Vexame e Incompetência
Quando a crise da covid-19 passar, precisa ser formada nos EUA uma comissão nacional e apartidária para analisar de maneira detalhada o fracasso letal dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (órgão conhecido pela sigla CDC, em inglês) em lidar adequadamente com a chegada desse vírus mortífero. Desde que o 11 de setembro expôs as terríveis deficiências nas operações de nossos órgãos de inteligência, nunca um órgão governamental essencial tinha falhado tanto em sua missão.
No fim do ano passado, ficou claro que um vírus sinistro estava à solta na China. Em dezembro, esse fato era de conhecimento público. A reação do CDC foi negligentemente lenta. O fundamental, de imediato, era disponibilizar exames de diagnóstico para que, se (ou quando) o vírus chegasse, pudéssemos avaliar rapidamente sua dimensão e virulência. Mas o CDC fez corpo mole em vez de trabalhar com um senso de emergência aguda, em conjunto com laboratórios particulares e empresas de saúde, para criar e distribuir ferramentas eficazes o mais rapidamente possível. Atuou sozinho e com a pressa de uma tartaruga. Os procedimentos de triagem eram por demais onerosos e burocráticos. Como se tudo isso já não fosse absurdo, o primeiro kit de exames do CDC estava com defeito!
Só agora o setor privado está sendo plenamente mobilizado. A conferência de imprensa da Casa Branca na tarde da sexta-feira (13/3) com executivos de todos os principais varejistas, farmácias e empresas médicas mostrou ao povo norte-americano – e ao mundo – que, enfim, nós nos organizamos para a tempestade que se aproxima. O mercado de ações subiu.
LEIA TAMBÉM: Carolina Centola: O vinho e o amor no isolamento
Taiwan reconheceu a ameaça logo no início e tomou medidas resolutas, minimizando os danos. Com uma população quase sete vezes menor do que a dos EUA, a Coreia do Sul está realizando mais de 20 mil exames por dia, número superior ao total feito pelos EUA até o momento. Lá, a crise parece já ter atingido o pico. O dano causado pela obtusidade e a incompetência do CDC vai além da aflição e da morte imediatas. Também haverá consequências políticas, diplomáticas e econômicas.
Medidas Urgentes para a Economia
A economia está se contraindo à medida que o país entra cada vez mais em confinamento. Um número crescente de pessoas e empresas – solventes antes da crise do coronavírus – defronta-se com a insolvência financeira. Isso é denominado crise de liquidez, ou seja, ficar sem dinheiro porque a renda está diminuindo ou deixou de existir.
Suspensão do imposto sobre a folha de pagamento. Seria como uma folga desse imposto pelo resto do ano. Isso causará duas coisas instantaneamente: um reforço monetário imediato toda vez que os trabalhadores assalariados receberem um salário e tornará a mão de obra menos onerosa para os empregadores.
Cheques únicos de US$ 1 mil para pessoas físicas (exceto para os “ricos”). Normalmente, esse tipo de coisa é uma medida pavorosa. Já aconteceu antes como “estímulo” para a economia e nunca funciona porque é algo isolado. Mas, neste caso, o fato de não ser permanente é uma virtude. O motivo de tomar essa medida é que temos hoje, na economia, dezenas de milhões de pessoas que trabalham em meio período ou como autônomos. Não são assalariados e,portanto, não teriam a ajuda imediata da folga do imposto sobre a folha de pagamento. O governo deixou claro (no dia 17/3) que apoia essa ideia. O custo dessas medidas não será baixo mais de US$ 1,1 trilhão. Mas ponha isso em perspectiva: a economia perderá mais de US$ 1 trilhão em atividade, e as ações perderam mais de US$ 6 trilhões em valor.
Lidar com o congelamento do mercado de crédito. O mercado de papéis comerciais – dívidas de curto prazo emitidas por empresas – está deixando de funcionar. Isso faz com que as empresas recorram aos bancos a fim de obter empréstimos para permanecerem solventes. No entanto, os bancos precisam vender ativos para levantar esse dinheiro, ou então tomar empréstimos do Federal Reserve. Além disso, os fundos do mercado financeiro, normalmente os grandes compradores de papéis comerciais, não estão comprando porque os acionistas estão tirando seu dinheiro. Por sorte, os bancos estão infinitamente mais fortes hoje do que em 2008. O Fed finalmente está fazendo o que fez em 2008: abrindo uma linha de crédito que envolverá a compra de papéis comerciais diretamente de empresas solventes ou a concessão de empréstimos a essas entidades. Obviamente, a taxa de juros deve ficar acima das taxas do mercado, de modo que as empresas sejam incentivadas a explorar outras possibilidades antes de recorrer a essa entidade. O que é essencial aqui é a ousadia – a linha de crédito deve poder conceder empréstimos de curto prazo como tábua de salvação a companhias aéreas e outras empresas em dificuldades.
Essas são medidas essenciais. E devem ser executadas agora.
Steve Forbes, Editor-chefe da Forbes
Siga FORBES Brasil nas redes sociais:
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.