Burnout não é um tema tão novo assim, mas ele tem sido cada vez mais comentado, principalmente depois que a Organização Mundial da Saúde o incluiu na sua Classificação Internacional de Doenças (CID) como doença ocupacional.
Burnout não é uma doença, mas um quadro de esgotamento total (físico, mental e emocional), cuja razão principal para o seu aparecimento vem do ambiente de trabalho. Ou seja, sentir-se esgotado por qualquer outro motivo – filhos, família, excesso de atividade física – não é burnout.
Muito se tem falado, porque os pedidos por afastamento em decorrência de esgotamento já eram enormes em 2018, antes da pandemia. Dados da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho davam conta que entre 2017 e 2018 os pedidos de benefícios de auxílio-doença relativos ao burnout haviam crescido 114,8%. Não temos números mais recentes, mas especula-se que, com a pandemia, isso tenha crescido até mais.
Entretanto, pouco se tem publicado sobre a vida pós-burnout. Como fica a pessoa que tem de voltar ao trabalho se ela precisou se afastar?
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Burnout não é algo fácil de administrar no ambiente de trabalho. O estigma que cerca esse tema torna o retorno ao escritório difícil: é como se rotulassem aquela pessoa que está sofrendo de fraca, de não conseguir aguentar o tranco das tarefas ou metas. Muitas vezes, até porque chefe e colegas, por conhecerem o desempenho daquela pessoa pré-esgotamento, esperam dela a mesma performance de imediato. E não é bem assim.
Burnout não é um esgotamento qualquer. Há pessoas que pensam inclusive em tirar a própria vida, choram muito, não conseguem se levantar da cama, sofrem de pânico para dirigir, vomitam. Selecionei alguns dos mais sérios, mas esses são apenas alguns sintomas dentre uma variedade enorme deles. Por isso, dificilmente quem precisou parar de trabalhar por um tempo terá o mesmo desempenho que antes, principalmente nos primeiros dias, semanas e até meses de trabalho.
Alguns pesquisadores têm se dedicado a estudar a volta ao trabalho para saber o que ajuda e o que não ajuda na reintegração daquela pessoa que ficou doente. Um desses trabalhos, publicado em outubro de 2021, mostrou que líderes imediatos com uma visão humanista, capazes de apoiar os seus liderados, e profissionais de RH abertos à contratação de candidatos com histórico de burnout são importantíssimos para que a volta ao trabalho ou a contratação de alguém que sofreu disso tenha qualidade e o colaborador não seja tão prejudicado.
Por isso é tão importante orientar e qualificar todas as lideranças (imediatas ou não), bem como as de RH, pois elas fazem esse importantíssimo meio de campo entre o colaborador e a empresa contratante.
Um ponto muito importante: como o burnout é derivado do ambiente de trabalho, apenas o médico ou o psicólogo do trabalho estão habilitados a fazer esse diagnóstico. Só eles conseguem atestar que a causa primária está no trabalho.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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