Qual é o efeito da Lava Jato sobre os negócios no Brasil?

27 de dezembro de 2016
Agência Brasil

Agentes da Polícia Federal aprendem documentos durante a Operação Lava Jato (Agência Brasil)

A imprensa nacional e internacional tem me procurado para saber qual o efeito da Lava Jato sobre os negócios e a recessão brasileira. Minha posição é de que não há um reflexo direto da Lava Jato sobre a recessão que se instalou no país, por erros como o da nova matriz econômica e o do fechamento do país ao mundo.

A recessão chegou antes da operação Lava Jato, mas hoje está mais que claro que a dilapidação do patrimônio nacional foi fator preponderante para a quebra do país

A recessão chegou antes da Lava Jato, mas hoje está mais que claro que a dilapidação do patrimônio nacional foi fator preponderante para a quebra do país. Acusar a Lava Jato de ser a causa da recessão é o mesmo que dizer que a penicilina não deve ser usada para curar uma infecção. Olhemos as perdas bilionárias da Petrobras, Eletrobras, fundos de pensão, 50 bilhões para financiar países a fim de proporcionar comissões, perdas com sustentação de câmbio artificial por swaps, enfim, erros que nos colocaram no centro do furacão.

A quebra de cartéis na área da construção pesada abre caminho para novos investimentos em infraestrutura e na indústria da energia.

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O aparelhamento político-econômico criou um modelo bolivariano de desenvolvimento que se autoalimentou em detrimento do povo brasileiro, e os resultados estão no desemprego de mais de 12 milhões de brasileiros, na instabilidade econômica e política e na quebra em série de empresas chamadas campeãs nacionais.

Tenho uma desilusão muito grande por ter aberto internacionalmente janelas que se mostraram fundamentais para este sistema chegar ao poder. E o fiz patrioticamente, sem vínculo ideológico ou político, em momento delicado para o Brasil. Mas o passado serve apenas para tirarmos lições para o presente e o futuro.

Hoje, com ajustes como a PEC do teto dos gastos, a reforma da Previdência e o ataque à excessiva burocracia, além da profissionalização das administrações das estatais, a situação econômica negativa começa a se reverter. O perfil profissionalizante das estatais Petrobras, Eletrobras e demais, além do BNDES, dos bancos oficiais e da Caixa, a Lei Rouanet procurando deixar longe o fator político e as medidas na área econômica por uma equipe de altíssimo nível criam uma nova perspectiva.

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É extremamente importante que nós não tenhamos a veleidade de confundir as medidas anticorrupção com a queda da produção econômica ou da produção industrial. Dos mais de 10 milhões de pequenos, médios e grandes empresários, só um número minúsculo foi indiciado pela Lava Jato. Foram aqueles membros de um clube, isolados do tecido econômico brasileiro que alimenta a riqueza nacional.

Acredito que o Brasil tenha encontrado no equilíbrio da Justiça e do bom senso democrático dos poderes Legislativo, Judiciário e Executivo uma ordem e progresso que se manterão, para que nós voltemos a ter uma base sólida para o crescimento constante — e não o fazermos com saltos ornamentais — e que evite, à nossa frente, os lodaçais que encontramos nos últimos anos.

O Brasil não é bolivariano! O Brasil é brasileiro e nós temos de buscar e encontrar sempre internamente as soluções dentro do imenso cabedal de recursos que agora estão sendo canalizados para um trabalho construtivo.

O chamamento aos empresários está feito – chamamento para aqueles que querem produzir livremente. É hora agora de, com confiança, reconstruir o país suplantando as dificuldades finais que vamos ter que passar.

*Mario Garnero é chairman do Grupo Garnero e presidente do Fórum das Américas