América Latina pode se tornar importante centro de mão de obra especializada em IA

24 de janeiro de 2020
Divulgação

Marco Stefanini, CEO global e fundador da multinacional brasileira Stefanini

Divulgado na última segunda-feira (22), durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, o relatório “Global Talent in the Age of Artificial Intelligence” (“Talento Global na Era da Inteligência Artificial”, em português) aborda, em um capítulo inteiro, a possibilidade de a América Latina – incluindo o Brasil – tornar-se um fornecedor de talentos em inteligência artificial.

Assinado por Marco Stefanini (foto), CEO global e fundador da multinacional brasileira Stefanini, e por Fábio Caversan, diretor de pesquisa e desenvolvimento em IA da unidade da empresa nos Estados Unidos, o documento faz uma análise do cenário atual da região, suas oportunidades e desafios. Quem tem mais idade há de lembrar que, no início dos anos 2000, o Brasil também era cotado para ser um dos principais centros de outsourcing de tecnologia da informação, fornecendo mão de obra especializada à distância, a exemplo da Índia.

A expectativa não se confirmou e, de acordo com o relatório desta semana, o Brasil ainda caiu oito posições no ranking que classifica 125 países por sua capacidade de criar, atrair, desenvolver e reter talentos em relação ao ano passado, ocupando agora a 80ª posição. “A Índia vem fazendo a lição de casa há 40 anos”, explica Stefanini. “Para ocupar uma posição de destaque nesse cenário não adianta um impulso de apenas dois ou três anos. Tem de ser uma ação contínua.”

O executivo, no entanto, enxerga algumas diferenças entre a tecnologia da informação tradicional e o digital que podem ser fundamentais para que, desta vez, sejamos capazes de embarcar nessa onda. Um deles é a proximidade cultural. Segundo ele, os países do Leste Europeu, como Romênia, Polônia e Ucrânia, estão mais aptos para prestar serviços à Europa Ocidental, ao mesmo tempo em que a América Latina tem mais familiaridade com os Estados Unidos. “É muito mais difícil para um asiático, por exemplo, desenvolver um aplicativo ou um vídeo para uma empresa francesa ou norte-americana em função das diferenças culturais”, explica.

Um outro aspecto é que, nos níveis atuais de prestação de serviços, a interação é mais necessária do que antes. Segundo Stefanini, aquele modelo de trabalho onde o fuso horário pouco importava não é mais tão eficiente nos dias de hoje. “Por isso, é mais interessante quando os profissionais dos dois países estão em fusos horários parecidos.” De acordo com ele, as empresas que estão adotando o conceito, batizado de nearshore (que vale tanto para a proximidade cultural quanto de horário), têm logrado mais sucesso.

Por fim, há a questão da mão de obra. Há um grande contingente de profissionais de níveis menos seniores disponível – já que os experts já foram absorvidos pelos países desenvolvidos – que poderia ser retreinado com foco na IA. “Só na América Latina são mais de 500 milhões de pessoas. Precisamos aproveitar essa oportunidade, mas, para isso, há muito a ser feito no que diz respeito à educação.”

O executivo diz que a falta de mão de obra especializada na tecnologia não é prerrogativa apenas dos países latino-americanos. Mas não tem milagre: uma mudança efetiva tem de começar na base. “Programação deveria ser matéria obrigatória na educação básica. Com ela, as crianças passam a entender a lógica”, diz, contando que a França está prestes a implementar algo do tipo. “Além disso, precisamos de mais cursos profissionalizantes voltados para a área de tecnologia.”

Stefanini se mostra otimista. “Acreditamos genuinamente que esse momento único oferece uma oportunidade histórica para a América Latina se tornar um líder global de desenvolvimento e entrega de tecnologia de inteligência artificial. Para tanto, é fundamental assumirmos esse protagonismo e empreender cada vez mais, com a agilidade que os dias de hoje exigem para não ficarmos fora deste relevante movimento que vai nos colocar em um patamar exponencial.”

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Sundar Pichai diz que privacidade não pode ser luxo

Privacidade não pode ser artigo de luxo. Essa frase pode soar irônica quando atribuída ao líder de uma das empresas no centro do debate sobre como gigantes de tecnologia tratam dados pessoais, mas o CEO da Google prega que um marco regulatório é necessário para reger privacidade no mundo.

No Fórum Econômico Mundial em Davos nesta semana, Sundar Pichai participou de um debate sobre o tema e disse que produtos de big techs devem focar no aprimoramento da privacidade, ressaltando que a própria Google tem trabalhado para dar escolhas e controle a seus usuários sobre o que acontece com suas informações pessoais. Pichai também defendeu a criação de um conjunto de regras para privacidade baseado na Lei Geral de Proteção de Dados europeia.

