A senha

1 de setembro de 2017
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O Brsil precisa de acordos comerciais diretos, de país a país, para chegar logo a um comércio exterior de US$ 800 bilhões (iStock)

O temido mês de agosto acabou por esvaziar o espectro de mais incertezas e desgastes econômicos advindos de Brasília e cercanias. Nós, empresários, que temos a responsabilidade de pagar funcionários e impostos ao custo Brasil – dimensionado em padrões suíços e retribuído pelo Estado de forma irrelevante –, talvez pudéssemos nos fixar em dois pontos após as decisões do Congresso que evitaram novo caos político e econômico no país.

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Refiro-me à inexorável necessidade da reforma da Previdência e da não menos importante atualização tributária, ambas empecilhos maiores ao voo deste país “condenado” ao progresso mas sempre voando como uma galinha de pés amarrados.

Se inflação e balanço de pagamentos atingem níveis positivos históricos, a atividade empresarial patina, acorrentada a uma estrutura de punição ao capital e de distribuição de benesses (que vai além do conhecido sistema cartorial e familiar), corrupta de cima a baixo.

Se o desaparecimento do imposto sindical e a modernização do conteúdo do livro santo das esquerdas brasileiras – a CLT de Mussolini – formam uma base mais saudável para gerar empregos e fazer desaparecer pelegos, os empréstimos subsidiados continuam sendo um fator de desequilíbrio econômico e social, com valores a superar até mesmo o orçamento do Bolsa-Família, criando uma casta de empresários que enriqueceram à custa de propina e de “presentes”.

A atividade empresarial patina, acorrentada a uma estrutura de punição ao capital e de distribuição de benesses

Uma vez limpa a agenda doméstica, e com o cacife financeiro melhorando, o Brasil tem de se inserir novamente
no panorama político e econômico global. Peso pesado – e entre os sete maiores do mundo –, hoje temos uma imagem aviltada e desgastada não pela Lava Jato, mas pela corrupção que a tornou famosa. Tornamo-nos os campeões mundiais da propina, cujo know-how espalhamos por pelo menos 15 países das Américas, da Europa, Ásia e África (talvez tenham se salvado apenas a Antártida e o Polo Norte).

Verdadeiras multinacionais da gorjeta hoje deixam um laivo amargo em nossa boca. Ao citarmos o Brasil a algum estrangeiro, o interlocutor abre um sorriso: “Ah, o país da propina!”

Naturalmente, deixaremos para trás essa nódoa com a ação equilibrada e firme da Justiça – dentro dos parâmetros constitucionais, sem exageros ou protagonismos insustentáveis. Ao vencermos essa etapa, nos obrigamos a ser agentes da democracia – como demonstramos no episódio de contenção dos assomos bolivarianos na Venezuela.

Nossa firme atitude contrasta com os diligentes e ativos próceres políticos que aqui tentaram ludibriar a democracia e a boa-fé brasileiras impondo soluções norte-coreanas a nosso povo. A manipulação não vingou, e a população voltou a se manifestar pelas cores da bandeira verde e amarela.

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Não precisamos de blocos comerciais, mas sim de acordos comerciais diretos, de país a país, para chegarmos logo a um comércio exterior de US$ 800 bilhões, digno da dimensão de um país de US$ 3 trilhões de PIB, como classificou a consultoria Price Waterhouse, colocando-nos como sétima economia mundial. Que a lição popular seja a senha para nossa reinserção mundial.

Para isso, temos que ser pragmáticos e cirúrgicos, como nas ações que estão marcando nossa presidência temporária do Mercosul e na abertura de canais de entendimento com a comunidade europeia, sem deixar de lado a Rússia e buscando equilíbrio no comércio e nos investimentos com a China. Una-se a isso o diálogo elevado e sem complexo de inferioridade com os Estados Unidos e o Canadá. De grande valor para nossa imagem seria a efetiva participação na luta contra o tráfico de pessoas e de drogas. Por meio de acordos internacionais, podemos aproveitar nossa força de paz – que tão brilhante trabalho realiza no Haiti.

Hoje somos adultos na ciência e na tecnologia das mais diversas áreas: na medicina, na agricultora, na indústria aeronáutica, nos biocombustíveis, na mineração, na pecuária. Um arco de conhecimento humano, enfim, de alto valor agregado.

As bases aí estão para nosso desenvolvimento sustentável e de alto nível, sem mais lugar para o populismo inconsequente que nos fez regredir tanto em tão poucos anos.

*Mario Garnero é chairman do Grupo Garnero e presidente do Fórum das Américas