A vida é sempre aprendizado, em todas as áreas. E quantas vezes, quando aprendemos algo novo, dizemos: “Nossa, que legal!” Pode ser o jeito como a pessoa corta a cebola, um atalho no telefone, como colocar o travesseiro dentro da fronha, como transformar farinha em pão ou uva em vinho e também como aprender a usar taças de vinhos. Sim, taças são importantíssimas!
Há quem diga que não liga para isso, mas, já fez uma degustação de taças? É interessante, pode apostar! Vai se surpreender ao colocar um cabernet sauvignon em, ao menos, três taças diferentes. E champanhe em flûte, taça de vinho branco, de vinho tinto e na atual feita especialmente para essa categoria. A brincadeira é um tanto misteriosa, intrigante e divertida, pois os aromas e o paladar mudam completamente.
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Muitas vezes, não aproveitamos um vinho em sua totalidade, simplesmente por estar bebendo em uma taça que não é adequada. Essa tradição vem dos anos 1400, em Veneza, mas é no final do século 17 que começa a sofisticação. Uma das famílias mais tradicionais nesse ramo é a Riedel Crystal, austríaca, que vem evoluindo nesse setor desde final dos 1600 e já está na 11ª geração, com o atual CEO e presidente, Maximilian J. Riedel.
Presente em mais de 100 países, a marca tem taças que variam entre as mais robustas, para restaurantes e hotéis, até as “fatto a mano”, feitas a mão e não por máquinas. Cores, formas, inúmeros tipos, decanters, uma variedade enorme para se divertir. No aplicativo deles, dá para se ter uma ideia. Aliás, a plataforma é um bom guia para escolher taças.
Existem algumas marcas no mercado e cada um tem afinidade com uma, mas em termos de performance, técnica, estudo e fidelidade ao objetivo, a Riedel está bem a frente. Além de qualidade, sofisticação e beleza, ela vem com propriedade. São anos de degustações com profissionais da área, como enólogos, sommeliers, proprietários de châteaux e maisons de champanhe. Entre eles, a Krug, que desenvolveu uma taça específica para seu champanhe chamada Joseph (de Joseph Krug, o fundador da Maison Krug, em Champagne). A Nespresso também tem sua taça especial para os cafés, que eu acabo usando para vinho do porto às vezes, pois acho charmosa. E a brincadeira continua, de diversas formas e cores; afinal, não deixemos jamais a brincadeira de lado.
Como ignorar a roda de fragrâncias de vinhos que ultrapassa cem aromas diferentes? Será mesmo que tudo isso é “frescura” ou existe um estudo científico? Claro que sim, e isso foi desenvolvido, não muito mais do que 30 anos atrás, pela Dra. Ann C Noble, na Universidade da Califórnia, quando lecionava análise sensorial do vinho. Claro que seria desenvolvido em uma região de vinhos, e não me espanta ser Califórnia. Mesmo se estiver sozinho, vale baixar a roda no celular e tentar identificar enquanto toma seu vinho. O nosso cérebro adora um estímulo diferente e, em momentos de quarentena, ainda mais.
Outra fonte interessante é o Nez du Vin, uma caixa de aromas com frascos para ativar a memória cerebral, além de explicar em quais vinhos podem ser encontrados esses aromas. Só lembrando que nos, seres humanos, podemos detectar mais de um trilhão de odores, segundo jornal “Science“, e conseguimos memorizar 10 mil.
de explicar em quais vinhos podem ser encontrados esses aromas. Só lembrando que nós, seres humanos, podemos detectar mais de um trilhão de odores, segundo jornal “Science”, e conseguimos memorizar 10 mil.
O paladar teve seu mapeamento estudado bem mais cedo, em 1901, pelo alemão David P. Hänig, que desenhou (artisticamente na época) o mapa da língua que conhecemos hoje, de doce, salgado, amargo, azedo –depois umami e mais recentemente o oleogustus. O estudo identifica que temos todos estes sensores espalhados pela língua, mas que eles são concentrados em algumas partes específicas.
Tudo isso nos dá base suficiente para reconhecer que um vinho em uma taça que dificulta a liberação correta de aromas e que, pelo seu formato, joga a bebida na região menos favorecida da língua, acaba perdendo muito de seu potencial gustativo. É por isso que existem estudos específicos para potencializar o prazer de degustar um vinho. Como cada panela com sua tampa! (Dá pra usar a mesma panela para risoto, arroz, esquentar feijão, fazer refogado, mas não dá pra fritar, captou?)
Para começar, vamos do começo. Duas taças de cada tipo, de acordo com o financeiro de cada um, de varietais, como cabernet sauvignon, pinot noir e chardonnay. A de riesling, da Riedel, eu uso para brancos sem passagem por madeira, riesling e rosés. Champanhe tem taça específica e não é a flûte, que já foi expurgada há tempos.
Em Champagne, a chance de entrar num bar, restaurante, hotel ou maison que sirva a bebida na flûte é quase zero. Isso porque ela fez seu papel de mostrar as bolhas subindo e a facilidade de servir na bandeja, pois ocupa menos espaço (parece que tem muito, mas não tem). As taças evoluem junto com o vinho, que hoje é muito mais complexo. Um champanhe é um vinho que passa por uma segunda fermentação para adquirir gás carbônico, mas, esse vinho base, de qualidade altíssima, é reduzido de forma desleal quando consumido em uma taça imprópria, como a flûte. Em grandes celebrações, porém, a logística, impreterivelmente, será pelo serviço com a flûte, e nós todos celebraremos, pois, o foco é outro.
Assim sendo, temos uma interessante maneira de brincar, sem ser impositiva ou mandatória, mas que pode ser divertida, estimulante e curiosa. As informações, o conteúdo que adquirimos são muito bem utilizados quando compartilhamos de maneira sutil e agregadora e não discriminatória. O vinho é um prazer, um alimento e um saudável hábito que traz todas essas variáveis para que tem interesse em se aprofundar. É só uma questão de disposição!
Tchin tchin!
Carolina Schoof Centola é fundadora da TriWine Investimentos e sommelière formada pela ABS, especializada na região de Champagne. Em Milão, foi a primeira mulher a participar do primeiro grupo de PRs do Armani Privé.
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