Sobre inteligência artificial (IA), o executivo considera a tecnologia uma forma de preservar privacidade e também melhorar a experiência de uso de ofertas digitais. Em um artigo recente no Financial Times, o executivo fez outra defesa a regulamentação, argumentando que a IA tem um potencial gigantesco, mas que apresenta grandes perigos, usando o exemplo de deep fakes, onde uso de tecnologia possibilita a manipulação de áudio e vídeo com resultados que parecem reais.

Aplicações da inteligência artificial em áreas como veículos autônomos e aplicações em saúde são muito importantes para não terem regras, segundo Pichai, que defende um marco regulatório para a IA, mas, ao mesmo tempo, prega uma “abordagem sensata” para tratar o assunto.

Em 2019, a companhia criou um conselho independente para supervisionar seus esforços, em aspectos como ética no uso de IA, machine learning e reconhecimento facial. Mas o comitê foi extinguido menos de duas semanas depois de controvérsias sobre o background de especialistas que fariam parte do grupo.

LEIA MAIS: Daniel Hulme: por que o Brasil deve regulamentar a inteligência artificial

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Venture capital no Brasil registra salto em 2019

Enquanto empresas ditas tradicionais tentam se reerguer no Brasil, startups surfam em um clima de entusiasmo e de muita disponibilidade de capital. O cenário animador para as jovens empresas é descrito no relatório Inside Venture Capital Brasil, do Distrito Dataminer, braço de inteligência de mercado da rede de centro de inovação Distrito.

Segundo o estudo, o venture capital movimentou mais de US$ 2,7 bilhões no Brasil em 2019, um aumento de 80% em comparação ao montante de US$ 1,5 bilhão investido em 2018. Em relação a 2017, quando o total foi US$ 905 milhões, houve um crescimento de 198% em investimentos de VC.

Houve também um salto no número de fusões e aquisições realizadas junto às startups brasileiras ao longo de 2019. Em 2018, foram 18 operações deste tipo e, no ano seguinte, o número aumentou para 60. Gustavo Gierun, cofundador da Distrito, prevê um crescimento vigoroso para o mercado de venture capital neste ano.

“Vivemos um período de estabilidade política e recuperação econômica que favorece a criação de novos negócios e acesso a capital”, aponta. “No mercado interno temos um cenário de inflação controlada, bons indícios de avanço do PIB e taxa Selic em sua mínima histórica, o que atrai os investidores para ativos com maior potencial de retorno, como venture capital.”

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Gramado Summit foca em internacionalização

O evento de inovação, tecnologia e empreendedorismo Gramado Summit quer dobrar a audiência em sua próxima edição, bem como enfatizar o caráter internacional da conferência. Nesta semana, as projeções para a iniciativa, que será realizada entre 5 e 7 de agosto na cidade de Gramado (RS), foram divulgadas.

Um público de 24 mil pessoas é esperado para o evento, que também abordará segmentos como marketing, comunicação, finanças e propósito. A internacionalização, que já tinha começado no ano passado com a presença dos governos do Canadá, Mônaco e Hong Kong, aumentará em 2020, com mais empresa estrangeiras na feira de negócios, que terá 200 empresas expositoras em 2020.

Jordan Belfort (foto), o Lobo de Wall Street, será um dos principais palestrantes e também ministrará um curso de vendas. O line-up para os palcos inclui, ainda, Rony Meisler, fundador da Reserva; Ana Fontes, da Rede Mulher Empreendedora; Dani Junco, da B2Mamy; Vagner Soares, da Publicis , e Alê Garcia, do podcast Negro da Semana.

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SESI adiciona tecnologia e soft skills à grade escolar

As aulas na rede escolar do Serviço Social da Indústria (SESI-SP) iniciam na próxima segunda-feira (27) e a novidade neste ano letivo é a inclusão de aulas de programação e robótica para todos os estudantes.

O movimento da instituição de aprimorar a grade também inclui disciplinas focadas em capacidades sócio-emocionais, as chamadas soft skills. Para trabalhar estes aspectos, o SESI incluirá disciplinas como Práticas Filosóficas, para estimular o diálogo, o debate, o autoconhecimento e a interação, além de Práticas Sociais e Culturais, que usa o Project-Based Learning (PBL), abordagem de aprendizagem baseada em projetos.

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Dança das cadeiras

José Nilo Cruz Martins, que era o country manager da Amazon dedicado aos assuntos relacionados à assistente de voz Alexa, saiu da empresa. Martins era um veterano na subsidiária brasileira da empresa, tendo entrado em 2011 para liderar as operações da Amazon Web Services, braço de computação em nuvem da gigante de tecnologia. Ele agora está na Huawei, onde é vice presidente para os negócios de nuvem e tem o objetivo de “explorar a convergência entre China, cloud, AI e 5G.”

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Dança das cadeiras 2

A responsável pela área de pessoas do Google na América Latina, Monica Duarte Santos, mudou-se para o mundo das startups brasileiras depois de trabalhar na big tech por quase 12 anos. O novo local de trabalho da executiva é a Loggi, onde Monica atualmente ocupa a função de chief people officer.

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