Neste momento do planeta, em que estamos todos isolados, o que será que podemos identificar como mudança em relação ao amor? Os que estão sozinhos, os que estão com crianças, os que são idosos, os que trabalham de casa, os que ficaram sem trabalho e assim por diante, será que mudou algo? O que aproximou as pessoas e o que as distanciou, quais cortinas caíram, quais valores mudaram, o que ficou mais nítido pra você?
Apesar dos problemas financeiros que o globo enfrenta, existe uma dificuldade latente das separações, de perdas físicas para alguns e psicológicas para outros. Do amor. Mas, e se não era amor? Ou se era e não é mais? Isso é ruim, é certo? E se agora entendo o que é o amor, pois eu não o tenho mais? Quem consegue entender o amor? E quem consegue entender tudo sobre vinho?
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Ora, veja quão vasto, enigmático, tendencioso, aromático, borbulhante, finito, infinito, colorido, bouchonnée, excitante, relaxante, é o desejo de compartilhar e, às vezes, de não dividir. Quantas similaridades entre o amor e o vinho e quanto se precisa desse amor –e também de vinho, por que não–, neste momento da história?
Quanto custa o amor?
Quanto custa um vinho?
O amor custa. Ele custa o “preço” que você está disposto a pagar. Como ter uma trepadeira de flores lindíssimas, mas que caem constantemente e sujam o chão, que tem de ser limpo. Como uma criança que nos exaure, mas que quando te abraça e diz eu te amo faz sua energia voltar. Quer flor, tem de varrer, quer amor, tem de cuidar, quer filhos, tem de cuidar muito, quer tudo? Só se for tudo no seu tempo, ao mesmo tempo, não dá. O amor toma tempo. Quanto tempo para produzir um vinho e ele chegar às suas mãos? Champanhe passa nas mãos de, pelo menos, umas 48 pessoas até chegar ao consumidor.
Duas questões de similaridades.
Já se foi o tempo em que as pessoas não tinham a cultura do vinho, conhecimento e acesso. Agora, a tendência é descomplicar. Os restaurantes sempre tiveram margens exorbitantes, e os clientes não estão mais dispostos a pagar valores que podem chegar a quatro ou cinco vezes o preço do vinho. Com a descomplicação, o entendimento do mercado, os valores de “rasgar” dinheiro em mesas de restaurantes estão mudando rapidamente para o que é razoável. O consumo inteligente! O que antes era visto como glamoroso, ao se gastar fortunas em garrafas nos restaurantes, hoje é apenas visto como falta de conhecimento e valor do seu próprio dinheiro.
Agora que não temos restaurantes, essa percepção vai ficar ainda mais nítida.
O “cheap and chic” é uma corrente dentro deste contexto. Os consumidores de objetos e produtos de grande valor, como o vinho, estão divididos em dois grupos: os aspiracionais e os racionais. Os primeiros são os que sentem necessidade de pertencer a uma determinada comunidade e gostam de ser ostentosos. Mais do que o produto em si, compram o que ele pode simbolizar: segurança, êxito, prestígio. Os consumidores racionais são os que compram guiados pelo desejo e não por uma compulsão simbólica, são os que não necessitam se expor nem se validar através do que compram.
No cenário atual, os aspiracionais estão caindo, pois já não são considerados glamorosos, e os novos porta-bandeiras são os consumidores racionais. Não é necessário ser milionário para consumir luxo, pois o luxo, além de ser relativo, há de se acomodar nos valores. A tendência é pagar de acordo com o valor e, depois deste momento de reflexão profunda que estamos passando, a racionalidade, o respeito e o aterramento serão inevitáveis.
E o amor? Será mais descomplicado, como a tendência de se apreciar um vinho? Acredito que sim. O amor vai ficar mais nítido e leve como um rosé da Provence, misterioso como um sauvignon blanc Puilly-Fumé do Loire e aveludado como Puilly-Fuisse chardonnay da Borgonha. Mas ele nunca pode perder as borbulhas de um champanhe. Não se perca, se encontre.
Que o calor do vinho e a doçura do amor nos tragam um renascimento harmonioso.
Tchin tchin!
Carolina Schoof Centola é fundadora da TriWine Investimentos e sommelière formada pela ABS, especializada na região de Champagne. Em Milão, foi a primeira mulher a participar do primeiro grupo de PRs do Armani Privé.
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