Dólar renova recorde de alta em volta do carnaval

26 de fevereiro de 2020
Guadalupe Pardo - REUTERS

Na volta do feriadão de carnaval, dólar renovou máxima histórica em relação ao real

Os negócios no mercado de câmbio foram retomados hoje (26) às 13h, após o feriadão de carnaval, com os temores de um movimento muito brusco de correção diante do forte estresse dos últimos dias nos mercados estrangeiros pela rápida disseminação do coronavírus pelo mundo.

Além da China, o vírus tem propagação rápida em 33 países da Ásia, Europa, América do Norte e, agora, na América do Sul, com a confirmação do primeiro caso de contágio pelo Covid-19 no Brasil, em São Paulo.

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Desde segunda-feira, as principais bolsas mundiais registram baixas expressivas e, ao mesmo tempo, a cotação de moedas de países emergentes sucumbe à forte valorização do dólar, ativo tradicionalmente considerado “refúgio” para investidores em situações de crises. Junto com o ouro e os títulos do Tesouro dos Estados Unidos, o dólar tem a fama de oferecer liquidez, ou seja, facilidade de negociação sob quaisquer circunstâncias de mercado.

Na tentativa de frear um pouco uma explosão no preço do dólar na volta dos negócios hoje, o Banco Central anunciou pela manhã a realização de leilão extraordinário de swap cambial, instrumento financeiro que funciona como a “venda” de dólares no mercado futuro. Das 13h30 às 13h40, foi ofertado US$ 1,5 bilhão, o que segurou a alta do dólar perto de 60% por pouco tempo. Em seguida, a variação já ultrapassava 1%.

O dólar acabou fechando com alta de 1,23% em relação ao real, a R$ 4,442, renovando máxima histórica desde a implantação do Plano Real em 1994.

Em fevereiro, a moeda norte-americana acumula alta de 3,67% e, em 2020, a valorização é de 10,47%. Nos últimos 12 meses, o dólar já apresenta ganhos de 18,37% contra o real.

“Desde a semana passada, o BC atua e logo que vende e sai do mercado, o dólar sobe”, lembra Mario Battistel, gerente de câmbio da Fair Corretora.

Battistel ainda diz que, diante do fator de pressão em todo o mundo que é o avanço do coronavírus, os investidores “correm” para colocar recursos em posições sem risco em uma semana curta, com final de mês na sexta-feira e de “briga de comprados e vendidos” em dólar na B3 pela cotação mais conveniente a cada parte. Além disso, as falas do ministro da economia Paulo Guedes reforçam a tendência de alta do dólar.

“Acredito que (as falas) tenham algum fundo de intenção na manutenção do preço do dólar alto. Como nossa inflação não corre risco de alta sem demanda suficiente para pressioná-la, ele (Paulo Guedes) se aproveita de um momento com nossos juros baixos, atraindo pouco investimento em juros, e beneficia exportações com preço do dólar e, de certa forma, inibe um pouco a importação de quinquilharias que vêm da China”, analisa Battistel.

Fernando Bergallo, CEO da FB Capital, diz que o mercado já esperava ajustes fortes no câmbio por conta de cinco dias sem operações no Brasil e, durante este período, um intenso noticiário no exterior. No entanto, em algum momento, acredita que o mercado poderá questionar ou colocar em cheque a política de juros baixos e dólar forte defendida por Paulo Guedes.

“A gente teve uma pesquisa do Boletim Focus hoje que já trouxe uma expectativa de dólar mais alto para o final do ano. A média das apostas subiu de R$ 4,10 para R$ 4,15, e a gente segue com uma extrema volatilidade e à mercê absolutamente do noticiário em relação à disseminação do vírus e os reflexos para o crescimento chinês e consequências para o mundo todo”, explica.

Ainda segundo Bergallo, o Banco Central tem condições limitadas de contenção da depreciação do real em relação ao dólar, uma vez que o mesmo ocorre com outras moedas de países emergentes em todo o mundo.

“O Banco Central anunciou (hoje) o leilão pouco antes da reabertura dos negócios, mas não tem força para peitar o mercado e atuou para combater um pouco a distorção”.

Amanhã (27), o Banco Central voltará a atuar no mercado de câmbio, entre 9h30 e 9h40, com a oferta de até 20 mil contratos de swap tradicional com vencimento em agosto, outubro e dezembro deste ano.

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Luciene Miranda é jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios com coberturas independentes na B3, NYSE, Nasdaq e CBOT

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