Como o governo trabalha com empresas para avançar a Internet das Coisas no Brasil

7 de novembro de 2019
Getty Images

Governo espera que a IoT traga mais produtividade e melhora na provisão de serviços públicos brasileiros

As atividades na Secretaria de Empreendedorismo e Inovação (SEI), do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), estão a todo vapor. O departamento “multitarefa”, com aproximadamente 100 pessoas, cuida de cerca de 20 políticas públicas que incluem a Lei de Informática e o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores e Displays (PADIS).

Dentro desta secretaria, há um departamento dedicado à atividades relacionadas ao Plano Nacional de Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês). O coordenador de inovação e IoT na SEI, Guilherme Corrêa, falou com a Forbes sobre o engajamento do governo com empresas de tecnologia e o atual estágio da iniciativa.

FORBES: Como é a interação e qual é o objetivo das discussões entre a secretaria e as empresas?

GUILHERME CORRÊA: Nosso dia a dia é falar sobre temas muito importantes para o país, não só com empresas grandes, mas também com organizações de médio porte e startups. Não é nosso objetivo privilegiar os grandes.

No que se refere às grandes empresas de tecnologia, todas têm diretores de relações governamentais, pois essas empresas precisam estar atentas aos movimentos do governo. Quando se começou a falar do plano de Internet das Coisas, por exemplo, esse pessoal já estava nos procurando e questionando sobre os temas relacionados, antes mesmo de sair o decreto.

Uma parte importante do nosso trabalho é ouvir as empresas, pois políticas públicas não podem sair da cabeça de um burocrata que fica entre quatro paredes e não tem noção sobre como é o dia a dia das empresas. Essas conversas são muito benéficas, não só para o setor privado, que ouve a visão de futuro do governo, mas para o governo, que ouve as intenções das empresas.

Muito do que é feito em política pública vem dessa interação e desse feedback, então, é uma coisa natural. Antes de baixar uma nova portaria, regra ou norma, a gente ouve. Temos também as famosas consultas públicas, que servem para ouvir as empresas, mas também temos uma forma mais particular de fazer isso, que é recebendo essas empresas pessoalmente.

F: O que aconteceu desde que o decreto de Internet das Coisas foi aprovado em junho?

GC: Nestes últimos quatro meses, temos criado câmaras que servirão como veículo para ter essa interação produtiva com os diversos atores em cada setor [o plano de IoT cobre as verticais prioritárias do agronegócio, saúde, cidades inteligentes e indústria]. A interação tem de ser multilateral.

Queremos ter, em torno dessa grande mesa, as operadoras, fabricantes de equipamentos, startups e os demandantes, pois não podemos olhar só o lado da oferta, mas o lado da demanda também. Quando falamos de agro, a demanda vem do dono do rebanho, do produtor de milho, soja, café, frutas, seja grande ou pequeno. Esse pessoal quer as soluções de IoT, os dispositivos, a fazenda conectada, para que possa monitorar o rebanho, a plantação, as condições do solo, a irrigação.

F: Uma vez que todas as câmaras estiverem criadas, o que acontece depois?

GC: Teremos uma série de ações que orientarão nosso trabalho e visam a criação de ecossistemas de inovação. Para certas coisas, daremos o pontapé inicial, mas a conclusão pode não depender de nós.

Em ações que visam objetivos como a criação de mão de obra, por exemplo, sentaremos com o Ministério da Educação e falaremos sobre a criação de um curso técnico de IoT. Gostaríamos, por exemplo, que dispositivos IoT não pagassem [taxas do Fundo de Fiscalização das Telecomunicações] Fistel, o que seria ótimo para o ecossistema. A materialização disso tudo pode não depender de nós, mas estamos apoiando. Também faz parte do nosso trabalho acompanhar as ações dos outros.

F: No curto prazo, quais resultados você espera obter desse engajamento com a indústria para evoluir a indústria local de IoT?

GC: Em indústria e agro, IoT está colado com o 5G, que viabiliza a melhora de produtividade e a competitividade da nossa economia perante o mundo. No caso das cidades inteligentes e da saúde, o olhar é para a qualidade de vida da população, com melhores condições de saúde, melhores atendimentos, diagnósticos, hospitais.

Fala-se muito sobre criar câmaras e fazer reuniões, mas o resultado é algo mutante. Atualmente, parte disso é, por exemplo, divulgar o plano de IoT em eventos. Queremos que esses ecossistemas floresçam, que mais projetos aconteçam, que o número de startups cresça. O Plano de IoT tem um horizonte inicial de cinco anos, mas como é algo para ficar, será muito mais que isso. Precisaremos revisar nossas metas de tempos em tempos, analisar indicadores e melhora nos números gerais da economia com relação a, por exemplo, áreas conectadas no agronegócio. Sem dúvida, aprendemos constantemente.

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A Qualcomm anunciou hoje (7) novas previsões para a economia 5G. O estudo encomendado pela empresa e organizado pela IHS Markit 5G sugere que a próxima geração de internet móvel gerará US$ 13,2 trilhões em habilitação de vendas até 2035. A pesquisa também aponta que a cadeia global de valor 5G dará suporte a 22,3 milhões de empregos em 2035, o que corresponde a 3,4 vezes mais empregos do que a atual fase de produção econômica.

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O impacto na saúde mental de executivos como consequência de problemas em tecnologia é o tema de uma pesquisa global da Sungard. O estudo consultou 500 profissionais. Metade (51%) admitiu ter doenças relacionadas ao estresse e/ou danos ao seu bem-estar mental após ataques cibernéticos, interrupções de TI ou falhas de rede, e 45% afirmaram ter sofrido abuso online ou verbal e, em alguns casos, até ameaças físicas. Segundo o estudo, que aponta que eventos como vazamento de dados já causaram a demissão de CEOs, um quinto (20%) admitiu críticas estendidas a familiares e amigos que também receberam abuso verbal e/ou físico.

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Angelica Mari é jornalista especializada em inovação há 18 anos, com uma década de experiência em redações no Reino Unido e Estados Unidos. Colabora em inglês e português para publicações incluindo a FORBES (Estados Unidos e Brasil), BBC, The Guardian e outros.

 

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