Por que nossos cérebros logo serão capazes de se comunicar digitalmente

19 de julho de 2019
Foto: REUTERS/Dado Ruvic/

Anúncio da startup Neuralink, de Elon Musk, que pretende conectar o homem à máquina

Resumo:

  • Ideia de ligar o cérebro humano aos computadores poderá ter os primeiros testes já em 2020;
  • Após dois anos de pesquisa, a Neuralink criou eletrodos e chips para serem implantados no corpo sem danificar os tecidos humanos e o sistema nervoso;
  • Os dispositivos têm implantação simples, segundo os que já testaram, semelhantes à cirurgia de correção de miopia.

Eu recomendo investir algumas horas para assistir ao vídeo de apresentação da Neuralink, a mais recente empresa criada por Elon Musk. Não confie em tudo o que está nas notícias de avaliação de uma tecnologia verdadeiramente disruptiva: assista e julgue por si mesmo. Musk, claro, não entrou em detalhes na apresentação, mas os diferentes chefes de departamento que participaram conseguem fornecer uma compreensão extremamente interessante e acessível sobre o que é o projeto.

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O evento teve como objetivo principal atrair talentos para um produto que não será testado em voluntário humanos por pelo menos um ano, mas disponibiliza uma visão sobre o que a empresa conseguiu desenvolver em cerca de dois anos: eletrodos ultrafinos que podem ser implantados no cérebro; e chips capazes de processar rapidamente informações produzidas pelos neurônios, que servem como uma interface bidirecional com eles, junto a um robô capaz de inserir esses eletrodos no cérebro, com impacto mínimo sobre os tecidos e sem danificar os vasos sanguíneos ou outras estruturas críticas.

A impressão é que a empresa aplicou seus avanços de microeletrônica em uma área como a neurocirurgia, com base em desenvolvimentos, avanços e pesquisas anteriores de campo, como os implantes cocleares usados ​​para certos tipos de surdez ou estimulação cerebral profunda (DBS) em casos de Doença de Parkinson e outras doenças crônicas.

A ideia é: depois da aprovação do FDA (já obtidas em pesquisas semelhantes às citadas acima), iniciar os testes para tratar vários tipos de distúrbios cerebrais ou espinhais, como paralisia, Parkinson, distonia e transtorno obsessivo-compulsivo, distúrbios, epilepsia etc. A partir daí, poderíamos avançar para obter mais e mais informações sobre a possível aplicação dessa tecnologia como uma interface cérebro-máquina (brain-machine interface – BMI – ou brain-computer interface – BCI; comunicações diretas entre o cérebro e aparelhos externos) e seu eventual uso voluntário por qualquer pessoa. Você pode achar inusitado alguém se submeter a esses testes, mas vale lembrar que os procedimentos de implantação não exigem uma cirurgia complexa ou anestesia geral. Segundo os participantes da apresentação da empresa, é como uma cirurgia a laser para correção de miopia, ou seja, o paciente volta para casa poucas horas depois.

Vamos esclarecer, não se trata de ligar o cérebro à internet, mas sim algo que os cientistas especulam há algum tempo: digitalizar os estímulos produzidos por seus neurônios e os interpretar. Muitas vezes me pergunto: o que é uma lembrança? Basicamente, é um circuito neural redundante que é estimulado durante o tempo em que essa memória permanece ou é estimulada. O que poderíamos alcançar se pudéssemos mapear a capacidade do nosso cérebro de agir, se fosse possível capturar toda a sua atividade?

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Logicamente, para abordar a quantidade de informação necessária para a codificar uma ação, é preciso ser capaz de ler o potencial de ação de muitos neurônios. Assim, é necessário inserir um grande número de eletrodos próximos a esses neurônios para capturar seu potencial de ação, mapeá-los e associá-los a todos os tipos de ações, estímulos ou pensamentos.

O resultado disso seria um mapa da atividade cerebral que não só nos permitirá ler nosso cérebro, mas também dará a possibilidade de adicionar informações a ele, gerando esses potenciais de ação por meio dos eletrodos, bidirecionalmente. O processo é semelhante a um experimento já realizado, em que uma descarga elétrica perto de um neurônio no córtex visual induziu uma pessoa a ver um flash inexistente de luz em um lugar determinado.

A partir daí, as possibilidades são praticamente ilimitadas, incluindo, logicamente, a fusão hipotética do homem e a máquina ou o uso de nossos próprios sentidos como forma de alimentar dados que seriam processados por algoritmos de uma máquina com inteligência artificial. Escrever no smartphone apenas com o pensamento não é mais algo de ficção científica.

A idéia de encher nosso cérebro de eletrodos, independentemente de um robô não cometer erros e de não danificá-lo, pode não parecer muito atraente. Mas o estado atual da tecnologia significa que a única possibilidade de captar com precisão o potencial de ação dos neurônios e poder induzi-los está associada à proximidade física, o que torna essa tecnologia, no momento, a única capaz de alcançar esse objetivo.

O Neuralink fornece um vislumbre de um futuro que até recentemente era coisa de cinema. Ainda há problemas a superar, é claro, mas as possibilidades são infinitas. Mais uma vez, se olharmos à nossa volta, descobriremos que o futuro já está aqui: estamos o vivendo agora.


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