Com a Libra, Zuck é um herói

10 de dezembro de 2019

Mark Zuckerberg tomou uma surra verbal por causa (entre outras coisas) da Libra, o sistema de pagamentos e criptomoedas proposto pelo Facebook, quando depôs recentemente no Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos EUA. Bem cientes da má fama que o Facebook e outros gigantes da alta tecnologia têm atualmente, a maioria dos políticos do comitê não conseguiu resistir à tentação de repreender e passar um sermão em Zuckerberg. Na verdade, questões como privacidade e lavagem de dinheiro são tratáveis. O Facebook já está trabalhando com as autoridades reguladoras nessas questões.

No entanto, as pressões regulatórias obrigaram diversas empresas que estavam trabalhando em parceria com o Facebook a abandonar o projeto.

E esse é o verdadeiro motivo pelo qual a ideia da Libra é tão preocupante para muitos políticos, burocratas, bancos e economistas de todo o mundo: a Libra poderia fazer com os bancos centrais o que o Uber fez com os cartéis de táxi – acabar com seu monopólio ou competir de igual para igual com eles.

A Libra seria respaldada por uma cesta de moedas e instrumentos financeiros fortemente garantidos, superando, assim, a maior imperfeição atual das outras criptomoedas – a instabilidade. Quatro mil anos de experiência comprovam que o ouro seria a melhor opção, mas, ainda assim, a cesta da Libra seria muito superior a qualquer outra coisa que existe por aí.

Quando estiver em pleno funcionamento, um usuário do Facebook poderá obter uma carteira digital chamada Calibra e então poderá enviar unidades da Libra para outro titular de carteira Calibra em qualquer parte do mundo. De imediato, os resultados seriam revolucionários. Em nosso sistema atual, é caro transferir dinheiro de um país para outro, sem mencionar as horas ou dias necessários para a liberação dos fundos. Os bancos seriam totalmente excluídos do processo.

Praticidade e estabilidade monetária: que combinação a Libra oferece!

Outra enorme vantagem é que esse sistema digital e móvel disponibilizaria facilmente serviços bancários acessíveis a quase 1 bilhão de pessoas de todo o mundo e aos 14 milhões de norte-americanos que não dispõem de conta bancária. Um fato surpreendente – e desconhecido da maior parte do mundo – é que esses serviços bancários digitais vêm florescendo no Quênia, onde milhões de pessoas, em reação à falta de agências e serviços tradicionais no país, realizam seus serviços bancários em seus dispositivos móveis. A China também está anos-luz à frente dos EUA no que diz respeito às transações digitais.

Diante de tanta hostilidade, será que a Libra vai decolar? Zuckerberg deixou claro que o próprio Face não seguirá em frente com ela sem a aprovação regulatória dos EUA. Como esse empreendimento está agora nas mãos da nova Libra Association – um grupo de empresas (entre as quais o próprio Facebook) e organizações sem fins lucrativos – e é formalmente independente do Face, a Libra ainda poderá ser lançada. Porém, na realidade, sem o Facebook, a Libra não vai a lugar nenhum.

Serão necessárias sutileza diplomática e habilidade política consideráveis para que a Libra supere formalmente todos os obstáculos que tem pela frente. Em seu depoimento, Zuckerberg disse: “Enquanto debatemos essas questões, o resto do mundo não está parado. A China está se movimentando rapidamente para lançar ideias semelhantes nos próximos meses. A Libra ampliará a liderança financeira dos Estados Unidos, bem como nossa supervisão e nossos valores democráticos em todo o mundo. Se os Estados Unidos não inovarem, nossa liderança financeira não estará garantida”.

Os cigarros eletrônicos são uma bênção

Em nítido contraste com as norte-americanas, as autoridades de saúde britânicas endossam os cigarros eletrônicos como um meio altamente eficaz de permitir que as pessoas deixem de fumar tabaco.

No entanto, políticos e autoridades reguladoras dos EUA – lideradas pelo FDA, órgão de controle de alimentos e medicamentos – estão proibindo os cigarros eletrônicos com sabor, alegando que estes são projetados de modo a atrair adolescentes incautos para esse hábito. A cidade de São Francisco – aquele refúgio de drogados e pessoas que defecam nas calçadas – chegou a proibir a venda de dispositivos de vaporização. A realidade é que quase todos os adeptos dos cigarros eletrônicos – são cerca de 11 milhões de usuários adultos nos EUA – preferem os sabores ao gosto do tabaco não saborizado.

“Adquire sabedoria, pois, com ela, terás o entendimento.”

Quanto a uma “epidemia” de uso por parte dos adolescentes, há poucas evidências de que os cigarros eletrônicos viraram uma porta de entrada para o consumo de cigarros. De fato, o tabagismo entre os adolescentes vem caindo fortemente desde a década de 1990.

Banir os cigarros eletrônicos, proibir as versões com sabor ou cobrar impostos draconianos (como muitos políticos dentro do Congresso e fora dele estão exigindo) teria duas consequências ruins: o aumento do número de fumantes de cigarros tradicionais – altamente letais – e o surgimento de um mercado negro de cigarros eletrônicos com sabor, com todos os riscos de versões não seguras que isso implicaria.

Steve Forbes, Editor-chefe da Forbes

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