Pesquisa revela que trabalho freelancer deve ser um caminho sem volta

16 de dezembro de 2019
Divulgação

Daniel Schwebel, country manager da Workana no Brasil

As mudanças no mercado de trabalho causadas pelas inovações tecnológicas são assuntos recorrentes. Se, por um lado, novas ferramentas, como automação e aprendizado de máquina, ameaçam os empregos tradicionais, por outro elas possibilitam eliminar as barreiras geográficas e contratar profissionais que, de outro modo, nem saberíamos que existem para executar tarefas de modo remoto.

E essa tendência passa, cada vez mais, pelo trabalho à distância e sem vínculo empregatício. A quarta edição de um levantamento feito anualmente pela Workana revelou que, na América Latina, 52,6% dos profissionais freelancers ouvidos já tem no modo de trabalho sua fonte principal de renda. Muita gente pode argumentar que esse movimento é decorrente dos altos índices de desemprego na região – só no Brasil são 12,4 milhões segundo a última divulgação do IBGE, no fim de novembro. Mas, para Daniel Schwebel, country manager da companhia no país, essa análise deveria ser muito mais profunda. Basicamente por dois motivos.

O primeiro é que o levantamento oficial não leva em consideração esses trabalhadores, assim como também não computa os motoristas de aplicativos de transporte e os entregadores que usam motos ou bicicletas, entre vários outros. Ou seja, os dados só incluem os profissionais que atuam no modelo CLT e, portanto, podem ter alguma distorção. “A maneira de trabalho é diferente, mas quando percebemos que mais da metade dos freelancers vive e se sustenta assim, chegamos à conclusão de que eles não deveriam ser classificados como desempregados”, diz o especialista. O que Schwebel quer dizer é que, para muita gente, o trabalho freelancer deixou de ser uma medida paliativa e temporária do ponto de vista econômico.

A outra razão passa por uma mudança de mindset. “As novas gerações já buscam essa forma de atuação como um objetivo de vida. Elas não querem ficar presas ao ambiente de trabalho e não têm interesse em executar sempre a mesmo tarefa. Estão em busca de projetos variados e fazem questão de ter tempo para outras coisas”, diz. De fato, a pesquisa da plataforma, especializada em conectar profissionais freelancers a empresas com mais de 2,5 milhões deles em sua base (metade no Brasil), revelou que a maior parte desse contingente é de jovens entre 21 e 30 anos (35,6%), seguidos pelos jovens adultos (29,5%). Na sequência, estão os integrantes da faixa etária entre 41 e 50 anos (17,5%), acima de 50 (12,6%), e até 20 anos (4,8%).

Para Schwebel, há um outro fator importante nessa mudança de mentalidade: o desejo de grande parte das pessoas de deixar as grandes metrópoles em busca de qualidade de vida. “Quando uma empresa percebe que o profissional vai entregar o que ela precisa, tanto faz ele estar em São Paulo ou no interior da Bahia”, diz. E, como uma coisa leva à outra, essa facilidade – só possível por causa da tecnologia – tem tudo para mudar a dinâmica econômica de qualquer cidade ou região.

Sob essa ótica, a plataforma estuda formas de levar isso ainda mais adiante e ajudar a reduzir a imensa desigualdade que vivemos hoje no mundo todo. No Brasil, por exemplo, 90% do PIB está concentrado nas regiões Sul e Sudeste. Sem entrar em muitos detalhes, Schwebel menciona parcerias para fomentar o crédito entre esses profissionais – que, muitas vezes, não possuem comprovante de renda – e estimular o aprendizado e as certificações. “À medida que isso se tornar uma realidade, nenhum lugar será remoto demais.”

A qualificação e aprendizagem é outro dado que chamou atenção na pesquisa. Cerca de 46,5% da população freelance possui nível superior e complementa os seus ensinos formais por meio de livros e revistas (58,5%) ou cursos (34,8%) para continuar se especializando. No entanto, a capacitação por meio de plataformas digitais ou espaços de e-learning predomina, alcançando 73% dos entrevistados, com uma avaliação positiva dessa experiência. Schwebel alerta que essa é a outra grande mudança que o mercado de trabalho está vivendo.

