Metropolitan leva conspiração à sua nova exposição

26 de outubro de 2018

A nova exposição de Hans Haacke fala sobre conspiração na civilização moderna

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A nova exposição de Hans Haacke fala sobre conspiração na civilização moderna

Em 1971, o artista alemão Hans Haacke foi acusado de contrabando por levar uma “substância estrangeira” ao Guggenheim Museum, em Nova York. A acusação foi feita por Thomas Messer, o próprio diretor do museu, que cancelou a exibição de Haacke e demitiu o curador.

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A linguagem utilizada pelo diretor foi tão equivocada quanto suas atitudes. A “substância estrangeira” era mais nativa de Nova York do que as próprias pinturas e esculturas da coleção do Guggenheim. Na verdade, Haacke planejava expor registros das transações imobiliárias feitas por alguns dos proprietários mais notórios da cidade.

Esses registros estão agora expostos no Metropolitan Museum of Art, localizado a algumas quadras do Guggenheim, como parte da exibição sobre arte e conspiração, intitulada “Tudo Está Conectado”. A mostra conta com uma grande variedade de obras artísticas investigativas em busca de padrões secretos de atividade, tanto política quanto econômica.

O trabalho mais literal entre as obras expostas, e também o mais icônico, são os gráficos feitos à mão pelo artista norte-americano Mark Lombardi nos anos 1990. Possivelmente inspirado pelos gráficos financeiros de Oliver North, Lombardi procurou detectar e descrever as redes de corrupção implícitas em grandes eventos como a crise das poupanças e empréstimos das décadas de 1980 e 1990.

Apesar de a linguagem visual de Lombardi ter uma certa semelhança com a arte conceitual dos anos 1960 e o minimalismo, a composição de seus gráficos tem o propósito retórico de afirmar o conhecimento de negociações secretas. A clareza estética é sedutora e sugestiva ao domínio investigativo. Independentemente se Lombardi realmente descobriu a verdade, as estruturas de poder seguem sendo discutidas (e até mesmo se seu suicídio aconteceu por estar atolado em teorias da conspiração). Mesmo assim, sua análise foi convincente o suficiente para atrair uma audiência estrangeira para a maioria de suas exposições de arte: segundo “The Intercept”, o FBI chegou a examinar seu trabalho no Whitney Museum, em 2001, e no Drawing Center, em 2003.

As peças imobiliárias de Haacke são, ao mesmo tempo, mais e menos reveladoras do que os gráficos de Lombardi. Os materiais obtidos da fonte são mostrados na íntegra pelo artista alemão, mas o trabalho de fazer conexões é deixado para o público.

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O verdadeiro significado dessas obras – especialmente agora que todos os materiais estão desatualizados da perspectiva imobiliária – ainda precisa ser encontrado em conexão com outros trabalhos de Haacke. O mais significativo é o seu “Condensation Cube” (“Cubo de Condensação”, em tradução livre), uma obra aparentemente minimalista feita nos anos 1960. O “Condensation Cube” é uma caixa de acrílico selada, contendo uma pequena quantidade de água destilada, que evapora e condensa conforme o clima dentro da galeria, o que revela sutilmente a relação física entre a obra de arte, o museu e seus visitantes.

Os trabalhos seguintes de Haacke, incluindo suas peças imobiliárias, têm explorado a ideia de como essas conexões não são só físicas mas também sociopolíticas, um conceito expresso diretamente pelos títulos das obras.

A análise essencial proposta pela arte de Haacke é a de que ninguém está completamente fora desses sistemas. A onisciência implícita nos desenhos de Lombardi são uma ficção conveniente. Tudo está conectado, assim como todas as pessoas, incluindo Mark Lombardi, Thomas Messer e o próprio Haacke. E isso não é uma teoria da conspiração ou uma condenação em massa, mas, sim, uma característica fundamental da civilização moderna.

Não existe a tal substância estrangeira. No máximo, o museu é uma caixa de condensação da sociedade.