Passada a primeira onda de perplexidade diante da pandemia, a indústria da moda se movimenta. Como já mostramos aqui, são inúmeras as iniciativas de auxílio humanitário além de medidas que estão sendo planejadas nos home offices de Milão, Paris e Nova York com foco em lançamentos e coleções mais enxutos, assertivos em em novos formatos.
Foi pensando nesse novo momento e além, que conversei minha amiga Costanza Pascolato, o verdadeiro oráculo da moda brasileira. Com uma carreira de cinco décadas – como editora, consultora e também empresária do setor têxtil – não vejo ninguém mais equipado para analisar a “big picture”, como ela mesma gosta de dizer, de um cenário pós-pandemia.
Ao mesmo tempo, Costanza não vê grandes mudanças no perfil do consumidor médio: “Acredito que não vai haver um grande despertar da hipnose dos excessos da era industrial. Quem é básico vai continuar básico e quem é exagerado, vai continuar exagerado, apenas com mais parcimônia”. Sobre as tão festejadas escolhas determinadas pela consciência ambiental e social, ela se mostra um tanto cética, apontando apenas a geração ultra jovem como portadora desse perfil mais atento e exigente: “Afinal, eles já cresceram conscientes”, justifica.
Sucesso mesmo será o e-commerce que “simplesmente vai explodir”. Enquanto o Brasil, “vai se reorganizar à sua maneira, porque assim como cada país lidou com a pandemia de um jeito diferente, nosso país tem sua própria história, sua própria tradição e seu próprio DNA”, conclui.
Depois de conversar com Costanza, quis ouvir outra importante fonte fashion nacional, o professor e pesquisador de História da Moda João Braga (FAAP e Santa Marcelina), que pensa o assunto no contexto de comportamento e sociedade. Autor de 12 livros sobre o assunto, ele também considera os excessos da moda, fazendo um link com acontecimentos do passado: “Em História, uma coisa que sabemos é que excessos sempre são prenúncios de decadência. Foi assim no Império Romano, na França da corte de Versalhes e no mundo da Revolução Industrial, que acabou na Primeira Guerra Mundial. Nós, até outro dia, estávamos vivendo em um mundo de excessos, no âmbito social, econômico e ambiental. Vejo essa pandemia como um alerta significativo”, diz o professor.
Para o professor, o movimento slow fashion – com foco na priorização da produção, na diversidade e na consciência socioambiental – pode desempenhar um grande papel, uma vez que não haverá tanto capital disponível, porém será necessário movimentar o mercado. E observa: “Só não podemos dizer que vamos voltar ao normal, porque não estávamos vivendo o normal”.
Em um dos meus canais favoritos para informação de moda, o portal inglês “The Business of Fashion – BoF”, para os íntimos – ouço um podcast interessantíssimo com a holandesa analista de tendências Li Edelkoort, declarando que “o vírus vai desacelerar tudo”. Gosto de acompanhar o pensamento dessa fera do mercado, que presta consultoria para marcas como Lacoste, Galleries Lafayette, L’Oréal e Coca-Cola. Nesse mesmo podcast ela vislumbra uma paralisação na produção de bens de consumo e dispara: “É terrível e ao mesmo tempo maravilhoso, porque precisamos parar de produzir nesse ritmo frenético”, foi categórica.
Já outra voz poderosa no mundo da moda nos últimos tempos, o relações-públicas francês Lucien Pagès, diz não ver conflitos entre as mudanças que virão e a natureza da indústria: “A moda muda de acordo com os impactos sofridos pelo mundo, porque absorve tudo. Temos que inventar o futuro. Esse é o nosso trabalho”.
Sintetizando todos esses pronunciamentos, a mensagem é muito clara: “Mãos à obra!”.
Siga FORBES Brasil nas redes sociais:
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.