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A linguagem utilizada pelo diretor foi tão equivocada quanto suas atitudes. A “substância estrangeira” era mais nativa de Nova York do que as próprias pinturas e esculturas da coleção do Guggenheim. Na verdade, Haacke planejava expor registros das transações imobiliárias feitas por alguns dos proprietários mais notórios da cidade.
O trabalho mais literal entre as obras expostas, e também o mais icônico, são os gráficos feitos à mão pelo artista norte-americano Mark Lombardi nos anos 1990. Possivelmente inspirado pelos gráficos financeiros de Oliver North, Lombardi procurou detectar e descrever as redes de corrupção implícitas em grandes eventos como a crise das poupanças e empréstimos das décadas de 1980 e 1990.
Apesar de a linguagem visual de Lombardi ter uma certa semelhança com a arte conceitual dos anos 1960 e o minimalismo, a composição de seus gráficos tem o propósito retórico de afirmar o conhecimento de negociações secretas. A clareza estética é sedutora e sugestiva ao domínio investigativo. Independentemente se Lombardi realmente descobriu a verdade, as estruturas de poder seguem sendo discutidas (e até mesmo se seu suicídio aconteceu por estar atolado em teorias da conspiração). Mesmo assim, sua análise foi convincente o suficiente para atrair uma audiência estrangeira para a maioria de suas exposições de arte: segundo “The Intercept”, o FBI chegou a examinar seu trabalho no Whitney Museum, em 2001, e no Drawing Center, em 2003.
As peças imobiliárias de Haacke são, ao mesmo tempo, mais e menos reveladoras do que os gráficos de Lombardi. Os materiais obtidos da fonte são mostrados na íntegra pelo artista alemão, mas o trabalho de fazer conexões é deixado para o público.
O verdadeiro significado dessas obras – especialmente agora que todos os materiais estão desatualizados da perspectiva imobiliária – ainda precisa ser encontrado em conexão com outros trabalhos de Haacke. O mais significativo é o seu “Condensation Cube” (“Cubo de Condensação”, em tradução livre), uma obra aparentemente minimalista feita nos anos 1960. O “Condensation Cube” é uma caixa de acrílico selada, contendo uma pequena quantidade de água destilada, que evapora e condensa conforme o clima dentro da galeria, o que revela sutilmente a relação física entre a obra de arte, o museu e seus visitantes.
Os trabalhos seguintes de Haacke, incluindo suas peças imobiliárias, têm explorado a ideia de como essas conexões não são só físicas mas também sociopolíticas, um conceito expresso diretamente pelos títulos das obras.
A análise essencial proposta pela arte de Haacke é a de que ninguém está completamente fora desses sistemas. A onisciência implícita nos desenhos de Lombardi são uma ficção conveniente. Tudo está conectado, assim como todas as pessoas, incluindo Mark Lombardi, Thomas Messer e o próprio Haacke. E isso não é uma teoria da conspiração ou uma condenação em massa, mas, sim, uma característica fundamental da civilização moderna.