“Percebemos que as empresas estão muito mais concentradas nas habilidades dos profissionais do que na sua formação acadêmica. Elas vão demandar muito mais do intelecto e da capacitação tecnológica deles. Algumas grandes empresas do Vale do Silício já nem se importam mais que universidade o colaborador frequentou.” O executivo diz que, em alguns mercados mais tradicionais, essa mudança pode demorar, mas isso não muda a tendência. “A falta de qualificação e de acesso à educação, não necessariamente universitária, são piores para o desemprego do que as crises econômicas.”

Schwebel diz que tem percebido um novo posicionamento também por parte das empresas que recrutam os profissionais. “Há sete anos, quando começamos, trabalhávamos basicamente com negócios pequenos, quase todos online. Hoje, atendemos grandes companhias, como Unilever, Ambev, Unidas e SAS”, conta, revelando que, em 2012, ano de fundação da plataforma, 1,5 mil projetos foram viabilizados. Em 2019, até agora, já foram 300 mil.

Segundo o levantamento, que ouviu 162 clientes da plataforma, 44,2% começaram a contratar freelancers nos últimos três meses, enquanto quase 26% já usam o serviço há pelos menos um ano. O principal motivo alegado é a necessidade de um recurso externo para poder manter o foco nas prioridades do negócio (42,5%) e a realização de projetos pontuais (21,7%). Entre as categorias mais contratadas estão profissionais de tecnologia da informação e programação (46,8%), design e multimídia (24,8%), tradução e conteúdos (13,8%) e marketing e vendas (11,9%). Para Schwebel, este é um caminho sem volta. “Os profissionais e as empresas estão, cada vez mais, percebendo as vantagens desse modelo. E quem começa, não volta atrás.”

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Ame compra Pedala

A Pedala – Entregas Sustentáveis, startup investida pelo BMG UpTech em parceria com a Bossa Nova, anunciou que chegou ao tão esperado exit, termo que designa o ponto de “saída” dos investidores ou sócios. A plataforma foi vendida para a Ame, empresa da B2W e das Lojas Americanas, e vai ajudar a fortalecer a operação logística do grupo. A solução realiza entregas na chamada última milha para empresas de comércio eletrônico por meio de ciclistas profissionais. Por usar a bicicleta, consegue atender à demanda sempre no mesmo dia ou, no máximo, no dia seguinte, a um preço inferior ao dos concorrentes, já que não usa gasolina e não tem que arcar com os caros custos de manutenção dos outros modais. Desde 2015, mais de 400 mil entregas já foram realizadas – o equivalente a mais de 30 voltas ao mundo. As condições do negócio não foram detalhadas.

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Realismo no aprendizado

O Hospital Alemão Oswaldo Cruz acaba de anunciar uma parceria com a MedRoom, edtech que usa a realidade virtual e conceitos de gamificação no treinamento de universitários. A tecnologia será usada no processo de ensino de estudantes de cursos técnicos, de graduação e pós-graduação da área médica e multiprofissional de saúde para exploração do corpo humano em 3D em aulas de anatomia e fisiologia da Faculdade e Escola Técnica do hospital. A ferramenta permite a visualização, com grande realismo, de todas as partes do organismo sem a necessidade do uso de cadáveres. Além disso, a estrutura interna de cada órgão pode ser ampliada, e eles podem ser isolados e examinados de qualquer ângulo. A instituição pretende, ainda, aumentar o acesso à realidade virtual por meio da produção conjunta de um escape game – jogo no qual o participante fica imerso em um espaço e precisa solucionar charadas para sair – com temática de saúde.

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Sem testes em animais

O Peta anunciou hoje (16) que adicionou a Avon à sua lista “Working for Regulatory Change” (trabalhando por mudanças regulatórias, em português). Isso significa que a gigante de cosméticos se junta a uma ainda pequena lista de companhias reconhecidas pela organização não governamental por seu compromisso em desenvolver e validar métodos de trabalho que não envolvam testes em animais. “Não acreditamos que essa prática seja necessária para comprovar a segurança de nossos produtos e não a utilizamos em nenhum lugar do mundo. Continuaremos a pressionar o mercado pela aceitação das alterativas”, disse Jonathan Myers, diretor de operações da Avon, ao comentar o reconhecimento.

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