Pobre Menino Ney

2 de maio de 2019
Getty Images

Deve ser terrível sofrer a pressão diária de pensar o que fazer com 100 milhões de dólares

 

Neymar deu um soco na cara de um torcedor francês que o provocava na arquibancada. Todos os jogadores do PSG passaram pelo mesmo local e ouviram as mesmas provocações, mas só um deles optou por lavar sua honra segundo o consagrado código diplomático de qualquer recreio escolar. O menino Neymar não deixa barato.

O mais impressionante não foi o gesto do jogador que acabara de perder o título da Copa da França – competição disputada por um time só, portanto, realmente difícil de perder (até o fim do texto, se der tempo, iremos ao Google ver o nome do time campeão). O que mais impressionou, de novo, foi a reação de boa parte dos brasileiros ao vexame, na linha do “não pensem que é fácil”, “o menino tava de cabeça quente”, “não queiram estar no lugar dele” etc.

Deve ser terrível mesmo estar no lugar do Neymar e sofrer a pressão diária de pensar o que fazer com 100 milhões de dólares. Ainda mais você sendo um menino a caminho dos 30 anos. Deve ser muito estressante, mas pelo menos você tem a ajuda de uma multidão de parças brasucas te dizendo que, como compensação a toda essa provação, você está liberado de respeitar os outros.

Assim foi na Copa da Rússia, quando Neymar virou meme mundial com suas encenações, rolamentos, choros de novela, insultos a juízes, adversários e a quem mais se atrevesse a interferir no seu solo canastrão. De novo, mais espetacular que o vexame do pobre milionário foi a comiseração ufanista de certa facção verde-amarela. No Brasil, a malcriação ainda pode ser sucesso de público e crítica.

Não é preciso ser antropólogo para entender o quanto essa complacência diz sobre o atoleiro nacional. E também sobre a ascensão mundial da moral cínica, num ranking onde responsabilidade, respeito e trabalho viram licença poética se você é o campeão do Instagram. Ganhar Copa pra quê?

O jovem craque Mbappé (expulso na final da Copa da França) está aprendendo direitinho a não respeitar ninguém. Seu exemplo é Neymar, talvez o mais talentoso de todos depois de Pelé, criativo e carismático, que está jogando fora um reinado verdadeiro para ficar com esse de playground.

(Fomos pesquisar o nome do time campeão e encontramos o silêncio do Tite sobre a nova façanha do seu capitão. Como diria o Casagrande… Deixa pra lá)

 

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