Quando eu era aluna do curso de Economia da Universidade Federal de Santa Catarina, participei de uma pesquisa na qual o professor questionava sobre a preferência entre duas modalidades de viagens. A primeira era para Nova York em classe econômica, com uma semana de duração, hotel três estrelas, e US$ 80 para gastar por dia. A outra opção era esperar quatro anos para poder ir em classe executiva, com o dobro de tempo de permanência na cidade, hotel cinco estrelas e US$ 200 por dia para gastar. 81% dos entrevistados preferiram a primeira opção.
Este resultado era congruente com a economia que eu estudava, pois nós, humanos, temos preferência pelo agora, e para esperar exigimos uma recompensa. A recompensa oferecida pela espera só motivou 19% dos alunos.
De acordo com a teoria econômica tradicional, descontamos o futuro através de uma função exponencial. Dessa forma, se fizermos um investimento hoje de R$ 1.000 a uma taxa de juros de 5% ao ano, teremos R$ 1.050 daqui a um ano. Continuando com o mesmo investimento e com a mesma taxa de juros, em dez anos teremos acumulado R$ 1.628,89. O interessante é que, no primeiro ano, nosso dinheiro só rendeu R$ 50. Já no último ano, rendeu R$ 77,57. Porém, dividindo o valor do dinheiro no fim do ano em relação ao valor do início do ano, sempre encontraremos um valor fixo de 1,05 – ou 5% de diferença.
Quando se quer saber o valor atual de uma renda no futuro, também se pode utilizar o mesmo princípio, por meio do desconto exponencial. Por exemplo: preferirmos R$ 1.000 hoje a R$ 1.050 daqui a um ano, também devemos preferir R$ R$ 73,87 em nove anos a R$ 1.628,89 em dez anos.
Se respeitássemos o desconto exponencial, todas as pessoas que preferiram usufruir a viagem na primeira situação (na próxima semana) também deveriam preferir viajar antes na segunda situação (daqui a quatro anos ao invés de oito). Mas isto não aconteceu mesmo entre alunos de economia. Ou seja: nós, alunos treinados em economia, agimos como humanos e não como o homo economicus dos textos de economia ou como o famoso Dr. Spock de “Star Trek”.
Segundo Kahneman, nosso cérebro se divide em dois: o mais primitivo, que ele chama de cérebro rápido, e o mais moderno, o córtex pré-frontal, que ele chama de cérebro lento. O cérebro rápido está sempre buscando a gratificação instantânea, não está nem aí para nosso eu futuro. Já o nosso cérebro lento não se preocupa com o agora, ele só quer saber do amanhã.
As decisões sobre investimentos e consumo não são tomadas apenas no córtex, ou o cérebro lento, como supõe a economia tradicional. Segundo Kahneman, elas são afetadas também pelo cérebro primitivo, o rápido.
Mas como tudo isso pode ajudar nós, mulheres, a cuidar mais do nosso eu futuro?
Procuro automatizar meus investimentos o máximo possível. Deixo uma TED programada do meu banco para minha plataforma de investimentos logo no dia em que recebo meus rendimentos. Assim, o cérebro rápido, aquele que não entende de futuro, não reclama na hora de tirar o dinheiro que ele vai passar a considerar “dele” no momento que o dinheiro cair na conta;
Sempre que vejo alguma coisa que meu cérebro rápido quer muito, saio e espero o dia seguinte. Assim, o cérebro rápido e o cérebro lento têm um dia todo para brigar. Se, no dia seguinte, o desejo de comprar do cérebro rápido tiver vencido o racional cérebro lento, eu volto à loja. E posso afirmar uma coisa para vocês: o cérebro racional é lento, mas se tiver um tempo, ele quase sempre vence o cérebro primitivo.
E então, vamos dar um tempo para o nosso córtex pré-frontal cuidar do nosso eu futuro?
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