Políticos e mentiras: insights de um especialista - Parte 2

28 de agosto de 2018

“Políticos sempre mentem.” Essa máxima faz parte de nossas opiniões políticas há muitos anos. Uma pesquisa da Pew Research perguntou aos norte-americanos se eles confiam em seus representantes eleitos. Os resultados mostraram uma queda de confiança de 77% em 1964 para 18% em 2017. A desconfiança quanto aos líderes é agravada por uma avalanche de campanhas de desinformação travadas dentro e fora do país, bem como ataques à imprensa livre.

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Mas como se defender em meio a uma guerra de desinformação? Paul Ekman é um pioneiro na ciência da emoção e da expressão e passou sua carreira dissecando e decodificando sinais de dissimulação. Ele desenvolveu um sistema para descobrir mentiras através de micro expressões: expressões faciais fugazes que revelam emoções que as pessoas tentam esconder quando mentem. Ele trabalhou como consultor do FBI e da CIA e sua pesquisa inspirou a série de televisão “Lie to Me”, estrelada por Tim Roth.

“Os acontecimentos dos últimos tempos são minas de ouro para mim”, diz Ekman. “Eu gostaria que não fosse. Gostaria que houvesse mais confiança. Acho que a democracia corre perigo quando uma grande parte da população não confia mais nos políticos. Isso torna o processo democrático muito vulnerável”, diz.

O que exatamente é uma mentira?

A arte e a ciência de detectar e lidar com mentiras começa com um consenso sobre o que conta como tal e quando elas são aceitáveis ​​(desejáveis ​​até) e quando não são.

Mentiras diplomáticas:

“Mentiras brancas, como eu as defino, são aquelas que, se descobertas, não causarão ofensa. Serão compreensíveis. E são polidas”, explica Ekman. O especialista acrescenta: “Na verdade, nem gosto de chamar isso de mentira porque a maioria destas inverdades são inocentes. Elas são socialmente exigidas. Esperamos que elas sejam contadas e que nenhum dano seja feito se forem descobertas”.

Promessas imprudentes:

“Quando um líder político se contradiz explicitamente há, geralmente, logo uma explicação sobre as circunstâncias que o forçaram a mudar de posição”, diz Ekman. “George W. Bush implementou uma plataforma sem novos impostos, mas depois aumentou as taxas. Entretanto, o ex-presidente foi muito claro ao explicar por que as circunstâncias o obrigaram a voltar atrás em sua promessa. Quando ele disse que não haveria novos impostos, ele estava mentindo? Não. Na minha opinião, ele fez uma promessa insensata. Ele quebrou a promessa, mas reconheceu que a estava quebrando.”

A definição do especialista sobre o ato de mentir é: “Uma situação em que, sem aviso prévio ou sem expectativa, você oculta informações que se espera que sejam reveladas ou fornece informações falsas”.

Transparência

“Transparência é importante, mas nem sempre é possível. Particularmente ao lidar com nações nas quais exista uma relação competitiva ou adversária”, diz Ekman. “Nós aceitamos o fato de que nossos líderes nem sempre nos dizem a verdade. E, ao confiarmos em um deles, acreditamos que ele possa mentir, mas por uma necessidade política.” Onde quer que a transparência seja possível sem comprometer a nação, ela é arriscada para o político, mas benéfica para a república. “Ao lidar com seus oponentes cotidianos, a transparência é arriscada, mas extremamente desejável.”

O especialista cita ainda Nixon, que renunciou quando enfrentou o impeachment por suas mentiras egoístas. “O que derrubou Richard Nixon não foi o fato de ele não ser confiável, mas sua falta de confiança não estava servindo a nenhum propósito nacional. Estava servindo a um propósito pessoal e político próprio.”