Não é luto, é luta!

1 de maio de 2016

Ronaldo fracassou na Copa de 1998 para brilhar na final de Yokohama, no Japão, quatro anos depois (Getty Images)

Fazia poucos dias que um país inteiro vestido de verde e amarelo invadira as ruas de cidades de norte a sul da nossa enorme nação para protestar contra o atual governo — e contra a classe política em geral — e clamar por mudanças quando notícias vindas de Brasília davam conta de que o ex-presidente Lula iria tomar posse como ministro da Casa Civil, num claro movimento — a julgar pelas escutas telefônicas que ele fora alvo, tornadas públicas no mesmo dia — para evitar que encarasse a Operação Lava Jato e sua destemida linha de comando.

Bastou a posse de Lula como ministro — sustada logo em seguida por ações liminares e mais recentemente por uma decisão de um ministro do STF — para que as redes sociais (pelo menos as minhas) fossem invadidas por postagens com mensagens de LUTO e pesar por tudo o que estava acontecendo. Confesso que ainda não descobri o que iniciou esse movimento, que, assim como outras modas virtuais, viralizou rapidamente. Mais do que de repente, a maioria dos meus contatos se declarava em luto. O preto passou a ser a cor oficial de boa parte das pessoas.

Não vejo, honestamente, problema algum em pessoas expressarem um descontentamento pessoal ou coletivo em movimentos orquestrados como esse por exemplo de trajar preto… O que me incomoda, entretanto, é essa postura de derrota e resignação que uma enorme parcela adota ao declarar LUTO diante de uma adversidade. Acho mesmo que o brasileiro, em geral, precisa repensar essa postura e fazer um ajuste fino nesse sentimento.

LEIA MAIS: Todas as colunas de Antonio Camarotti

Eu não conheço nenhuma pessoa de sucesso que tenha ficado de luto ou tenha se resignado diante de problemas ou fracassos. Muito pelo contrário: nesses momentos, eles se tornaram ainda mais fortes e determinados. Foi ali que eles se pintaram para a guerra e lutaram ainda mais pelos seus objetivos.

É isso que nós brasileiros temos de fazer diante dos enormes problemas que estamos enfrentando em várias frentes. O que precisamos não é de LUTO, é de LUTA. Precisamos ser fortes e incansáveis na LUTA por um Brasil mais honesto, mais justo, mais seguro, mais educado, mais generoso, mais saudável, mais humano… mais Brasil.

Uma nação próspera é feita de um povo lutador e são os que não desistem, nunca, que alcançam na maioria das vezes o sucesso.

Vamos tomar como exemplo um personagem bem próximo de nossa realidade: Ronaldo Luís Nazário de Lima, ou apenas Ronaldo Fenômeno. De infância pobre, batalhou pelo sonho de jogar futebol, não jogou pelo Flamengo (seu time do coração) por não ter dinheiro suficiente para o transporte público e, após uma rápida passagem pelo Cruzeiro, foi fazer nome e carreira na Europa e se tornar um dos maiores nomes do esporte, eleito três vezes o melhor jogador de futebol do mundo e o segundo maior artilheiro da história das Copas do Mundo. O que muita gente não lembra quando vê a trajetória dele, entretanto, é que o Fenômeno, como todos nós, também teve seus reveses. Quem não lembra da final da Copa do Mundo de 1998 na França, da convulsão e de um Ronaldo apagado em campo? Muitos quiseram naquela época insinuar que o jogador não tinha o preparo psicológico para encarar grandes desafios. Das contusões seguidas em 1999 e a mais grave no ano 2000 que tirou o craque de campo por mais de 16 meses e que para muitos seria o fim de sua carreira. Após uma volta tímida na temporada de 2001-2002 pela Inter de Milão, com apenas sete gols marcados, seria difícil prever que ele seria o grande responsável pela conquista da Copa do Mundo, pelo Brasil, em 2002.

Não lembro de ter visto, em nenhum momento, Ronaldo ter falado em luto, ter vestido preto ou ter pensado em desistir de seguir lutando. Talvez a luta tenha sido, junto à habilidade nos pés, uma das suas grandes virtudes.

O gráfico nesta página mostra uma cronologia de fracassos e sucessos de pessoas bastante conhecidas e vitoriosas… Você acha mesmo que alguma delas declarou LUTO diante dos reveses?

Portanto, fica aqui a minha humilde sugestão: vamos trocar a letra “O” pela letra “A” sempre que formos desafiados por situações adversas e fracassos momentâneos na vida. Enquanto houver vida e chance de mudança e vitória, vamos de LUTA. Guarde o luto apenas para o que não tem volta.

*Antonio Camarotti é Publisher/CEO de FORBES Brasil

Texto publicado na edição 40 de FORBES Brasil, de abril de 2016