minha filha a questionar. E quando eu olho para para uma sala de aula, como os alunos interagem entre si, algumas brincadeiras e posturas que eram permitidas no passado, não são mais. Assim como no mercado de trabalho. E que bom. O que talvez fosse uma luta de soldado solitário, hoje você já encontra mais aliados. Hoje eu vejo que não basta sentar na mesa, você tem que ter consciência de qual é o seu papel nessa mesa. É chamar a atenção para aquilo que ainda pode melhorar e evoluir. É usar a sua voz para provocar as pessoas a pensar diferente.

F: O que você indicaria em termos de formação e experiência para alguém com a ambição de trabalhar nessa área?

TB: Não dá para fugir muito da área de STEM – ciências, tecnologia, engenharia e matemática. São áreas básicas, que vão te dar conhecimento, raciocínio lógico e vão ajudar em tudo na vida.  

F: Como foi a experiência de liderar o grupo de afinidade de mulheres na América Latina?

BT: Foi uma super oportunidade durante a pandemia. Esse grupo recebe o nome de WIN – Women at Intel Network. É um grupo global que já tem mais de 25 anos de existência, começou lá nos Estados Unidos e foi se expandindo. Foi uma experiência incrível, porque a gente apoiou e discutiu projetos dentro da América Latina de diferentes formatos. Nós temos site aqui no Brasil, na Argentina, temos uma fábrica na Costa Rica, um centro de desenvolvimento no México, e outros escritórios espalhados pela América Latina, então só dentro da região, apesar de sermos todos latinos, temos diferentes culturas. E aí mais uma vez o meu papel era fazer a interlocução entre o time global e o time local. E uma das coisas que eu me orgulhava muito de contar para o time global era que o grupo WIN na América Latina era o grupo com maior número de homens participantes porque é muito importante que a gente tenha os homens participando dessa conversa, engajando e agindo como agentes de mudança.

Por quais empresas passou

Intel, Johnson Controls, ABC Expurgo, Neomídia Informática

Formação

Engenharia de produção elétrica – FEI

Primeiro emprego

Como professora de informática na Neomídia Informática

Primeiro cargo de liderança

Gerente de marketing na Intel

Tempo de carreira

25 anos

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