![forbes basquete logo nba](https://forbes.com.br/wp-content/uploads/2025/02/forbes-basquete-logo-nba-768x512.jpg)
Durante uma aula de inglês, meu professor me apresentou uma propaganda da NBA que mostrava um homem comum em diferentes situações cotidianas, como no check-in de um hospital, chegando para jantar em um restaurante no qual tinha uma reserva e recebendo uma entrega de pizza em casa. O ponto é que o nome deste homem era bastante peculiar: Michael Jordan. E o vídeo passa uma sensação meio tragicômica, porque a decepção fica estampada no rosto de todos os personagens quando percebem se tratar de um homônimo do grande astro do basquete, enquanto o slogan “it’s not crazy, it’s sports” (não é loucura, é só esporte) nos lembra que algumas coisas geram paixão além da compreensão.
Coincidentemente, logo depois estive em algumas partidas de basquete da NBA e era impossível não me lembrar da propaganda. O time da casa perdeu feio em todas as partidas que assisti. Claramente, muitos dos torcedores eram locais e acompanhavam a má fase do time. Mas voltavam. E, mais do que isso, torciam loucamente e impulsionavam o time a cada lance de ataque e de defesa que se alternavam.
Leia também
Enquanto isso, eu pensava: “Que loucura! O ‘cliente’ paga caro, não tem o resultado desejado, e continua voltando e fazendo sua parte com a mesma devoção”, reforçando o tal slogan da propaganda.
Foi aí que me lembrei de uma palestra que assisti do Eric Hutcherson, então VP executivo de RH da NBA. Ele falava sobre o fato da companhia ser uma empresa orientada por valores, por ser um negócio que deve gerar inspiração e energia.
Para conseguir esse efeito, não bastava que eles tivessem uma estrutura financeira sólida e pagassem um bom salário. Eles precisavam contratar e desenvolver os líderes certos, com as crenças, valores e competências corretas, porque as pessoas estão observando. Os profissionais querem saber se podem estampar o nome desta empresa em suas mídias sociais e sentir orgulho. Você “compra” a sua empresa? Recomendaria? Sente orgulho?
A remuneração é só uma parte do EVP (Employee Value Proposition), e são necessárias muitas outras iniciativas dentro das ofertas de valor trabalhadas pelas áreas de RH para que uma empresa seja capaz de atrair, motivar, engajar e reter talentos adequados. Aliás, desde o processo de atração, é preciso garantir que o profissional tenha alinhamento aos valores e à cultura da empresa, porque, se não tiver, nenhuma ação será suficientemente boa ou eficaz.
Na NBA, acima dos valores, eles têm um “chamado”. Algo que inspira, que estabelece as premissas fundamentais que guiam a empresa e quem nela trabalha: “Competir com intensidade, liderar com integridade e inspirar o jogo.” Isso define quem eles são e transborda a mensagem de uma forma visceral para os clientes.
- No quesito “intensidade”, o que se espera é que as pessoas trabalhem para serem melhores do que eram ontem, e não melhores do que os colegas. Se todos pensassem assim, quão incrível seria a sua empresa?
- Sobre “integridade”, espera-se que os profissionais façam o que se comprometem a fazer. Que sejam pessoas com quem se pode contar. Que os líderes sejam figuras em quem os times possam confiar.
- E quanto a “inspirar”, trata-se de promover um ambiente em que as pessoas sintam prazer de trabalhar e que estejam apaixonadas pelo que fazem. Esperam que o que a marca reflete para fora seja exatamente o que se percebe do lado de dentro, entre os profissionais.
Isso gera um ciclo virtuoso: os profissionais trabalham para inspirar os torcedores, que respondem com uma paixão que alimenta não só os jogadores, mas toda a equipe nos bastidores que promove o show.
É claro que a remuneração dos jogadores da NBA é um capítulo à parte. Eles são mais do que as estrelas da festa, são o produto comercializado, e são remunerados como tal. Mas notem que, mesmo com salários milionários e premiações baseadas no desempenho do time e nas estatísticas individuais, ainda assim só haverá um vencedor. E a magia precisa continuar para além da partida. O valor dos profissionais não deve ser medido somente quando se está no topo do ranking, mas sim pela consistência do trabalho realizado e pela dedicação empregada antes, durante e depois de cada campeonato.
E na sua empresa? Há magia para além do salário e do bônus ou só há engajamento atrelado a recompensas financeiras? Só as “estrelas” respondem pelo resultado ou todos se sentem responsáveis pelo show? Vale a reflexão.
*Fernanda Abilel é professora na FGV e sócia-fundadora da How2Pay, consultoria focada no desenho de estratégias de remuneração.
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.