Bedy Yang: corporate venturing precisa amadurecer no Brasil

23 de outubro de 2019
Divulgação

Empresas no país estão interessadas em profissionalizar seus esforços em inovação, diz a sócia-diretora da 500 Startups

Enquanto o segmento de Corporate Venture Capital (CVC) cresce a passos largos em mercados desenvolvidos, a cena no Brasil até acompanha as tendências globais, mas ainda precisa amadurecer.

Um estudo da incubadora e fundo de venture capital 500 Startups sobre CVC, no qual corporações investem em iniciativas de inovação de forma interna ou externa, com o envolvimento de empresas como startups, revelou que o interesse no modelo só tem aumentado, especialmente, entre organizações de grande porte.

Mais de US$ 60 bilhões foram investidos em CVC nos Estados Unidos em 2018, um aumento de mais de 100% em relação ao ano anterior. No Brasil, o interesse no modelo também tem crescido, puxado por iniciativas lideradas por empresas como a Embraer, Bradesco e Braskem, mas a adoção de modelo ainda é incipiente, diz Bedy Yang, sócia-diretora da 500 Startups.

“O mercado brasileiro de CVC ainda é um pouco imaturo, mas ganhará muita força nos próximos anos e certamente há um interesse em profissionalizar essas iniciativas e promover uma rápida evolução do mercado”, aponta, citando o SoftBank e a Qualcomm Ventures como exemplos de fundos que operam nesse modelo.

“Muitas corporações no Brasil e no mundo tem montado iniciativas de CVC que acabam não dando certo por não serem bem estruturadas”, ressalta. “Elas acham que por serem grandes, conseguem tocar esses projetos sozinhas, mas o jogo é outro.”

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A 500 Startups divide CVCs em dois tipos: o “caçador” foca em ganhos financeiros, enquanto o “explorador” tem uma abordagem mais estratégica e tenta integrar a inovação na cultura corporativa. O primeiro tipo é o que tem mais chances de sucesso e representa 23% dos 100 participantes da pesquisa.

Segundo o relatório, as motivações para montar uma unidade de CVC são basicamente as mesmas nos mercados globais. Nos primeiros dois anos, a ideia é se proteger da competição e explorar tecnologias disruptivas e startups, depois construir ecossistemas em torno de produtos e plataformas existentes nos anos seguintes.

Os problemas também são parecidos. Entre as iniciativas que não sobrevivem, um dos maiores entraves é a falta de uma estrutura adequada, que impacta negativamente as startups que contavam com o apoio dessas organizações, diz Bedy. “Empresas precisam focar nos fundadores primeiro e oferecer mais do que somente capital”. Outro desafio é a integração da inovação gerada através do modelo de CVC nas áreas de negócio da organização.

Entre as empresas que têm sucesso com o modelo de CVC, 72% têm planos de expandir, segundo relatório da 500 Startups. Atingir objetivos estratégicos é mais importante para 55% das empresas, versus 28% que afirmaram priorizar o retorno financeiro. Para a minoria (17%), os dois objetivos são importantes.

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Princípios que a 500 Startups sugere para garantir o sucesso para esse tipo de abordagem são: priorizar retorno financeiro ou estratégico e definir o design da unidade de CVC mais apropriado e acelerar o ritmo de aprendizado da organização.

Além disso, empresas devem procurar investir capital de forma inteligente e estratégica, medir o retorno em termos de inovação, e não somente em investimento, bem como integrar efetivamente as atividades da unidade nas áreas de negócio da empresa-mãe.

Bedy prevê que o negócio de CVC deve continuar a expandir nos próximos meses no Brasil, mas aconselha gestores a buscar uma estrutura adequada e parceiros para garantir o sucesso.

“Em vez de tocar esses projetos sem saber muito bem como, o ideal é fazer parcerias com organizações que façam isso profissionalmente”, aponta.

“É importante que empresas explorem ferramentas para inovar, como CVC, aceleradoras, hackathons. Mas empresas também devem buscar aprender de fato com essas iniciativas e conduzi-las de forma que sejam produtivas e amigáveis para o ecossistema, senão acabam se queimando.”

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A idwall, empresa especializada em soluções de validação de identidade, levantou R$ 40 milhões em sua terceira rodada de investimentos, liderada pela Qualcomm Ventures, com participação de nomes como ONEVC, Canary, Monashees e Grupo Globo. O investimento da Qualcomm Ventures vem de seu novo Fundo de Inteligência Artificial, marcando o primeiro aporte em uma empresa da América Latina. A idwall é liderada por Lincoln Ando e Raphael Melo, que integraram a lista Forbes Under 30 de 2018.

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A Movile, dona do iFood e outras empresas de tecnologia, realiza em 9 de novembro seu primeiro Tech Summit. O evento, que acontece no escritório do iFood, em Osasco, terá a apresentação de cases, projetos e desafios dos times de tecnologia das empresas do ecossistema. O painel de abertura abordará o que a empresa tem aprendido sobre tecnologia na China e palestrantes como Sandor Caetano, Chief Data Scientist Officer no iFood, falarão sobre inteligência artificial (IA), uma área em que a empresa de delivery de comida tem investido milhões. Além disso, serão promovidas palestras paralelas sobre desenvolvimento back-end e front-end, dados e IA, produto e mobile.

 

Angelica Mari é jornalista especializada em inovação há 18 anos, com uma década de experiência em redações no Reino Unido e Estados Unidos. Colabora em inglês e português para publicações incluindo a FORBES (Estados Unidos e Brasil), BBC, The Guardian e outros.

 

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