O vinho se tornou um valioso ativo de rápida liquidez no mercado mundial. Leilões, aplicativos de busca que balizam o valor dos vinhos e um existente mercado negro fazem parte de um escoamento desta categoria de moeda de troca. E que, mesmo no pior cenário, pode ser bebida com enorme prazer.
Alguns rótulos no mundo do vinho são inabaláveis e dificilmente perdem valor, como Romanée Conti, Leroy, Rousseau, Dujac, Petrus, Château Lafite e Château Margaux, entre alguns. O mundo busca grandes nomes, sempre, mas de olho nos novos talentos, que são os investimentos de médio a longo prazo. Sim, vinho é investimento! De curto prazo, na qualidade de vida, no prazer e até na saúde, mas, quando compra-se pensando em médio a longo prazo, o foco é outro.
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Na aquisição de um vinho importante, de guarda, duas questões entram em jogo: o valor que ele alcançará no decorrer dos anos e a escassez. Como a produção é limitada e, nas safras boas, a procura é ainda maior, quando esses vinhos alcançam sua maturação, quem tem tem e quem não tem e quer paga caro! É preciso muita paciência e visão de futuro, mas este é um mercado de investimento mais “light” em relação ao estressante mercado financeiro.
Michael Troise, diretor por 25 anos da casa de leilão Christie’s, é um personagem que entende bem desse assunto. Com uma coleção por volta de 100 mil garrafas, ele está sempre antenado nas novidades e ainda viajando muito para manter seus contatos, que são, sem a menor dúvida, quentíssimos.
No meu último encontro com ele, Troise comentou: “Quando minha filha se casou, vendi algumas garrafas e lhe comprei um apartamento”. O vinho muitas vezes é melhor que ouro!
Mas é preciso cuidado, tem de se confiar muito e sempre lidar com pessoas que tenham nome sólido no mercado, senão pode-se acabar como no filme “Sour Grapes”, sobre o fraudador Rudy Kurniawan. Assistam antes de investir! “Seu maior ativo é sua palavra”, ele me disse.
No Brasil, esse mercado já foi bem mais aquecido, quando não existia o wine-searcher.com que virou a referência para quem compra e vende. Ali, são comparados os preços do mesmo vinho em lojas pelo mundo, uma bolsa de valores para vinhos. Claro, a procedência sempre fica sendo um fator de extrema importância pois, a legitimidade do vinho vem em primeiro lugar. A marca RareWines no Brasil é um exemplo de seriedade em trade de vinhos de alto padrão.
O Brasil é um mercado de grande potencial que consome apenas 2,8 litros per capita. Pouco, se comparado à França, que tem consumo médio de 55,6 litros por pessoa. Aqui, os espumantes nacionais já dominam o mercado que antes era preenchido por prossecco e champanhe. Em acordo fechado em Bruxelas em 2019, o Mercosul se comprometeu a zerar as tarifas de importação para vinhos europeus em até 12 anos e, isso elevaria muito o acesso aos grandes rótulos desse continente que chegam a ter 55% de impostos.
Em momento de alta de dólar, esses vinhos, que já não são dos mais acessíveis, ficam impraticáveis. Já está prevista uma alta de 10% em breve!
E o que fazer? Comprar? Beber? Guardar? Vender?
Em momento de crise, as quatro atitudes podem ser tomadas. Dificilmente, compra-se vinhos em um momento de incerteza econômica –no caso atual, uma pandemia. Compra-se, sim, quando existe oportunidade, quando circulam listas de adegas privadas e os vinhos estão mais acessíveis, mas, quando o dólar aumenta, as vendas automaticamente caem.
Vende-se, quando existe a necessidade.
Guarda-se, quando a cautela fala mais alto para alguns.
E bebe-se, quando não se deixa abalar por uma queda, um tombo, um arranhão. Bebe-se, em um momento de reflexão, transformação, de contemplação e tentativa de compreensão da mensagem do universo. Bebe-se para elevar o espírito para lidar com as adversidades, pois, o vinho é alimento que, na sua medida moderada e sã, harmoniza o pensamento. Além de antisséptico. Ahá!
Eis que num momento de extrema vulnerabilidade, dúvidas, medos, perdas e incerteza uma coisa é certa: o vinho é um ativo de múltiplas funções!
Tchin tchin, sempre.
Carolina Schoof Centola é fundadora da TriWine Investimentos e sommelière formada pela ABS, especializada na região de Champagne. Em Milão, foi a primeira mulher a participar do primeiro grupo de PRs do Armani Privé.
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