Entenda por que as mulheres devem competir lado a lado

19 de dezembro de 2017
Reprodução/FORBES

Empreendedora acredita que todas as mulheres competitivas devem buscar crescer juntas, de forma que seja possível chegar a um nível em que o futuro seja feminino. (Reprodução/FORBES)

“Eu quero ser conhecido pelo que eu faço e construo, não pelo meu gênero.” Essa frase nunca foi dita por nenhum empreendedor homem.

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Como mulher e CEO, Marcela Sapone, cofundadora da Hello Alfred, plataforma de serviços para casa, não pode se dar ao luxo de dizer isso. Segundo a empreendedora, é por isso que costuma recusar convites para participar de conferências exclusivamente femininas ou isolar o gênero em conversas sobre liderança e excelência nos negócios. “Isso apenas perpetua o problema”, acredita.

Ao mesmo tempo, a empreendedora diz sentir uma grande sensação de orgulho e solidariedade na experiência compartilhada de estar entre mulheres que estão mudando a realidade. Essa experiência compartilhada ensinou a ela como abordar o que as pesquisas continuam a mostrar como um problema persistente nos negócios: a falta de mulheres no topo.

Apesar de as mulheres terem ganhado mais de 57% dos diplomas de graduação em todos os campos em 2013 – incluindo mais da metade daqueles concedidos em ciências biológicas -, apenas 6,7% delas se formam em temas relacionados à ciência, tecnologia, engenharia e matemática. Já no caso dos homens, são 17%. Como resultado, menos de um terço (28%) da força de trabalho nesses campos é composto de mulheres, o que torna o caminho para a liderança ainda mais difícil.

No que diz respeito a liderança corporativa, a proporção é ainda mais desequilibrada. O número de mulheres CEOs nas 500 maiores empresas eleitas pela revista “Fortune” aumentou em mais de 50% ao longo do último ano, mas apenas de 21 para 32 – o que representa 6,4% dos CEOs da lista. Além disso, as mulheres ainda são escassas nos quadros corporativos, representando apenas 15% das posições nas mais de 4.200 empresas pesquisadas em 2015.

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Essa sub representação é ainda mais alarmante quando considerada a evidência do impacto positivo da diversidade de gênero. De acordo com a consultoria McKinsey, “o 25% de empresas com mais diversidade de gênero têm 15% mais chance de ter retornos financeiros acima das médias nacionais de suas respectivas indústrias”. Além disso, uma pesquisa de diversidade de gênero de 2016 em empresas globais descobriu que “uma mudança de 0% para 30% de presença feminina na liderança é associada a um aumento de 15% na margem de receita líquida”.

Então, o que ainda impede as mulheres de ascender? Muito. Desde poucas delas se candidatando a empregos nas áreas já mencionadas até pouquíssimas sendo contratadas, passando por uma falta de mulheres pleiteando empregos com cargos de liderança. Faltam, também, exemplos femininos para pavimentar o caminho.

Esses são impedimentos estruturais que as mulheres estão abordando ao longo do tempo. Mas há um obstáculo persistente que elas podem e devem tirar de seus caminhos imediatamente – as outras mulheres.

Estudos já mostraram que as mulheres tendem a ficar no caminho do avanço da carreira de outras mulheres. Em sua pesquisa sobre “token females” (uma mulher sozinha em um “grupo de trabalho de alto prestígio”), Michelle Duguid, da Olin Business School da Universidade de Washington, descobriu que tais mulheres frequentemente veem as outras como uma ameaça competitiva ao seu próprio status e, assim, bloqueiam sua entrada no grupo. Um artigo recente na revista “The Atlantic” chamado “Why Do Women Bully Each Other At Work?” (“Por que as mulheres diminuem umas às outras no trabalho”, em tradução livre), cita estudos e histórias da experiência própria da autora sobre essa dinâmica: “Quando parecem haver poucas oportunidades para as mulheres, as próprias mulheres começam a ver seu gênero como um impedimento. Elas evitam juntar forças e, às vezes, viram-se umas contra as outras”.

Sabe-se também que muitas mulheres internalizaram essas tendências estruturais e sistêmicas. Estudos mostram que os homens têm três vezes mais tendência a pedir – e receber – um salário maior em uma entrevista ou conseguir um aumento em uma negociação. E as mulheres não apenas falham em se afirmar, mas também veem com bons olhos nos homens algumas características que condenam em outras mulheres.

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As mulheres foram imersas nessa narrativa de gênero desde crianças – aprenderam que roupas deveriam usar, com quais brinquedos brincar e quais comportamentos eram mais apropriados para meninos e quais eram mais adequados às meninas. Mas essa tendência aprendida entre mulheres de julgar duramente e definir padrões impossivelmente altos faz do ambiente de trabalho uma competição entre inimigas. As mulheres devem, sim, estabelecer critérios altos uma para as outras – mas competição não significa que apenas uma pode alcançar esses critérios de uma vez.

Marcela destaca que, no mundo das startups no qual vive, há muitas cofundadoras mulheres e equipes predominantemente femininas. E dados mostram que as mulheres têm mais tendência a serem bem-sucedidas graças a seu espírito colaborativo. “Na Hello Alfred, eu e minha cofundadora, Jess Beck, trabalhamos todos os dias para provar que isso é verdade”, conta. “Jess é meu complemento profissional. Ela amplifica minhas forças e mitiga minhas fraquezas, assim como eu faço com ela. É uma amiga que, na mesma jornada que eu, fica tão feliz com meus sucessos quanto fica com seus próprios. Nós estamos competindo para vencer juntas”, explica.

Todas as mulheres competitivas devem buscar crescer juntas, de forma que seja possível chegar a um nível em que o futuro seja feminino. Mas, para isso, é preciso lutar contra alguns hábitos enraizados que demandam muito trabalho e autoanálise para serem superados, além de tendências internas e uma falta de solidariedade de gênero.

Veja, na galeria de fotos, 5 passos levantados por Marcela Sapone para competir lado a lado com outras mulheres:

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