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Os gregos, ainda mais remotos na história, diziam o mesmo com palavras diferentes, em um conhecido provérbio segundo o qual os deuses, quando querem destruir um homem, primeiro o enlouquecem, embriagando-o com a soberba.
Joesley Batista havia feito seu melhor negócio na vida, mesmo comparado à avassaladora – e polêmica – trajetória como empresário. Usando a delação premiada de trampolim, derrubaria um presidente, salvaria a empresa e ainda escaparia de qualquer pena severa mesmo diante de tantos e tantos crimes. Tudo com a chancela do Ministério Público Federal e as bênçãos do Supremo ante a perplexidade da nação. Ali, a embriaguez pela soberba já estava em seu ápice.
Soberba é a mentira. É a visão equivocada de si mesmo. A humildade é a verdadeEra o triunfo da esperteza e da malandragem em favor da autopreservação. Infelizmente para Joesley, se a sagacidade nem sempre se pune, o mesmo não se pode dizer da soberba. A história da humanidade, na paz ou na guerra, jamais premiou essa forma de excesso, esse pensar-se inabalável. Era hora do início da punição pelos “deuses”.
Logo nos primeiros dias após a divulgação da delação de Joesley, soube-se que os irmãos usaram a informação privilegiada (do que o país ainda estava por conhecer por sua própria boca) para realizar uma operação de câmbio bilionária. Já era um sinal de que haviam passado dos limites.
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Depois de se atribuir e cumprir a missão execrável de provocar a autoincriminação de outros por gravações, selou seu destino gravando a si mesmo.
As discussões de Joesley e Saud, nos áudios tornados públicos mais recentemente, mostram que a condescendência do Ministério Público, somada à soberba do delator, fez nascer neste a crença de que o futuro dos Três Poderes estava em suas mãos: para Joesley, os pilares da democracia eram suas peças de dominó.
Ao cair, Joesley levou consigo ao chão a credibilidade do próprio instituto da delação premiada, sobretudo quando utilizado à la Sergio Machado, numa verdadeira pescaria de frases soltas que possam funcionar bem na história que cada delator escolheu contar. Joesley não “colocou a tampa no caixão”, conforme planejara, e sim pulou para dentro dele.
Não pulou sozinho. Tem sido tão drástica a transição do Brasil de acordos impublicáveis ao Brasil da transparência e da publicidade, que os mais altos órgãos da República parecem não ter se dado conta de que também os seus atos agora se sujeitam ao mais rigoroso escrutínio. Não poderia jamais o Ministério Público Federal ter-se deixado usar por um delator, com um desfecho que enfraquece a imagem da Operação Lava Jato e sua relevância como marco da transição entre os Brasis.
*Nelson Wilians é CEO do Nelson Wilians & Advogados Associados
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