Letícia Nanci: O olhar da dermatologia para os cosméticos veganos

12 de julho de 2021
Mizina/Getty Images

O mercado global do setor cresce numa faixa de até 25% ao ano e deverá atingir US$ 25,11 bilhões até 2025

A busca por cosméticos sustentáveis, veganos e cruelty-free configura-se, cada vez mais, como uma das grandes tendências para o mercado  de  beleza.  Isso  é  reflexo  não  apenas  do  comportamento  do  consumidor,  que  mudou  muito  nos  últimos  anos  (segundo  pesquisas,  dois  terços  da  população  está  disposta  a  pagar  mais  por  produtos  e  marcas  sustentáveis,  sendo a geração Z uma das mais atentas a isso), mas  também  da  pandemia  do  coronavírus,  que  acendeu  os  holofotes  para  as  questões  do  autocuidado atrelado ao cuidado ambiental e à consciência limpa. Como resultado, temos um consumidor  atento,  das  prateleiras  dos  mercados  aos  salões  de  beleza  e,  até  mesmo,  nos  consultórios de dermatologia, à composição e à  origem  dos  produtos  que  consome,  fazendo  questão  de  se  informar  se  eles  são  feitos  com  ética  e  sustentabilidade,  sem  testes  em  animais  e  com  reduzidas  emissões  de  carbono.

Os  números  não  me  deixam  mentir:  de  acordo  com  o  relatório  da  Grand  View  Research, o mercado global de cosméticos veganos  cresce  numa  faixa  de  até  25%  ao  ano,  em  média  10%  a  mais  do  que  o  mercado  de  cosméticos  comuns,  e  deverá  atingir  US$  25,11  bilhões  até  2025.  Na  Inglaterra,  segundo  a  consultoria Reds, houve um aumento de 50% na procura por cosméticos veganos. No Brasil, a pesquisa Ibope de 2018 revelou que 55% dos brasileiros dariam preferência a produtos veganos se houvesse indicações nas embalagens ou  se  custassem  o  mesmo  valor  dos  produtos  convencionais.   Além   disso,   segundo   a   pesquisa  da  Nielsen  Brasil  (outubro  de  2020),  o  consumo  sustentável  é  tido  como  prioridade  para  32%  dos  brasileiros,  e  o  segmento  “verde”  concentra  18,2%  do  faturamento  total  do  mercado de higiene e beleza.

No  que  diz  respeito  à  dermatologia,  sabemos  que  estudos  sobre  o  impacto  do  veganismo na sociedade são cada vez mais comuns, e claro  que  isso  causa  impactos  na  medicina.  A  Sociedade  Brasileira  de  Dermatologia  (SBD)  ressalta  que  é  importante  conhecer  o  que  os  mercados   farmacêuticos   e   cosméticos   dispõem para que exista um alinhamento do tratamento  prescrito  à  expectativa  do  paciente.  Isso não significa que os médicos tenham que abrir  mão  de  seus  diagnósticos  e  recomendações,  mas  que  possam  se  adequar  a  essa  demanda ao sugerir um cosmético, por exemplo, que não seja testado em animais. É importante ressaltar   que   não   existem   evidências   científicas de   que   o   uso   desses   cosméticos   traz   maiores benefícios nos cuidados com a pele ou cabelos. No nosso centro de terapia capilar, já realizamos um protocolo para cuidar da saúde dos  fios  e  do  couro  cabeludo  totalmente  personalizado, usando produtos naturais e veganos. Porém, é importante deixar claro que, em situações  de  gravidade,  o  médico  deve  pontuar  a  importância  do  tratamento  indicado.

Outro  fator  que  deve  ser  levado  em  conta  é  que,  apesar  de  ser  uma  defensora  da  beleza  sustentável,  os  cosméticos  veganos  não  têm  uma atuação melhor que os demais. Existe um marketing que fortalece a ideia de que os produtos  veganos  não  causam  irritações  ou  alergias na pele, mas isso não se aplica na prática, uma  vez  que  existe  a  indicação  correta  para  cada tipo de pele e de paciente. Ainda segundo a  SBD,  atualmente,  vários  dermocosméticos  não são testados em animais, porque seus ativos já foram testados no passado e se mostraram seguros e eficientes. No entanto, é pouco provável que surjam novos ativos eficazes sem testes de segurança, pois os riscos de eles provocarem  graves  efeitos  colaterais  são  altos.  Ainda  não  é  possível  prever  o  futuro.  As  evidências, contudo, mostram que o estilo de vida vegetariano/vegano veio para ficar. E a comunidade  médica  tem  procurado  se  adequar  a  essa  nova  realidade  com  responsabilidade. 

Dra. Letícia Nanci é médica do Hospital Sírio-Libanês, médica responsável pela Clínica Dermatológica Letícia Nanci; membro efetivo da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD); da American Academy of Dermatology (AAD) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD)

Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.


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