Mas é. Ou melhor: ideologia é só a embalagem. O conteúdo do pacote é uma mistura simples de humanismo matemático com oportunismo mórbido – o que resulta numa consciência política tão vistosa que muita gente acha até que é verdadeira.
Assim funciona a bolsa de valores progressistas no Brasil e no mundo em 2019 – uma sôfrega, patética e avassaladora afetação de virtudes.
E você nem precisa fazer a conta para concluir que humanismo matemático é igual a zero. Sem problemas. Para afetar a virtude que não tenho, me basta patrulhar você: “Não dá pra chorar os dez mortos no Flamengo sem chorar os 13 mortos no Catumbi!”
As buscas pelos desaparecidos em Brumadinho estavam ainda nas primeiras incursões e já havia uma campanha de cosméticos com modelos cobertas de lama. E nem adianta fingir que foi uma estupidez isolada (ainda que fingir esteja na moda) porque este é, definitivamente, o século da solidariedade fake – com suas musas de acampamento e seus ensaios de miséria fashion.
A campanha da Gillette sobre masculinidade tóxica já tinha roubado a cena, ensejando uma torrente de falsas polêmicas. O problema não é o mundo combater a grosseria – e os brutos já estão na berlinda há mais de meio século. O chato é constatar que a única forma de vender alguma coisa hoje – até utensílio para raspar pelos – é bancar o corregedor comportamental.
Supermercado de virtudes com patrulhamento 24 horas não é um bom lugar para se viver.
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